Dilma Rousseff, derrubada no golpe de 2016, assumiu na última quinta-feira a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o banco dos BRICS. A importante missão de impulsionar o desenvolvimento econômico dos países capitalistas atrasados recaiu sobre uma vítima direta do intervencionismo imperialista na política brasileira. E em seu discurso no evento, Lula destacou que para além da questão identitária a posse de Dilma nesse empreendimento tinha importância histórica por conta da militância dela na luta contra a ditadura militar:
” Dilma Rousseff pertence a uma geração de jovens que nos anos 70 lutaram para colocar em prática o sonho de um mundo melhor – e pagaram caro, muitos deles com a própria vida. Meio século depois, o Novo Banco de Desenvolvimento surge como ferramenta de redução das desigualdades entre países ricos e países emergentes, que se traduzem em forma de exclusão social, fome, extrema pobreza e migrações forçadas. “
Em primeiro lugar, temos que destacar que a exaltação de Dilma como uma opositora aos militares golpistas da década de 1970 acontece em meio a crise entre o governo recém eleito e os militares golpistas de hoje. A lembrança dos mártires da luta contra a ditadura é evocada diante da tomada de uma posição política muito distinta daquela que os golpistas impuseram para as relações exteriores do Brasil.
Dentro da atual conjuntura internacional, marcada pela crise da dominação imperialista, o Brasil se lança como um agente do aprofundamento dessa crise. Não por acaso, Lula estabeleceu nessa homenagem uma relação entre os problemas sociais do país com a política imposta pela ditadura, que em grande medida foi um instrumento que a burguesia imperialista usou para minar o desenvolvimento econômico brasileiro. A iniciativa dos BRICS se opõe frontalmente a essa política anti-nacional.
Em meio a uma prolongada crise econômica no coração do sistema capitalista, o NBD conta com capital de 100 bilhões de dólares. Os países envolvidos comercialmente com os BRICS terão ambiente favorável para o estabelecimento de relações econômicas de grande porte sem as desvantagens impostas pelo capital imperialista. Lula destacou esse importante papel que o NBD se propõe com a presidência de Dilma:
” O Novo Banco de Desenvolvimento tem um grande potencial transformador, na medida em que liberta os países emergentes da submissão às instituições financeiras tradicionais, que pretendem nos governar, sem que tenham mandato para isso. O banco dos Brics já atraiu quatro novos membros: Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Vários outros estão em vias de adesão, e estou certo de que a chegada da presidenta Dilma contribuirá para esse processo. “
Durante a ditadura militar, os generais lambe-botas dos capitalistas norte-americanos contraíram empréstimos desvantajosos e aceitaram que seus termos fossem ainda piorados antes de abandonarem oficialmente a presidência. O pouco de obras públicas realizado com esse dinheiro é usado até hoje para respaldar uma mistificação do governo militar, que seria “desenvolvimentista”. Toda a recessão econômica posterior à ditadura foi fruto desse crime de lesa pátria, levado a cabo por figuras autointituladas “nacionalistas”.
Assim como Bolsonaro, enquanto encenam com hino e bandeira operam a entrega do patrimônio nacional para os parasitas do mercado financeiro, prejudicando de maneira muito abrangente o desenvolvimento econômico brasileiro. Fator que impacta negativamente na sociedade como um todo, mas pesa mortalmente contra os trabalhadores mais pobres. A oposição da política de Lula a esse modelo de relacionamento internacional tem se mostrado uma das maiores virtudes desse começo de governo. Como discutido extensivamente neste Diário, a vitória da candidatura Lula significava necessariamente uma derrota para o golpe de 2016. A retirada do presidente indicado por Bolsonaro e a indicação de Dilma para a presidência do banco dos BRICS é muito significativa nesse mesmo sentido.