A frase “Lugar de mulher é onde ela quiser” é uma ideia defendida principalmente pelas feministas que justificam que a mulher pode estar onde ela quiser, ou seja, se ela desejar ser astronauta, cientista, médica – ótimo! Mas também, se uma mulher quiser ser dona de casa, mãe e esposa, isto é, cumprir o papel que lhe é imposto, ela também pode. Caso ela queira vender o seu corpo, ser uma “sugar-baby”, jovens garotas bancadas por homens ricos e mais velhos – eufemismo para prostituição. Qual seria o problema? Há quem diga que isso é independência financeira e finalmente, a mulher pode e deve fazer o que bem quiser.
Essa ideia, além de totalmente falsa, não é a expressão de uma política pelos direitos das mulheres. É uma campanha totalmente liberal e não coloca em questão a opressão que a mulher sofre. Nos melhores casos, quando uma mulher escolhe ser dona de casa, mãe e esposa, não é nada revolucionário, ela simplesmente só está escolhendo de boa vontade o papel que lhe é socialmente imposto. A esquerda não deve aceitar que as mulheres sejam escravas domésticas, pois o serviço de casa é exatamente isso, é um trabalho exaustivo e não remunerado, embrutece e não desenvolve intelectualmente nenhuma pessoa.
A luta em defesa da libertação feminina deve estabelecer que o serviço doméstico tem que ser totalmente socializado. Lavanderias e restaurantes coletivos, automatização da limpeza da casa, etc. A criação e educação das crianças também devem ser totalmente responsabilidade de toda a sociedade e o Estado deve fornecer todo o aparato para uma criança se desenvolver sem depender exclusivamente dos recursos físicos e econômicos das mulheres.
A mulher não ocupa os lugares que deseja, é uma falácia total. É fácil desejar ser dona de casa e o ser, a questão principal é quando uma mulher não quer. Quando deseja estudar, mas é impedida pela família ou não tem escola; ter uma profissão, mas não pode ou não conseguiu se profissionalizar, e quando conseguiu, não encontrou emprego; não ser mãe quando precisou realizar um aborto seguro e legalizado.
Finalmente, essa concepção enfraqueça a luta pelos direitos das mulheres. Se uma mulher basta querer ser algo e ela será. Então por que precisaríamos lutar pelos direitos femininos, organizar o movimento das mulheres? A campanha, além de iludir as menos atentas, enfraquece a luta pela libertação de todas as mulheres.
*A coluna não expressa necessariamente a opinião desse jornal