Às vésperas da viagem remarcada para a China, prevista para a próxima terça-feira (11), o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente chinês, Xi Jinping, devem assinar um texto prevendo 20 acordos, entre eles, um aguardado posicionamento conjunto em relação à paz no Leste europeu. A informação foi antecipada pelo colunista do portal Uol (pertencente à Folha de S. Paulo), Jamil Chade (“Lula e Xi negociam declaração conjunta de apoio à paz na Ucrânia”, 7/4/2023). Os mandatários das duas principais economias entre os países atrasados devem se encontrar no dia 14.
Segundo Chade, ambos os governos “negociam uma declaração conjunta, na qual vão defender uma saída negociada e pacífica para a guerra”, formando uma “agenda bilateral em estágio adiantado de negociações” (idem). Ainda de acordo com o colunista, “a negociação está ocorrendo pelo próprio Palácio do Planalto, com pouco envolvimento da embaixada do Brasil em Pequim” (idem), evidenciando a importância dada à questão pelo governo Lula.
A proposta brasileira de criação de um grupo de países neutros que negocie o fim da operação militar russa na Ucrânia e restabeleça a paz tem sido recebida com simpatia pelos russos, mas encontra forte oposição dos EUA e da União Europeia. Já as nações imperialistas, mesmo não estando diretamente envolvidas na guerra, exigem condições consideradas inaceitáveis pelo Cremlim para iniciar as negociações de um acordo de paz, tais como a retirada das tropas russas do território ucraniano.
O mandatário brasileiro chegou a assinar uma declaração conjunta com o presidente norte-americano, Joe Biden, condenando a incursão militar sobre a Ucrânia, mas tem se posicionado constantemente em apoio velado aos russos. Em maio de 2022, o então candidato Lula recusou a responsabilidade integral pela guerra a Vladimir Putin, dividindo-a com o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky (“Lula’s second act”, Ciara Nugent, Times), o que causou um escândalo na imprensa imperialista.
Em entrevista a jornalistas concedida no Palácio do Planalto no último dia 6, o petista voltou a adotar um método que tem se tornado característico do lulismo ao tratar da guerra na Ucrânia, criticando os russos de maneira abstrata, mas posicionando-se concretamente ao defendê-los:
“‘Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia. Talvez se discuta a Crimeia [grifo nosso]. Mas o que ele invadiu de novo, tem que se repensar [grifo nosso]. O [presidente da Ucrânia, Volodymyr] Zelensky não pode querer tudo [grifo nosso]. A Otan não vai poder se estabelecer na fronteira [com a Rússia] [grifo nosso]’, disse Lula” (“Por paz, Lula sugere que Ucrânia ceda Crimeia à Rússia”, Guilherme Waltenberg, Poder 360, 6/4/2023).
“A China tem peso”, continuou o petista, “o Brasil tem peso. Eu acho que a Indonésia pode participar, a Índia pode participar. Vamos lá conversar com o Putin, vamos conversar com o [presidente da Ucrânia] Zelensky, vamos conversar com o [presidente dos Estados Unidos] Biden. Vamos tentar ver se encontramos um grupo de pessoas que não se conforme com a guerra. Não é necessário ter guerra”.
Apesar de defender a participação dos americanos, Lula criticou a política do imperialismo para o conflito, dizendo que “essa conversa que está começando agora, deveria ter sido realizada há um ano”. Por fim, o presidente brasileiro disse estar “confiante” de conseguir emplacar sua proposta junto aos “amigos da China”:
“Estou confiante que quando voltar da China e você me fizer essa pergunta [sobre a guerra] eu vou dizer que está criado o grupo que vai discutir a paz, que é o que o mundo está precisando“, concluiu Lula (idem).
Apesar da manobra brasileira na nota conjunta assinada com Biden, a eventual formação de um acordo bilateral para que Brasília e Pequim adotem posições em bloco representará uma derrota do imperialismo e um deslocamento à esquerda da posição brasileira sobre o conflito. Como lembrado pelo supracitado Jamil Chade, “os chineses rejeitam qualquer referência acusatória contra a Rússia”, implicando no afastamento maior da principal nação latino-americana em relação a Washington, em um momento marcado pela crescente debilidade da dominação norte-americana no subcontinente, contrastando com a presença cada vez maior dos chineses no quintal da maior potência imperialista do planeta.