Na terça-feira (18), último dia do encontro de cúpula da CELAC-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos com a União Europeia), que aconteceu em Bruxelas, o presidente do Chile, Gabriel Boric, chamou as lideranças latinas a condenar a Rússia pela guerra contra a “Ucrânia”. E, na coletiva de imprensa, provocado a comentar sobre a intervenção do líder chileno, o presidente Lula declarou que “não se passou dois dias discutindo a guerra na Ucrânia” e que, possivelmente, “a falta de costume de participar dessas reuniões faça com que um jovem seja mais sequioso”.
Diante da situação criada na capital da Bélgica, o colunista do portal Brasil 247, Alex Solnik, considerou que os jornalistas teriam sido “bonzinhos” com o presidente brasileiro na coletiva de imprensa e publicou “Perguntas que Lula terá que responder um dia”, a principal delas questiona se Lula mandaria prender Putin.
Antes de discutir a indagação feita pelo colunista, cabe explicar que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi condenado por “crimes de guerra” na Ucrânia pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, na Holanda. Essa condenação impediria a participação de Putin na reunião de cúpula do BRICS a ser realizada, no próximo mês de agosto, na África do Sul, país signatário do TPI. Apesar disso, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, havia defendido que o encontro das lideranças dos países do bloco deveria ocorrer presencial e que garantiria imunidade para que o líder russo pudesse visitar o país.
Porém, na quarta-feira (19), Ramaphosa anunciou que Putin não participará da reunião do grupo, assim, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que neste ano já esteve em visita ao Brasil e também na Venezuela, países que deseja ingressar no BRICS, estará representando a Rússia. A decisão apresentada como um acordo mútuo do bloco se deu depois da forte pressão da oposição pró-imperialista contra Ramaphosa no país. O presidente sul-africano foi obrigado a prestar esclarecimentos ao Tribunal de Superior de Joanesburgo sobre a insubordinação ao TPI.
A reposta à pergunta de Solnik é muito óbvia, o presidente Lula não mandaria prender Vladimir Putin assim como seu homólogo sul-africano. Porém, muito provavelmente, o líder brasileiro, no lugar de Ramaphosa, sofreria a mesma pressão por parte dos lacaios do imperialismo no Brasil que estão fora e dentro do governo. Além disso, o conjunto da esquerda pequeno-burguesa brasileira – que assim como Boric ataca os governos de Cuba, Nicaragua e Venezuela e que defende os interesses do imperialismo contra a Rússia na guerra Ucrânia – faria coro com a direita e a extrema-direita para atacar o presidente Lula como aconteceu na última visita de Nicolás Maduro ao Brasil.
O presidente Lula tem apresentado uma política de oposição aos interesses do imperialismo, não somente diante da guerra na Ucrânia, ao proibir o fornecimento de munições para tanques ucranianos, mas também diante das sanções econômicas contra países atrasados, se opondo ao uso do dólar como moeda oficial em transações internacionais e defendendo a integração desses estados soberanos ao grupo de países do BRICS. No entanto, um enfrentamento dessa natureza dependeria de condições muito especiais, onde as massas populares estivessem radicalizadas contra qualquer tipo de ingerência do imperialismo no país.
O jornalista do 247, repetindo a propaganda imperialista, condena a Rússia por entender que um país não deveria “comandar uma invasão contra outro”. A questão, no entanto, é que a guerra não foi provocada pela invasão russa. Este foi apenas uma reação defensiva dos russos diante da ameaça da OTAN, usando a Ucrânia como bucha de canhão. Essa posição não considera a situação de conflito dentro da própria Ucrânia, a proclamação de independência das regiões Donetsk e Lugansk, a ameaça que a presença da OTAN na região e o contexto de sanções econômicas contra a Rússia.
Neste sentido, é preciso esclarecer que Boric é um capacho do imperialismo ávido por recompensas. Já Solnik, esse sim, podemos considerar nada mais que uma verdadeira criança comparado ao Lula, no que diz respeito a compreensão da política internacional.