Escravos em 2023

Mais de 180 escravizados em colheita de uva em Bento Gonçalves/RS

Para os patrões, sejam da industria, seja do campo, só têm uma coisa em mente, suas contas bancárias sempre gordas e pra conseguir isso só com exploração dos trabalhadores

Em um artigo da CUT, da última quinta-feira (24), foi denunciado o esquema de aliciamento de trabalhadores do Nordeste para serem utilizados na colheita de uva, como também, para abate de frango em frigoríficos.

A partir de trabalhadores que conseguiram fugir do regime de escravidão, que relataram que foram cooptados por aliciadores de mão de obra, conhecidos como gatos, na Bahia e trazidos para a Serra Gaúcha para trabalharem para uma empresa que presta serviços a uma vinícola, é que foi realizada a operação ocorrida na cidade de Bento Gonçalves, município do Rio Grande do Sul, nas chamadas Serras Gaúchas.

Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), em conjunto com a PF, em apenas uma pousada localizada no bairro Borgo, foram encontrados 150 trabalhadores.

Segundo o gerente regional do MTE, Vanius Corte, a prefeitura da cidade está organizando um espaço para alojar de forma provisória os trabalhadores que foram resgatados. Eles devem ser encaminhados na tarde desta quinta-feira (23) ao Ginásio Municipal Darcy Pozza.

Depoimentos

Na mesma noite em que os fiscais foram no alojamento, pegaram as denúncias de cada homem colocado na condição de escravo, veja alguns dos depoimentos: a jornada diária era de 15 horas de trabalho, sendo das 5h às 20h, com folgas somente aos sábados. Um verdadeiro absurdo.

Os trabalhadores relataram ainda, que só podiam comprar produtos em um mercadinho em frente à Igreja Nossa Senhora do Carmo, com preços superfaturados e que o valor gasto era descontado no salário. Desta forma, eles acabavam o mês devendo, pois o consumo superava o valor da remuneração.

O caso foi denunciado por um grupo de trabalhadores que conseguiu fugir do esquema e procurar a PRF em Porto Alegre. Eles relataram aos policiais que foram cooptados por aliciadores de mão de obra, conhecidos como gatos, na Bahia e trazidos para a Serra Gaúcha para trabalharem para uma empresa que presta serviços a uma vinícola.

Havia o impedimento de sair do local e, se quisessem sair, teriam que pagar a suposta dívida. Os patrões, caso algum escravizado ousasse sair do local, ameaçavam os familiares, que moram, em sua maioria, no estado Nordestino.

Conforme o artigo da CUT, a reportagem do Pioneiro entrou na pousada, onde os trabalhadores estavam desde o dia 2 de fevereiro, e constatou que o local possui quatro andares de alojamento, com quantidade de camas que varia conforme o tamanho do quarto.

Alguns possuíam um beliche, outros três e quatro acomodações. Era possível observar colchões e chão sujos, além de forte mau cheiro. Segundo relato dos trabalhadores, os lençóis também não eram trocados.

Conforme o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), já foram feitas operações do mesmo tipo, neste ano, em Nova Roma do Sul, Caxias do Sul, Flores da Cunha e também em Bento Gonçalves. Dois locais que serviam como alojamentos foram interditados por apresentarem problemas de segurança em instalações elétricas, superlotação e questões de higiene.

Sem Registro na carteira

No total, foram vistoriadas 24 propriedades rurais nessas cidades e identificados 170 trabalhadores sem registro. As origens deles são, principalmente, baianos, argentinos e indígenas, alguns, inclusive, com menos de 18 anos de idade.

Segundo o gerente regional do MTE, Vanius Corte, o enfoque das ações fiscais, num primeiro momento, é a formalização dos contratos de trabalho e verificação das condições dos alojamentos.

Impunidade

Segundo a reportagem, o aliciador é um homem de 45 anos, natural de Valente (BA), que foi preso. Ele era o responsável pelas contratações dos resgatados que trabalhavam na colheita da uva para vinícolas.

Parece que estamos vivenciando a situação dos senhores de engenho, do período colonial, no entanto estamos em pleno século XXI e, da mesma forma que os senhores de engenho eram impunes, os latifundiários, senhores de escravos de 2023 continuam atuando impunemente.

É preciso punir, tanto os que aliciam, mas também, os seus patrões “senhores” latifundiários que contratam as empresas laranjas, que atuam em conjunto com eles.

As direções do movimento operário devem tomar a frente dessa luta, dentre eles, os movimentos sem-terra, a CUT etc.

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