O bloco da esquerda golpista se cristaliza cada vez mais. O PSTU, que já vem experiente de 2016, agora tem ao seu lado não só o PCB, que realizou um ato de rua contra o governo Lula essa semana, como também o MRT. Essa organização, em seu jornal Esquerdai Diário realizou uma entrevista com Raquel Tremembé, militante da APIB, da CSP-Conlutas, e ex-candidata a vice-presidenta pelo PSTU em 2022. Ela, que é supostamente ligada a luta indígena, faz parte de uma campanha que tenta pintar Lula como inimigo dos índios, um absurdo completo, tese que vem de fora do Brasil.
A entrevista concedida a Diana Assunção não tem um teor muito político, apenas um discurso vagamente esquerdista. Mas Raquel soltou uma declaração bombástica que foi utilizada até como chamada de título: “O governo Lula em menos de 200 dias rifou na primeira oportunidade os povos indígenas, o ministério dos povos indígenas. No Acampamento Terra Livre fortalecemos os nossos povos. Ele usou nosso palco ano passado como palanque e no primeiro momento ele nos rifou. Mas estamos ai, e agora precisamos de fato da mobilização”
É preciso deixar claro que essa entrevista acontece em meio a uma campanha golpista da esquerda contra o presidente Lula. Foram chamados atos contra o Arcabouço Fiscal e o Marco Temporal. Para uma pessoa que tenha um pensamento essas manifestações seriam contra o Congresso Nacional, responsável pela imposição da política fiscal dos bancos e pelo ataque aos indígenas, mas não é o caso. A esquerda golpista chamou essa mobilização contra Lula, como se o governo federal tivesse responsabilidade maior que o Congresso, algo surreal.
Se a questão do Arcabouço Fiscal ainda existe uma pequena justificativa, isto é, uma organização extremamente estupida poderia considerar que o arcabouço existe por causa de Lula e não por causa da direita que impõe a política econômica por meio do Congresso. Na questão indígena não existe um pingo de explicação. Todos sabem que Lula não é um inimigo do MST, da reforma agrária, da demarcação de terras indígenas. Ele inclusive voltou a demarcar suas terras, algo que não acontecia desde o golpe de Estado de 2016. Para taxar Lula de inimigo dos índios é preciso de um malabarismo gigantesco, coisa que Raquel e o MRT nem tentam fazer.
A tese desse bloco golpista é que Lula é um conciliador e, portanto, é inimigo dos trabalhadores. Em um momento revolucionário em que a classe operária está disposta a tomar o poder lideranças conciliadoras precisam ser ultrapassadas para que os trabalhadores tenham a sua vitória, mas isso está longe da realidade atual. Lula pelo contrário, em um clima sem grandes mobilizações, se coloca à esquerda da esmagadora maioria da esquerda nacional e principalmente do governo. Ele por exemplo está à esquerda de todos os ministros, em relação ao Congresso e ao STF então não há nem debate.
O presidente Lula está em uma clara rota de choque com a direita nacional e o imperialismo, sua política não está tão radical em grande medida pois ela está sendo sabotada por esses setores. Mas a esquerda golpista fecha os olhos completamente para essa realidade. Ela considera Lula um lacaio da direita, teima em chamar o governo de Lula-Alckmin quando claramente o vice não tem quase nenhuma relevância, a exceção de ser um possível golpista. Na própria questão do Acampamento Terra Livre, esse ano Lula foi recebido pelas bases indígenas e de lá garantiu conquistas para o movimento, como as demarcações citadas acima.
A loucura da esquerda golpista é tão grande que ela tenta até atacar a política internacional de Lula, que de longe é sua feição mais à esquerda. A entrevistadora ressalta: “O governo Lula apoiou o golpe do Peru, golpe contra os indígenas, demonstrando o caráter do governo Lula” Isso é uma farsa completa, Lula em nenhum momento apoiou o golpe de Estado no Peru, inclusive recentemente seu governo se negou a enviar armas para o país. E além disso Lula está ao lado de Maduro, o grande inimigo do imperialismo na América Latina, algo que o fez ser duramente atacado pela imprensa burguesa. Esse fato no entanto é ignorado totalmente por Tremembé e pelo MRT.
A esquerda golpista não percebe que se formam dois blocos, de um lado a direita e o imperialismo, representados nos monopólios da imprensa, no Congresso Nacional, em alguns ministros infiltrados no governo, inclusive a ministra dos povos originários Sônia Guajajara, as Forças Armadas e o STF. Do outro o próprio Lula e as organizações dos trabalhadores, CUT, MST, CMP etc. Esse bloco da direita é quem quer impor um novo teto de gastos, atacar os indígenas, manter o Banco Central bolsonarista, manter os preços dolarizados, etc. Os golpistas tentam formar um terceiro bloco, mas este ataca principalmente o governo Lula. Com essa política na prática estão aderindo ao bloco da direita golpista.
Outro fator que deixa o caráter imperialista dessa política ainda mais claro é que ela vem em conjunto com a pauta ambiental. A questão indígena é a luta pela terra, isso não tem nada a ver com o meio ambiente. Os índios devem ter direito as suas terras para explorá-las como desejarem. É essa política ambientalista que faz os índios da Amazônia terem algum destaque enquanto os do Mato Grosso do Sul, onde existem os confrontos mais violentos com o governo do ambientalista PSDB sejam ignorados. Se forma também o bloco Marina Silva (George Soros) e Sônia Guajajara (Fundação Ford) que operam um ataque imperialista contra o Brasil como quinta-coluna.
Essa falsa luta indígena é no fim um grande entrave a luta real dos indígenas. A luta dos oprimidos do campo se dá contra o latifúndio, em conjunto as organizações de trabalhadores rurais como o MST e a FNL e de forma geral com as organizações da classe operária. O governo Lula nesse sentido está ao lado dessas organizações, apesar de ser muito pressionado pelos latifundiários. A luta real portanto é a luta pela destruição do latifúndio, algo que não está em oposição ao governo Lula, que aponta na direção das conquistas dos trabalhadores do campo.