“Tudo o que o presidente Lula não precisa é de um mártir da direita”. Assim, um leitor do Estado de S. Paulo resume o que pode ser um efeito bastante plausível do julgamento de Bolsonaro, que acontece nesta terça-feira, dia 27.
Se a carta enviada ao Estadão é real, estamos falando provavelmente de um cidadão comum, com ideias políticas conservadores. Mesmo esse “leitor médio” da imprensa golpista notou o perigo desse julgamento. “Lula da Silva corre o risco de ver seu antigo papel de vítima confiscado por Jair Bolsonaro, numa eventual cassação dos direitos políticos do ex-presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se nem Dilma Rousseff, que sofreu impeachment, se tornou inelegível, por que haveria de ser diferente agora? – argumenta Bolsonaro.”. Vejam que ele sequer gota de Lula pois o considera uma pessoa que “faz papel de vítima”.
Se o “cidadão médio”, influenciado pelas ideias da imprensa golpista entendeu o que está acontecendo, boa parte da esquerda pequeno-burguesa parece que ainda não se deu conta do perigo que está alimentando. Essa esquerda não se cansa de ficar a reboque da direita. Ela acredita que o Tribunal estaria defendendo a justiça contra Bolsonaro, alguns chegam a um ar ainda maior de ingenuidade e acreditam mesmo que o TSE, Alexandre de Moraes e outros estão realmente numa cruzada contra o fascismo.
Já outros, menos ingênuos, mas de mentalidade mais oportunista, dizem: vale tudo contra Bolsonaro. Será mesmo? Vejamos os efeitos disso até agora.
Diante da ameça de tornar Bolsonaro inelegível, a extrema-direita não se acuou. Há uma mobilização da extrema-direita, não simplesmente de políticos ligados a Bolsonaro, mas de setores mais amplos da extrema-direita.
Pode-se justificar o que for, mas fato é que Bolsonaro é vítima de uma perseguição política. Segundo os jornais, bolsonaristas começaram uma campanha para arrecadar dinheiro para Bolsonaro, publicando nas redes sociais os comprovantes de pagamento para contribuir com a “vítima do Judiciario”.
E aí está um ponto negativo da política. Um motivo para mobilizar a extrema-direita, mas não qualquer motivo. Esse é um bom motivo, legítimo, já que Bolsonaro realmente aparece com perseguido, porque é justamente disso que se trata.
O segundo problema, como disse o leitor do Estadão, é que Bolsonaro vai se fortalecer politicamente. Se ele vai ter capacidade para usar isso a seu favor, não dá para saber agora. Mas o fato é que, do mesmo jeito que a burguesia não conseguiu acabar com Lula, mesmo depois de tanta perseguição, e Lula acabou se fortalecendo, isso pode acontecer também com Bolsonaro. Um esquerdista, acostumado a ver as coisas superficialmente vai dizer que não é a mesma coisa.
Realmente não é a mesma coisa, é pior. Pior porque no caso de Lula, a burguesia realmente queria acabar com ele e não conseguiu, no caso de Bolsonaro é mais um jogo de cena. Amanhã a burguesia decide usá-lo para combater a direita e novamente ele está lá, apresentado como oposição com o apoio de todo o aparato da burguesia.
Ao contrário da esquerda pequeno-burguesa, que está babando o ovo do fascista Alexandre de Moraes como o grande herói do povo, a direita sabe muito bem o que faz. A extrema-direita também sabe.
Nikolas Ferreira, Carla Zambeli e outros bolsonaristas estão divulgando o pix de Bolsonaro com a seguinte frase: “O presidente está recebendo diversas MULTAS em processos absurdos por todo o País, qualquer valor já ajuda!”. O ex-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou na Jovem Pan que Bolsonaro “é um símbolo que muita gente quer derrubar”.
A luta contra a direita deve ser política. Esperar que o aparato de repressão da burguesia vai combater a extrema-direita é mais ou menos como fortalecer Hitler para combater Mussolini. Mas a esquerda brasileira não aprende. Além de criar a impressão que Bolsonaro é uma vítima, tem o problema maior que é justamente o fortalecimento desse aparato que é um verdadeiro moedor de carnes contra o povo.
Hoje é Bolsonaro, amanhã é a esquerda. E pior, com Bolsonaro ainda mais fortalecido e controlando esse aparato. O pior dos mundos possível.