Entre os dias 19 e 21 de maio ocorreu 49º encontro do Grupo dos Sete, mais conhecido como G7, fórum político intergovernamental composto pela Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia. O evento, que teve foi sediado em Hiroshima (Japão).
Havia muita expectativa de como se posicionaria o presidente Lula durante o encontro. Aqueles que mais uma vez esperavam dele uma política submissa perante os membros do G7, ou seja, perante o imperialismo, decepcionaram-se profundamente.
Novamente, Lula manteve as posições que vêm adotando desde o início de seu governo, posições de choque com os Estados Unidos e demais estados imperialistas. Consequentemente, a cúpula do G7 serviu para acirrar as contradições entre Lula e o imperialismo.
Críticas ao FMI e ao Neoliberalismo
Reiterando posicionamento que vem assumindo desde o início do governo, o mandatário fez duras críticas ao Fundo Monetário Internacional, apontando que sua política nefasta de endividamento de nações inteiras é “causa de desigualdade gritante e crescente”.
No mesmo sentido, criticou a política de Estado Mínimo defendida pelos partidários do neoliberalismo, e que os problemas crônicos do desemprego, pobreza, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação só podem ser resolvidos com um Estado indutor de políticas públicas voltadas para a garantia de direitos fundamentais e do bem-estar coletivo.
Não é segredo que o FMI é um órgão controlado pelo imperialismo para manter a economia dos países oprimidos a serviço dos monopólios do capital financeiro.
Portanto, a declaração de Lula colide com os interesses dos países imperialistas.
Desdolarização
Repisando as movimentações que já havia feito quando de sua vista à China, Lula reiterou que os países oprimidos deveriam passar a fazer transações com suas próprias moedas, afastando-se do dólar. Em suas palavras:
“Não é possível ficar dependendo de uma moeda que você não produz. Eu sonho com a construção de várias outras moedas entre países que tenham grande comércio para que a gente não seja dependente só de uma moeda. Espero que o banco dos BRICS crie uma moeda, como o euro. É só a gente ir criando as condições políticas e econômicas para fazer isso”.
Se antes sua declaração havia sido feito na China, agora ela foi feita perante os mandatários das potências imperialistas, em um encontro comandado por eles.
O que significa que o peso e as consequências dessa nova declaração são profundamente maiores.
Críticas ao Ambientalismo Imperialista
Ao abordar a questão climática e ambiental, Lula denunciou (à sua maneira), a conduta hipócrita dos países imperialistas, dizendo que muitos líderes de países desenvolvidos se limitam a fazer discursos eleitoreiros, mas nunca cumprem os compromissos firmados. O presidente aproveitou para questionar:
“O Protocolo de Kyoto existe há quanto tempo? O Acordo de Paris existe há quanto tempo? E quantos países os cumpriram?”
Ademais disto, chamou de “falsa dicotomia” a oposição entre crescimento e proteção ao meio ambiente, indo de encontro a política ambientalista do imperialismo, que serve tão somente para barrar o desenvolvimento dos países oprimidos.
Será mera coincidência que ele tenha dito isto na mesma semana em que Marina Silva barrou a pesquisa da Petrobrás de poços de petróleo na foz do Amazonas? Provavelmente não.
Contudo, estas não foram as únicas críticas que Lula teceu aos EUA e à Europa.
Guerra na Ucrânia – Política de paz permanece
Embora tenha afirmado que não foi ao G7 com o objetivo de discutir a guerra, Lula manteve-se coerente com a mesma política apresentada desde o início da operação militar especial russa. Defendeu a política de paz para a região, o que contraria a atitude belicista do imperialismo.
Nesse sentido, teceu críticas ao Conselho de Segurança da ONU, propondo a reforma do órgão tanto ao seu secretário-geral (Antônio Guterres), quando ao próprio G7, na ocasião de seu discurso durante a sessão 8. Segundo o presidente:
“A falta de reforma do Conselho de Segurança é o componente incontornável do problema. O Conselho encontra-se mais paralisado do que nunca. Membros permanentes continuam a longa tradição de travar guerras não autorizadas pelo órgão, seja em busca de expansão territorial, seja em busca de mudança de regime. […] O resultado é que hoje temos um Conselho que não dá conta nem dos problemas antigos, nem dos atuais, muito menos dos futuros”.
