Um setor da esquerda pequeno burguesa aderiu à campanha golpista contra Lula, assim como fizeram com Dilma em 2016. A sua tese é de que Lula é um capacho do imperialismo e por isso é preciso combater o seu governo. Para justificar essa tese vale tudo, e a viagem do presidente aos EUA foi última justificativa usada pela Esquerda Marxista. Em seu sítio, a corrente publicou o artigo “Diga-me com quem andas e eu te direi que governo és” que tem como único objetivo ter algum argumento para o ataque da EM ao presidente Lula.
O texto começa: “O encontro em Washington de Lula com Joe Biden nesta sexta-feira (10/2) diz muito mais sobre o novo governo conformado em janeiro do que os discursos de seus representantes. A mensagem do novo presidente brasileiro precisa ser clara quando se trata de lidar com o representante da burguesia hegemônica na economia e na política mundial.” Sobre isso e sobre o próprio título do artigo já vale um destaque. A primeira visita de Lula foi a Argentina para a CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) organização que unifica as nações oprimidas do continente sem os EUA. Mas para a EM, Lula andar com os países latino americanos não diz nada sobre ele.
O artigo segue: “O convite de Biden deixa claro que a forma democrática de governo é a que interessa à atual gestão do imperialismo americano, e é a orientação que espera tanto dos políticos quanto dos militares brasileiros. O eixo político central utilizado pela atual gestão dos EUA é o domínio por meio da eleição democrática dos seus aliados.” Aqui já começa o absurdo. O governo de Joe Biden é um dos mais agressivos da história dos EUA na política internacional, foi ele quem organizou o golpe de Estado no Peru em 2022. É ele que esta por trás da “lava jato” argentina que tenta remover Cristina Kirchner das eleições. É ele que financia os fascistas bolivianos que destabilizam o governo do MAS. Foi também durante o governo Obama-Biden que quase todos os golpes recentes foram dados na América Latina, a exceção da Bolívia em 2019.
Então a EM afirma que: “os alinhamentos econômicos de Bolsonaro estavam ligados a setores nacionais e internacionais que não correspondiam exatamente aos setores americanos expressos por Biden e a atual gestão da Casa Branca.” e que “Já Lula apresenta uma orientação muito diferente em relação aos interesses da gestão Biden.” Assim, a tendência passa a impressão que o governo Lula seria mais alinhado com o principal bloco do imperialismo, o de JoeBiden, do que Bolsonaro, uma tese muito extravagante. Para embasar essa tese, o texto cita a escolha dos ministros que Lula levou para a visita aos EUA.
Para a EM: “A presença de Haddad transmite a mensagem clara de que o Brasil continua fiel a seus compromissos internacionais. Isso significa, em primeiro lugar, que o governo irá manter o pagamento da dívida pública interna e externa, ainda que ao custo de consumir de 40% a 50% das receitas da União e de estrangular a Nação.” Seria bom uma explicação melhor sobre a relação de Haddad e o pagamento da dívida pública e não apenas um ataque vago. Mas vale destacar que Lula está em uma verdadeira batalha para diminuir a taxa de juros do Banco Central, para não pagar a dívida trilionária que parasita o Brasil, a guerra seria milhões de vezes maior. Uma guerra que nenhum ministro pode sustentar, só a mobilização da classe operária. Importante destacar também que Haddad em nenhum momento se colocou como defensor da política neoliberal.
Depois ele passa a criticar Marina: ‘Marina expressa a orientação das burguesias imperialistas de desenvolver um capitalismo verde. O novo governo espera assim atrair capital imperialista que se apresente como sustentável para investir em atuais e novas empresas que produzam mercadorias com selo verde no Brasil.” Aqui também a EM passa longe da realidade. Primeiro por não citar que Marina Silva tem ligações com George Soros e o Banco Itaú, que de longe é o seu maior problema. Segundo, por errar qual é a principal questão do ambientalismo imperialista, não é o capitalismo verde, mas sim o saque as riquezas nacionais, principalmente da Amazônia. A EM que quer chamar Lula de imperialista nem mesmo sabe como o imperialismo se infiltra no governo Lula.
