A imprensa, porta-voz dos interesses do imperialismo, apresentou ao mundo a operação que foi colocada em prática em 7 de outubro pela coalizão de grupos armados palestinos, liderada pelas Brigadas do Hamas, denominada “Dilúvio Al-Aqsa”, como um ato terrorista, buscando deslegitimar e criminalizar tal ação. A luta do povo palestino contra as forças de ocupação israelense não começou nos últimos meses; a resistência palestina remonta a mais de 75 anos de história, desde o início da colonização do território pelos sionistas, apoiados pelo imperialismo, em 1948.
O regime sionista foi imposto no território da Palestina com base na Resolução número 181, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 29 de novembro de 1947. A Primeira Guerra Árabe-Israelense, desencadeada pela declaração de independência de Israel em 14 de maio de 1948, consolidou a ocupação sionista na Palestina. Esse conflito foi um desdobramento da Guerra Civil na Palestina Mandatária, iniciada em 30 de novembro de 1947, marcando o fim da ocupação britânica. O resultado foi a Nakba, termo em árabe para se referir à “catástrofe”, que resultou no êxodo de mais de 711 mil árabes do território palestino.
Desde então, o povo palestino tem sido sistematicamente perseguido em seu próprio território, sofrendo expropriação de suas casas e terras, torturas, prisões e assassinatos pelas forças de ocupação israelenses. Nesse contexto, surgiram grupos de resistência armados, como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), sob a liderança do Movimento de Libertação Nacional da Palestina (Fatá, sigla em árabe), constituída em 1964. Três anos depois, em 1967, o regime sionista conquistou o controle de quase todo o território palestino, exceto a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, por meio da Guerra dos Seis Dias ou Terceira Guerra Árabe-Israelense.
O Hamas surgiu durante a Primeira Intifada, um levante popular de 1987 a 1993, com a degeneração completa do Fatá como resistência pela soberania da Palestina do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo, liderando a Segunda Intifada de 2000 a 2005. Por esse motivo, a organização é alvo de difamações e calúnias, apresentando-a como extremista e composta por fanáticos religiosos sanguinários. No entanto, essa caracterização poderia se aplicar ao próprio sionismo, um movimento religioso que defende o extermínio do povo árabe na Palestina, não fossem os interesses econômicos que são a verdadeira motivação para as atrocidades cometidas.
A propaganda sionista busca esconder que a ação do Hamas foi uma resposta aos bombardeios nos arredores da Mesquita de Al-Aqsa, considerada uma “linha vermelha” não apenas para os palestinos, mas para todo o povo árabe e muçulmano, por ser o mais importante território sagrado. Esse ataque israelense foi a gota d’água diante da constante situação de bombardeios e chacinas pelas forças de ocupação sionista.
Dentre os inúmeros crimes de Israel ao longo dos 75 anos de martírio do povo palestino, incluindo os massacres de Qibya em 1953, Kafr Qasim em 1956 e Hebron em 1994, destaca-se o dos Vilarejos da Galileia em 1976. Em 30 de março daquele ano, a população palestina protestou contra a criminosa decisão do regime sionista de desapropriar mais de dois mil hectares de terras dedicadas à produção agrícola em vilarejos próximos a Nazaré. A revolta popular palestina foi respondida com violenta repressão por parte das forças de ocupação israelenses.
Nesse episódio, seis palestinos foram assassinados, cerca de outros 100 ficaram feridos, e mais uma centena de pessoas foi presa pelas forças sionistas. Essa data ficou conhecida como o “Dia da Terra Palestina” e continua sendo lembrada pelo povo árabe em todo o mundo até hoje.
As terras palestinas expropriadas pelo regime sionista dão lugar a colônias israelenses, bases militares e outras construções ilegais. Diante dos crimes cometidos pelo estado artificial de Israel, quase 6 milhões dos 13 milhões de pessoas que compõem a população palestina se refugiaram para países vizinhos, e outras quase 1 milhão de pessoas em outros países. Agora, diante do bombardeio contínuo contra civis na Faixa de Gaza desde 7 de outubro, milhares de palestinos estão fugindo, configurando uma nova Nakba. A operação Dilúvio Al-Aqsa não se trata de uma ação terrorista do Hamas, mas de um combate à colonização do território da Palestina e à violência constante contra o povo palestino.