Foi amplamente denunciado nesta semana a tentativa de suborno para manipular candidaturas do Partido Democrata nos Estados Unidos. O objetivo seria combater a candidatura à reeleição de Rashida Tlaib para a Câmara de Representantes, que junto com o Senado, compõe o Congresso norte-americano. O suborno de 20 milhões de dólares, que seria uma doação de campanha, foi oferecido ao ator e candidato ao Senado Hill Harper. O corruptor, o lobista pró-Israel Linden Nelson.
A proposta envolveria a desistência de Harper para a vaga no Senado e seu envolvimento na disputa para a Câmara, onde concorreria contra Tlaib. Ambos são políticos do Partido Democrata. Tlaib é a única parlamentar de ascendência palestina e a segunda muçulmana eleita para o Congresso. Ainda no começo do massacre contra civis palestinos em Gaza, em 16 de Outubro, ela e a também parlamentar democrata Cori Bush deram entrada na Câmara com uma resolução apoiando uma desescalada no conflito e um cessar fogo imediato. Naquela altura, o número de crianças mortas já chegava a mil.
No começo de novembro, muitos democratas se juntaram aos republicanos para aprovar uma censura contra Tlaib por ela ter reverberado uma palavra de ordem muito popular nas manifestações nos Estados Unidos: “From the river to the sea, Palestine will be free” (“Do rio ao mar, a Palestina será livre”). O caso é apenas o vigésimo sexto na história do parlamento norte-americano e mostra o poder do lobby sionista na política do país.
Uma das principais lideranças atualmente do Partido Democrata, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez repercutiu a denúncia afirmando: “O fato de nos Estados Unidos uma única pessoa rica poder fazer uma ligação e oferecer milhões para tirar alguém que ela não gosta do cargo diz tudo sobre a corrupção na nossa política”.
O corruptor da vez, Linden Nelson, é conhecido doador de campanhas eleitorais tanto para democratas quanto republicanos e tem envolvimento antigo com o Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel (cuja sigla em inglês é AIPAC). Diante da repercussão negativa do caso, o AIPAC se apressou para declarar que não teve envolvimento na tentativa de suborno e que Nelson não fazia doações ao grupo há mais de 10 anos. Cabe lembrar que o AIPAC não é o único grande grupo lobista pró-Israel nos Estados Unidos, um dos mais destacados atualmente é o Democratic Majority for Israel (Maioria Democrática para Israel) que atua especificamente para influenciar o posicionamento dentro do Partido Democrata.
Hill Harper publicou sobre o caso: “Para mim, isso não é sobre uma pessoa ou uma ligação no telefone. É sobre um sistema político e um sistema de financiamento de campanhas falidos que estão inclinados na direção dos ricos e poderosos”. Ainda nesse mês, Harper se manifestou em defesa de um “cessar-fogo humanitário”, apelando especialmente contra a violência direcionada às crianças palestinas.
O que esse caso falhado expõe é que esse tipo de recurso não é uma exceção ou um desvio à regra, mas é como o sistema político da burguesia opera. No caso dos Estados Unidos, por ter a burguesia mais poderosa do mundo, a corrupção atinge níveis realmente impressionantes. Os 20 milhões de dólares teriam sido oferecidos apenas para influenciar uma candidatura legislativa e para sufocar um aspecto dessa candidatura, no caso o fato da defensora da Palestina ser uma política de ascendência palestina e isto impactar fortemente no seu posicionamento diante do genocídio que está ocorrendo na Faixa de Gaza.
Só podemos imaginar o tamanho das montanhas de dinheiro usadas para que o Congresso aprove os orçamentos militares e de estímulo a guerras como no Afeganistão e na Ucrânia, por exemplo. O lobby sionista é fundamentalmente um lobby pró-imperialista. Para além da ideologia racista que permeia os sionistas, Israel é um ponto de apoio para os interesses da burguesia norte-americana no Oriente Médio. Sua defesa é fundamental para oprimir não só os palestinos, mas para dominar todas as nações dessa região riquíssima em petróleo.