Na última sexta-feira, 8 de dezembro, em meio à Conferência do PT, que encerra ao término do fim de semana, em Brasília, o presidente Lula deu uma série de declarações importantes, mas que apontam a continuidade de um grande erro político:
“Nós dedicamos este ano a recuperar o Brasil. Nós tivemos que reconstruir coisas com uma base parlamentar menor do que já tivemos. Ficou mais difícil [governar], é preciso ter paciência. Muitas vezes, a gente cede quando não poderia ceder. E muitas vezes a gente conquista coisas quando a gente pensava que não ia ganhar”.
No entanto, a base do PT ou da esquerda nunca foi majoritária no Congresso. Não é esse o ponto fundamental. A dificuldade do momento se dá em função da crise do imperialismo que se aprofunda a cada dia. Frente a essa crise, a burguesia e o imperialismo não estão em condições de ceder nem um milímetro com a exploração, e em todos os países do mundo.
A negociação no Congresso, a partir daí, é um erro, posto que simplesmente não será possível “recuperar o Brasil”, dado que a economia imperialista não aguentaria tal recuperação. A crise, afinal, é de superprodução. Lula, portanto, ao manter esta política, só pode ficar na defensiva. Para conquistar qualquer medida mais significativa pela via institucional é necessária uma mobilização grande da classe trabalhadora, que de fato imponha na marra as suas pautas, e a situação seria colocada não sob o controle do próprio Lula, mas das massas operárias.
“A base originária que motivou nossa criação está muito modificada, a classe operária não é mais a mesma, o povo não é mais o mesmo. Precisamos aprender a construir o discurso para falar com essa gente. O metalúrgico de São Bernardo, que ganha 8 mil reais, já não quer mais votar na gente. Essa pessoa ficou ruim? Não, ela elevou o padrão de vida dela e nós não aprendemos a conversar com ela. Essas eleições municipais vão servir para a gente aprender a discutir na cidade.”
O fechamento de fábricas e de setores inteiros da indústria, o desemprego e o arrocho salarial assolam os trabalhadores. O problema também não é aumento algum de padrão de vida. O povo está na miséria, na rua da amargura. A melhora econômica foi muito superficial frente à destruição do golpe de 2016 até hoje.
A última colocação é uma demonstração do erro. Sair da situação atual através de uma “mobilização eleitoral” já não deu certo. A eleição do próprio Lula foi o último momento de grande mobilização popular no Brasil, e deu na situação que temos agora. Não é possível uma mobilização que ocorre só em período eleitoral, essa é a mesma tática utilizada todos os anos.
“Não podemos ter candidato querendo comprar apoio de líder de bairro. Apoio a gente conquista.”
“Este partido precisa voltar a ser como era no começo para reconquistar a credibilidade. Hoje, a gente sabe que é muito difícil a disputa eleitoral como ela está colocada.”
“Eu prometo ser um bom cabo eleitoral fazendo as coisas corretas para vocês sentirem orgulho daquilo que está acontecendo no Brasil. A gente não vai falhar, a gente não vai errar.”
O direcionamento para as ruas está correto, mas é também uma repetição. Continuar cedendo não mobiliza as pessoas. Meias medidas não despertam ânimo militante em ninguém. O “retorno às ruas” já é quase um lema do PT, repetido a todo momento. A ida às ruas precisa ser efetivada, organizada, com campanhas concretas. Que campanha o PT tem no momento? A Palestina? O salário mínimo? Não se vê nada.
Caso o PT e o governo continuem com a mesma política, a situação de difícil passará a ser completamente insustentável. É preciso interromper os passos atrás, e dar um à frente, mobilizar já! Quanto mais difícil a correlação de forças, mais urgente a mobilização.