Em terceiro, a crítica a Anielle Franco: “Com Anielle Franco fica evidente a diretriz de estimular e se apoiar em políticas identitárias para pautar o debate sobre questões sociais. A ministra explicou que sua prioridade no encontro com Biden seria retomar um plano de ação conjunto entre EUA-Brasil, assinado em 2008, que pretendia terminar a discriminação racial e étnica e promover a igualdade.Tal propósito é escandaloso, ainda mais ao ser levado a discussão no terceiro ano da gestão Biden. Já está bastante explícito o conteúdo reacionário do que entendem por “direitos humanos” o senhor e a senhora da guerra Biden e Kamala Harris.” Novamente a EM não cita que Anielle é funcionária da Open Society. Há um leve ataque ao identitarismo, mas o problema indicado não é na intervenção dos EUA no Brasil, mas sim que Biden não é humanitário de fato. A política correta, principalmente se a crítica é o suposto pro imperialismo de Lula, seria se colocar abertamente contra a interferência dos EUA, de suas ONGs, principalmente, no Brasil.
Por fim criticam Mauro Vieira, o problema seria seu discurso nos EUA: “Trata-se de uma política de maior integração brasileira aos organismos de dominação imperialista internacionais e de cooperação com o imperialismo americano. Essa aproximação acontece depois das viagens de Lula para Argentina e para o Uruguai, onde se demonstrou a disposição do governo brasileiro em avançar na negociação do acordo entre o Mercosul com a União Europeia em detrimento da China.” Eles citam que o Brasil deseja a presidência do G20 e uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, algo que está bem longe de algo imperialista, visto que aumenta a projeção internacional do Brasil.
Na prática o que a EM afirma é que todos os ministros de Lula são direitistas que querem vender o Brasil para os EUA. Eles não tem a capacidade de diferenciar Haddad de Mauro Vieira e de Marina Silva e Anielle Franco. É uma análise totalmente rasa que, na verdade, parte de uma conclusão prévia: “se Lula é imperialista, seus ministros são imperialistas”. Primeiro, e mais importante, Lula está à esquerda de todos os ministros e ele quem tem a última palavra. Segunda existem diferentes blocos diferentes no ministério, Marina e Anielle são do bloco pró imperialista, ambas financiadas pessoalmente, Mauro Vieira foi removido do governo por Temer, portanto, não pode ser considerado um capacho do imperialismo. Já Haddad faz parte do núcleo petista dos ministérios que Lula escolheu a dedo.
O texto então conclui: “O problema começará quando Lula e sua seleção ministerial voltarem ao Brasil e entrarem em campo para enfrentar os problemas da sociedade brasileira e colocarem seus planos em prática.” Aqui vale voltar ao ponto citado acima, Bolsonaro não estaria alinhado com Biden, mas com Trump já Lula estaria mais alinhado e o texto explicaria o porquê. Chegando no fim do artigo não há explicação, é uma enrolação para a EM se manter na tese do Lula imperialista. Não há embasamento nenhum, o próprio texto cita aspectos positivos do governo, a ida a CELAC, o G20 o Conselho de Segurança da ONU. É um argumento infantil no fim, todos que visitam os EUA estão se vendendo para o imperialismo, esquecem que até Fidel Castro e Che Guevara visitaram os EUA.
A Esquerda Marxista cita alguns problemas do Brasil e não consegue compreender que Lula é uma enorme ferramente dos trabalhadores para superar esses. Ele é o presidente com a maior relação com a classe operária em toda a história do Brasil. Foi eleito dessa vez pela luta da classe operária e não por acordos com a burguesia, portanto, tem um governo com um potencial gigantesco a esquerda. Por isso a direita orquestra um golpe para derrubá-lo, assim como fizeram com Dilma, e por isso a esquerda golpista, como a EM, faz um trabalho pérfido ao taxar Lula de aliado dos EUA, enfraquecendo a luta em defesa de seu governo.
