Desde o começo da operação Lava Jato, era bastante claro que não se tratava de uma investigação séria. Guiada pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos, procuradores agiram em conluio com o juiz Sérgio Moro para atacar juridicamente o PT e sua principal liderança, o então ex-presidente Lula. Quando os setores mais tradicionais da direita perceberam que a coisa estava saindo do controle, com direitistas entrando na mira da operação, chegaram ao consenso de que era preciso acabar com a Lava Jato. Ou todo o sistema político poderia vir abaixo.
Não deixa de ser curioso que, diante de provas tornadas públicas de que os membros do poder judiciário agiam sob a batuta de agentes de um governo estrangeiro, a direita tenha optado por sufocar a operação por tecnicalidades. E, de fato, o que não faltavam eram falhas nos processos, pois o que a chamada “força tarefa” da operação mais fez foi passar por cima das leis. Essa estrada já tinha sido aberta durante o julgamento do Mensalão, onde se inaugurou um período de crescente arbitrariedade jurídica no País, um período que ainda está em aberto. Nesse tempo, destaca-se um impeachment farsesco avalizado pelo STF e a prisão e impedimento do principal candidato nas eleições de 2018, Lula.
Enquanto o fogo estava concentrado exclusivamente em figuras do PT, a imprensa fomentou algo próximo a um culto a personagens sem qualquer brilho como Deltan Dallagnol e Sérgio Moro. Dois cachorrinhos de estimação do imperialismo norte-americano, sem grandes qualidades na sua área de atuação e nem ao menos para atuar bem na televisão. Mesmo assim, o poder de influência do monopólio das comunicações conseguiu construir uma popularidade para eles ao longo de vários anos. Graças a essa gigantesca exposição, onde eram tratados como grandes paladinos da moral, ambos conseguiram se eleger nas eleições de 2022.
Mas eis que a burguesia decidiu que era hora de se livrar desses funcionários descontrolados. Afinal, o trabalho já estava entregue. Dilma foi derrubada e se seguiram dois governos de destruição econômica e social no País. As carreiras solo de Dallagnol e Moro, infiltrados no parlamento, não cumprem mais papel relevante. Ao seu lado, políticos da direita que tiveram seus esquemas atrapalhados pelos mandos e desmandos da “República de Curitiba”. Como a estrada cavada por entre o sistema legal só foi alargada desde o auge da Lava Jato, os antigos paladinos da moral agora se veem confrontados com as armas que sempre dispuseram.
A mesma lei usada para impedir que Lula disputasse e ganhasse as eleições em 2018 foi agora usada para cassar o mandato de Dallagnol. Enquanto parte da esquerda comemora, é importante assinalar que o TSE está simplesmente cassando algo em torno de 344 mil votos. O ex-procurador não chegou a ser condenado em processo para ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa, mas o tribunal entendeu que ele poderia ser condenado já que pediu exoneração do Ministério Público Federal (MPF). Segundo o relator do caso, Dallagnol teria “fraudado” a lei. Ou seja, vale tudo no judiciário. Quem pode mais, chora menos. Considerar isso como algo positivo ou é ingenuidade, ou então completa falta de senso político.
Burocratas como Dallagnol e Moro são peças descartáveis e aparentemente em vias de descarte. Por outro lado, o sistema judiciário conta com um time enorme de direitistas atuando cotidianamente contra os direitos democráticos da população. O respaldo às arbitrariedades nos tribunais, mesmo quando dirigidos a alguém tão desprezível quanto Dallagnol, é algo negativo e que se voltará inequivocamente contra a esquerda e contra a população pobre como um todo. Se o sistema de leis no Brasil já é bastante ruim por si só, apoiar esse verdadeiro faroeste judicial só torna tudo mais difícil.