Nessa terça-feira (7), o grupo Judeus pela Democracia publicou uma nota oficial descrevendo seu posicionamento em relação à guerra Israel-Palestina. No próprio documento, eles se descrevem como “um coletivo formado por pessoas com opiniões e posições distintas, sobretudo quando o tema é sensível como Israel e Palestina”. Porém, tanto a nota em questão, quanto seu posicionamento em relação a outros temas, mostram que são, na realidade, defensores ferrenhos do sionismo — portanto, contrários aos interesses da população palestina.
Em primeiro lugar, um breve comentário sobre a afirmação do grupo de que o judaísmo “não é apenas uma religião. Somos um povo, uma etnia”. Na realidade, o judaísmo é exatamente o que eles alegam não ser: uma religião que se espalhou convertendo outras pessoas ao longo da história. Os hebreus de antigamente se misturaram com vários povos semitas, dentre eles, os árabes. Finalmente, a maior parte dos hebreus-judeus que acabaram ficando na Palestina viraram muçulmanos-árabes (como aponta o historiador israelense Shlomo Sand). A alegação de que o judaísmo seria “um povo, uma etnia”, como diz a nota do coletivo, serve para justificar a existência de um Estado como o de Israel — isto é, um Estado supremacista religioso que promove uma limpeza étnica contra os árabes.
Na nota, o grupo Judeus pela Democracia elenca algumas de suas reivindicações em relação ao conflito:
“1) A libertação dos mais de 240 reféns civis israelenses e estrangeiros deve ocorrer de forma imediata; 2) A pausa humanitária é urgente. Que cessem os ataques das FDI às infraestruturas civis de Gaza e os mais de 300 mísseis e foguetes disparados diariamente contra Israel. Que a segurança possa ser reforçada contra ataques à população civil palestina na região de Gaza e da Cisjordânia; 3) Os responsáveis pelos crimes bárbaros do dia 7/10 devem ser punidos. O Hamas, desmobilizado; 4) Um corredor humanitário amplo e permanente para que civis e feridos possam escapar do conflito é urgente e necessário.”
O grupo sionista tenta claramente colocar a luta do povo palestino por sua libertação em pé de igualdade com o genocídio que Israel está causando na Faixa de Gaza. Em relação à reivindicação de “pausa humanitária” isso fica claro: para o Judeus pela Democracia, a chuva de bombas de Israel contra hospitais, padarias, escolas, campos de refugiados, bairros etc. são tão graves quanto a tentativa da resistência armada palestina de se opor ao massacre feito por Israel.
O coletivo ainda tenta fazer demagogia com o sofrimento do povo palestino reivindicando que “a segurança possa ser reforçada contra ataques à população civil palestina na região de Gaza e da Cisjordânia”. Eles tentam esconder que, na realidade, quem ataca o povo palestino nessas regiões é justamente o regime nazista de Israel. Até porque o Hamas não está na Cisjordânia, então eles não poderiam estar se referindo a isso no trecho em questão.
E quem defende o povo palestino dessa agressão? É a Autoridade Palestina? Decerto que não! A AP, desde a escalada no conflito no último dia 7 de outubro, chegou a reprimir manifestações que estavam cobrando uma ação firme do “governo” palestino na Cisjordânia contra Israel. Finalmente, a AP é cúmplice da ocupação sionista na região e não fará nada para ajudar os palestinos.
Só sobra uma opção: o Hamas, a única força que realmente defende o povo palestino contra as agressões de Israel. Mas, no ponto seguinte, o grupo prontamente pede pelo fim do Hamas, o que mostra que a reivindicação de “segurança reforçada” não significa absolutamente nada — ou melhor dizendo: significa que defendem a ocupação total desses regiões pelos militares israelenses, para reprimir a população e a resistência palestina.
O que eles querem, na realidade, é que o massacre promovido por Israel há 75 anos se mantenha, pois esse é o resultado que o fim do Hamas teria. O Movimento de Resistência Islâmica é a vanguarda da luta do povo palestino contra Israel, derrotar o Hamas é derrotar a causa palestina.
Por que o grupo não pede, por exemplo, a desmobilização das Forças Armadas de Israel (IDF, em inglês)? Afinal, não só são eles os principais “responsáveis pelos crimes bárbaros do dia 7/10”, como também a principal fonte de violência contra o povo palestino. Isso mostra que os Judeus pela Democracia não são contra a violência e a favor da paz no abstrato, mas sim a favor da paz para Israel e da violência para os palestinos.
A quinta reivindicação da nota também mostra isso. Eles dizem: “Não existe paz de longo prazo sem a criação de um Estado da Palestina, ao lado de Israel. Para que isso aconteça, os dois lados precisam estar dispostos ao diálogo e reconhecer publicamente essas intenções”.
A defesa da política dos dois Estado por esse grupo é uma política que serve para amenizar a crítica que se faz ao sionismo. Em primeiro lugar, como Israel vai permitir um Estado palestino armado ao lado do Estado de limpeza étnica que eles criaram? É uma ideia absurda; Israel nunca vai deixar isso acontecer, até porque o seu principal objetivo é justamente desmontar completamente a possibilidade de um Estado palestino e expulsar os palestinos da região.
Em segundo lugar, aquela região é da Palestina. Israel é um Estado fictício, criado pelo imperialismo para impor os seus interesses sobre o Oriente Médio. Exigir a criação de dois Estados seria o mesmo que, por exemplo, alguém invadisse o Brasil e exigisse que os brasileiros cedessem mais da metade de seu território para um agente estrangeiro que nada tem a ver com a região.
A política correta, principalmente se o objetivo final é a paz, como declara o coletivo, é o fim do Estado sionista de Israel e a criação de um Estado único palestino, laico e plurinacional, onde palestinos e judeus – caso queiram – possam viver juntos, mas com a soberania totalmente nas mãos dos palestinos.
Nos outros pontos da nota, o grupo se limita a denunciar o aumento de “ataques antissemitas e islamofóbicos”. “Judeus, muçulmanos e árabes de todas as partes do mundo precisam ter sua segurança preservada, os ataques contra esses povos devem ser repudiados e punidos com veemência. Judeus, árabes e muçulmanos não são responsáveis por decisões de autoridades. Generalizar posições e ideologias, atribuir sentimentos e culpa apenas a partir da identidade das pessoas, é racismo”, dizem.
Mais uma vez, o coletivo coloca o problema do antissemitismo de maneira abstrata, como se fosse um fenômeno independente da realidade — ou causado pela resistência palestina. Mas fato é que o culpado pelo antissemitismo é justamente o Estado de Israel e o banho de sangue que este promove no Oriente Médio há décadas! Para acabar com esse tipo de preconceito, é preciso acabar com Israel, não há outra saída. Afinal, é absolutamente natural que um árabe, por exemplo, sinta raiva de judeus por associá-los com as atrocidades cometidas por Israel contra seu povo.
A nota do coletivo termina com a seguinte colocação: “A paz duradoura e a preservação de vidas devem ser as principais prioridades. Que os líderes e responsáveis por esta guerra possam tomar consciência de seus atos”. Pelo que foi discutido ao longo deste artigo, entretanto, fica claro que a política defendida pelo Judeus pela Democracia tem justamente o efeito contrário: paz para Israel e genocídio para a Palestina.