Recentemente a famosa Lojas Marisa está na mira das empresas com muita dificuldade econômica nos últimos anos. Os jornalões da burguesia em algumas matérias ressaltam esse aspecto, afirmando que a varejista Marisa entrou na Justiça pedindo a falência da empresa devido a dívidas de R$882.797,84. A MGM Comércio de Acessórios de Moda diz que a Marisa lhe deve R$ 363.562,44. Já a Plasútil Indústria e Comércios de Plásticos afirma que a varejista deve a ela R$ 173.501,42. A Oneflip Indústria e Calçados fala em uma dívida de R$ 345.733,98.
A Marisa será intimada para dar resposta em dez dias e poderá depositar integralmente os valores devidos para evitar a falência. Outra opção seria pedir recuperação judicial nesse período.
A negociação de uma dívida de mais de meio bilhão de reais com os bancos é o indicativo de que os empréstimos com esse setor de fato é o maior dos problemas das Lojas Marisa. Com juros nas alturas, até mesmo as grandes empresas se tornam inviáveis e muitas insolventes ao longo do tempo. Esse roteiro está sendo seguido à risca pelas Lojas Marisa.
Desde o golpe, com maior intensidade e ainda acelerado com a gestão econômica centralizada nas mãos de Campos Neto e sua taxa básica de juros nas alturas, a economia brasileira apresenta um quadro de degradação que já atinge empresas maiores e tradicionais, no comércio e especialmente indústria. O chamado “rentismo”, que dá prioridade a especulação financeira de bancos e outros agiotas nacionais e estrangeiros obriga o país a permanecer numa “eterna” recessão econômica.
As extraordinárias taxas de juros no Brasil têm um ponto de referência denominado de SELIC (sistema de liquidação e de custódia), também conhecido como taxa básica de juros da economia. Essa taxa básica orienta o percentual a serem negociados os títulos da dívida pública federal e que geralmente pagam acima da taxa básica, que já é a maior do mundo hoje. Quanto maior é a taxa de juros maior será a dívida pública federal porque o montante que remunera esses títulos vem do Tesouro Nacional (guardião do orçamento público federal) que passou a ser obrigado ao longo do tempo a repassar os recursos orçamentários do Estado brasileiro ao Banco Central que remunera os títulos negociados por ele. O Banco Central lança um título com uma determinada taxa de juros e os bancos e outros especuladores compram com o objetivo de lucrarem com os absurdos juros oferecidos nesses contratos com os títulos. Com isso, a dívida pública aumenta e cada vez mais consome uma fatia ainda maior do orçamento público, que ao invés de reverter em políticas públicas sociais e de infraestrutura caminha para pagar os donos dos títulos da dívida pública (geralmente bancos e aplicadores em fundos de pensão e investimento).
Mas, o impacto dessa política neoliberal desastrosa não permanece apenas no setor público e na cadeia de investimentos das empresas estratégicas brasileiras como também contamina o setor privado nacional. Até mesmo grandes empresas estão sentindo o impacto fulminante da política econômica reacionária administrada por Campos Neto no Banco Central.
Com a taxa básica de juros nas alturas a política creditícia se torna restritiva, os financiamentos às empresas e os investimentos inviabilizados devido a estratosférica taxa de juros. Quanto maiores os juros melhores condições os aplicadores terão para comprarem títulos públicos e lucrarem sem receio de riscos e perdas no “investimento”. Um custo de oportunidade que não existe em lugar nenhum do mundo, isto é, rentabilidade mais alta, custos e riscos baixíssimos ou inexistentes. Quem irá arriscar investir num projeto produtivo que exige uma alocação de capital muito elevada, num mercado incerto em termos de demanda e custos e riscos dos mais variados?
Empresas do ramo da indústria e comércio percebem nitidamente que a renda do brasileiro despencou nos últimos anos e os financiamentos tornaram-se inviáveis devido às enormes exigências e restrições. A taxa de juros penaliza duramente também os maiores grupos econômicos de alguns ramos de atividade devido a sua incapacidade de ampliar investimentos e arcar com os custos de produção.
O governo Lula impulsionado pela mobilização popular poderá reverter esse quadro, ao contrário de muitos que consideram a saída de Campos Neto do Banco Central negociável com o Congresso golpista e entreguista. O exemplo de uma grande cadeia de lojas nessa situação mostra o tamanho do problema a ser enfrentado em termos de mudança na política econômica, que hoje está centralizada no Banco Central do bolsonarista Campos Neto, herdeiro do mais famoso golpista da ditadura.