Para os trotskistas, que sempre defenderam a destruição da excrecência que é o Estado de Israel, um enclave imperialista imposto aos árabes para agir como uma polícia de todo o Oriente Médio, o rompimento de relações diplomáticas com o Estado sionista sempre foi uma coisa óbvia. Afinal, trata-se de uma ocupação ilegal, criminosa do território onde vive um povo há séculos.
A carnificina em curso, no entanto, coloca na ordem do dia a reivindicação de “fim das relações com o Estado de Israel” não apenas para as organizações trotskistas, mas sim para qualquer governo que seja minimamente democrático e que não seja um fantoche do Departamento de Estado norte-americano. O que Israel tem feito ao povo palestino supera, em uma série de aspectos, o que os nazistas fizeram na Segunda Guerra Mundial. O bombardeio da população civil palestina, população essa que sequer conta com um exército para sua proteção, já seria suficiente para prender todo o alto escalão do governo israelense por crime contra a humanidade.
As barbaridades de Israel são tão grandes que, mesmo os sionistas sendo integralmente apoiados pelo imperialismo norte-americano, o governo Netanyahu já está sofrendo várias sanções diplomáticas. Na terça-feira (31), o governo ultra-moderado de Luís Arce – tão moderado que está causando uma crise com os setores populares do partido que o elegeu – decidiu romper relações diplomáticas com Israel, tornando-se o primeiro país latino-americano a fazê-lo desde o começo do conflito.
“Exigimos o fim dos ataques na Faixa de Gaza, que até agora causaram milhares de mortes de civis e o deslocamento forçado de palestinos; bem como a cessação do bloqueio que impede a entrada de alimentos, água e outros elementos essenciais à vida, violando o Direito Internacional e o Direito Internacional Humanitário no tratamento da população civil em conflitos armados”, afirmou a vice-ministra das Relações Exteriores da Bolívia.
No mesmo momento em que a Bolívia rompia com Israel, o governo chileno convocou seu embaixador em Tel Aviv para falar sobre “as violações inaceitáveis do Direito Internacional Humanitário que Israel cometeu na Faixa de Gaza”, segundo um boletim do Ministério das Relações Exteriores. Chama a atenção que o governo Boric já sequer é um governo ultra-moderado, como o de Luís Arce, mas um governo pró-imperialista, que inclusive se chocou recentemente com o governo Lula por defender que os países latino-americanos condenassem a Rússia pela invasão da Ucrânia. O governo colombiano, chefiado por outro presidente bastante moderado, Gustavo Petro, que chegou a tentar formar uma organização pró-imperialista com Boric em oposição ao Foro de São Paulo, também convocou seu embaixador e afirmou: “Se Israel não parar o massacre do povo palestino, não poderemos estar lá”.
Ao mesmo tempo em que os governos ultra-moderados da América Latina ensaiam um rompimento com Israel, o Irã, que coleciona choques contra o imperialismo desde a revolução de 1979, pediu que países muçulmanos deixem de enviar petróleo e itens básicos a Israel até que os bombardeios em Gaza sejam interrompidos.
Há definitivamente uma forte tendência dos países que não estão diretamente sob a bota do imperialismo a romper as relações com o criminoso Estado de Israel. Isso, por sua vez, acontece por dois motivos: 1) as atrocidades dos sionistas ultrapassaram qualquer limite imaginável; 2) a esmagadora maioria dos países quer o imperialismo enfraquecido no Oriente Médio.
Diante desse cenário, é uma vergonha para qualquer governo que aspire alguma independência dos Estados Unidos manter as relações com Israel. O governo Lula deve seguir a tendência dos países oprimidos e não apenas romper as relações de Israel, como se valer de sua posição de destaque na Organização das Nações Unidas (ONU) e colocar em pauta os crimes do Estado sionista.