Em outras palavras, Lula esteve na cova do leão e assumiu uma posição desafiadora ao imperialismo, haja vista que o Conselho Segurança é usado pelos países imperialistas para sancionar e referendas guerras e invasões contra países oprimidos (na medida em que conseguem fazer isto, já que dois dos membros permanentes são países oprimidos: China e Rússia).
Não é segredo que o imperialismo, em especial o EUA e o Reino Unido, desejam a continuidade da guerra, com vistas a desgastar internamente o regime político Russo. Uma vez que estivesse suficientemente desgastado, eles interviriam derrubando Vladimir Putin e a burocracia do Estado russo, substituindo-os por lacaios pró-imperialistas. Uma balcanização do gigante do leste europeu também não estaria fora de questão.
Portanto, a política que Lula defende (paz no leste da Europa), colide frontalmente com os interesses do imperialismo. E o presidente reiterou essa política no G7. E aproveitou para tecer críticas a Joe Biden, em coletiva posterior:
“Ontem [domingo] vocês viram o discurso do presidente Biden, que não fala em paz, ou seja, ele fala que a Rússia tem que sair [da Ucrânia], e não sei se vai acontecer. Então tem uma parte que quer guerra e outra que quer a paz, e espero que a parte que quer a paz saia vencedora disso”.
E, a cereja do bolo que confirma a posição antiimperialista que vem sendo adotada por Lula, e que ficou novamente clara por ocasião do G7, foi o perdido que ele deu em Volodymyr Zelensky.
A situação na Ucrânia está desesperadora para o imperialismo e seus asseclas (sendo Zelensky um deles). A derrota parece se aproximar cada vez mais. Sábado o grupo Wagner anunciou a tomada da cidade de Bakhmut, isto após uma intensa propaganda de uma suposta ofensiva ucraniana, que iria esmagar os russos.
Com a situação cada vez mais insustentável para o regime ucraniano fantoche do imperialismo, Zelensky vêm viajando por todo o mundo em busca de apoio. Esteve na Itália, conversou com o Papa; participou da cúpula da Liga Árabe em busca de angariar apoio; vem tentando se aproximar da China. E agora, com a visita “surpresa” ao G7, tratou de correr atrás de Lula.
No entanto, subestimou a experiência política de Lula, que antecipou suas manobras e o deixou a ver navios. Ao final das contas, a tentativa de Zelensky de fazer Lula voltar-se contra Putin, e colocá-lo a serviço do imperialismo, fracassou miseravelmente.
Conclusões
Em mais um episódio da política externa nacional, o presidente Lula se manteve firme em sua política externa de defesa dos interesses nacionais do Estado Brasileiro. Pode-se dizer até mesmo uma política antiimperialista.
O que vimos no G7 é a continuidade das posições que vêm sendo adotadas pelo governo desde o início do ano, dentre as quais podem ser citadas: o veto ao envio de armamento brasileiro para Ucrânia; a recusa a votar na ONU resoluções condenando a Nicarágua e Rússia; o questionamento na ONU à investigação do imperialismo que culpou o governo sírio por ataque realizado contra a própria população em 2011; o esforço por um acordo de paz na Ucrânia, frisando que os EUA e a Europa Ocidental devem parar de fomentar a guerra; ter recebido Sergey Lavrov no Brasil; ter se posicionado contra o FMI e a dolarização da economia mundial, inclusive fazendo acordos com a China para comercializar em Yuan etc.
Ao manter essas posições, Lula se firma como um líder nacionalista e forma bloco (à sua maneira) com China, Rússia e demais países oprimidos no enfrentamento ao imperialismo.
Como consequência disto, no futuro próximo as contradições entre ele e os EUA e a Europa tendem a ficarem mais agudas, podendo levar a um conflito de caráter mais explícito.
Devemos estar preparados para iniciativas golpistas por parte do imperialismo contra o governo Lula, iniciativas estas que só poderão se barradas e derrotadas através de uma mobilização de massas dos trabalhadores, a qual já deve começar de imediato.