Neste último final de semana ocorreu a III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, um evento que reuniu toda a vanguarda do movimento operário brasileiro e até internacional, a fim de organizar a luta dos trabalhadores para o próximo período. Dentre as organizações e movimentos importantes que participaram, tivemos uma grande intervenção dos índios e de todos o movimento de luta pela terra. Várias etnias, com índios de todo o Brasil participando em peso, como os companheiros de Dourados-MS, que levaram uma caravana inteira até São Paulo para defender suas reivindicações.
O caráter amplo desta Conferência pode ser observado pela sua variedade, de militantes de partidos e comitês, até companheiros da luta por moradia, por terra e muitos outros setores do movimento popular. Neste sentido, é de extrema importância a participação dos índios, que são diariamente massacrados pelas mãos dos latifundiários e lutam arriscando suas vidas pela sobrevivência e pelo seu direito à terra.
Um dos grandes destaques foram os companheiros de Dourados, no Mato Grosso do Sul, que vieram não só para representar sua etnia — majoritariamente guaranis-caiouás —, mas os índios de todo o país. O companheiro Valderi Garcia, liderança do movimento na região, declarou, em entrevista ao Diário Causa Operária:
“Nós, indígenas, estamos vendo que o Brasil inteiro está se mobilizando pela causa indígena. E isso é muito bom”
A fala do companheiro reforça a importância da realização de um grande evento, para agrupar as mais diversas lutas. É um meio importante para unificar as forças, reunindo índios de diversas regiões do País, uma forma de demonstrar a potência do movimento. Uma das principais lutas do momento é a questão do marco temporal: “no artigo do índio está garantido o nosso direito à nossa terra para tomarmos posse ali, usufruir do fruto. E eles querem mudar”, disse Garcia. O companheiro aproveitou para denunciar os motivos por trás dessa política criminosa:
“É um projeto de lei dos parlamentares, que tem terra grilada, tem lavoura, são proprietários de terras grandes, que querem só enriquecer, não pensam na comunidade, não pensam na classe mais baixa, na classe da pobreza. Então eles querem só para eles”.
Os companheiros em luta em Dourados enfrentam uma situação grave com a burguesia e os latifundiários. No mês passado, Magno Souza, ex-candidato ao Governo do Mato Grosso do Sul, foi preso, com mais outros 8 companheiros. Valderi denunciou que os índios foram presos porque “são pessoas de luta”:
“Para perseguir a nossa luta, eles inventaram que o nosso patrício tinha cometido roubo, tinha cometido agressão e levaram eles presos. Mas graças a Deus já está resolvido essa questão. Ainda resta um que está lá, mas a gente vai lutar para conseguirmos colocar ele em liberdade.”
Na delegação do Rio de Janeiro, esteve presente também os índios da Aldeia Maracanã, uma ocupação de índios que há anos luta pela sua existência, num grande conflito com a Justiça golpista. O companheiro Lucas, da etnia mundurucu, do Pará, que vive atualmente na Aldeia, reforçou a importância do encontro nacional: “é importante estar articulado com todos os setores da sociedade porque é uma luta de todos os povos”
Na ocasião, denunciou também o marco temporal:
“Estamos nessa luta para a demarcação das nossas terras e principalmente contra o marco temporal, que é uma estratégia genocida do Estado contra os indígenas.”
Da Aldeia Maracanã, estiveram presentes também companheiros da etnia tupiniquim e outros grupos, que estiveram presentes trazendo suas artes e produtos fitoterápicos, numa forma de também divulgar suas culturas.
Unificando a luta pela terra
Com índeios de todo o País, o evento serviu como um importante meio para fortalecer a luta pela terra, contra o latifúndio. Com mais de 40 índios de Dourados e muito mais, de várias outras regiões do Brasil, foi uma forma de intensificar a denúncia dos ataques sofridos por esses povos, que lutam dia após dia contra o Estado burguês, contra a polícia e contra a direita golpista, dando um grande exemplo de resistência.
A Conferência configura um palco não só para a denúncia, mas para uma organização real da luta dos índios, uma iniciativa para discutir e traçar um plano prático em defesa de suas reivindicações.
Com a volta da discussão por conta do julgamento do marco temporal, política criminosa da burguesia para tirar a terra dos índios, faz-se extremamente necessário a realização de um plenário para levar essa luta às últimas consequências e organizar uma ampla campanha para defender o direito à terra pelos índios.
Essa luta pela terra se soma às demais lutas do movimento operário, desde a luta sindical das categorias, por salário e emprego, até a luta por moradia. A unificação a luta dos trabalhadores da cidade e do campo é a nossa arma contra a direita golpista.