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Polêmica

Israel não é só uma ditadura, é um Estado terrorista e genocida

No afã de passar pano para o genocídio na Palestina, supostos "progressistas" acabam expondo mais do que gostariam sobre o que pensam de verdade sobre o povo oprimido.

O arsenal de bobagens disparado por ditos progressistas nos últimos dias é algo notável. Diante da inviabilidade de apoiar abertamente o genocídio do povo palestino, muitos aparecem com as desculpas mais criativas para condenar “ambos os lados”. Como se o povo palestino fosse uma coisa e o Hamas outra. Uma dessas figuras é Jean Menezes de Aguiar, que escreveu um artigo para o Brasil 247 intitulado “Hamas é terrorista; Israel não é flor que se cheire”.

A diferença no tratamento aos “dois lados” já fica explícita no título. O Hamas é, definitivamente, “terrorista”, ou seja, é do mal. Já o Estado genocida de Israel não seria tão bom. O subtítulo vai mais além, seguindo na mesma linha “O Hamas não tem defesa pelo que faz enquanto sua natureza: é uma gente brutal, previsível e terrorista. Israel é um Estado com traços ditatoriais”. O Hamas é tão terrorista que isso precisa ser afirmado tanto no título quanto no subtítulo. Por sua vez, Israel teria “traços” de uma ditadura. Nada que uma ou outra correção não deixe legal, não é?

Em seguida, cita Einstein numa carta, onde o físico judeu aponta a cooperação com os árabes como único caminho para “criar uma vida digna e segura” na Palestina. A conclusão é que seria uma “falta de inteligência” dos sionistas. Faltaria “sabedoria” no “pensamento belicista”. Em seguida faz uma comparação entre o que já anuncia como “incomparáveis”: “o que seria ‘mais’ bárbaro: um ataque originário que mata 1000 inocentes em Israel, ou um reativo que mata 5000 em Gaza?”. Segundo Jean, “qualquer resposta ideológica é imprestável”.

É bem conveniente decretar a impossibilidade em comparar as ações do Hamas e do estado israelense, especialmente quando você classifica os ataques do Hamas como “originários” e os de Israel como “reativos”. Ou seja, os israelenses estavam cuidando das próprias vidas quando, de repente, os “terroristas” resolveram derramar sangue inocente, porque afinal é o que “terroristas” fazem. Como o autor já havia anunciado no subtítulo, se trata de “uma gente brutal, previsível e terrorista”.

O autor então apresenta a tese de que “a causa” das disputas e ódio, de todo o problema vivido na Palestina seria “a questão religiosa”. Devido à Palestina ser berço das principais religiões monoteístas (cristianismo, islamismo e judaísmo), esse seria o ponto de partida para um conflito interminável. Entre muçulmanos e judeus, claro, porque de alguma forma os cristãos ficaram de fora da equação apresentada. Jean cita alguns aspectos do regime estatal israelense, como a farsesca adoção da “religião oficial” e da igualmente farsesca tentativa dos sionistas em estabelecer o judeu como uma etnia. Seriam estes os tais “traços ditatoriais” citados ainda no subtítulo.

Citando o historiador israelense Shlomo Sand, o autor da matéria reconhece que Israel se tornou uma referência para a extrema-direita mundial, sendo “uma das sociedades mais racistas do mundo ocidental”. Como se o “mundo oriental” ficasse devendo alguma coisa nesse quesito. Mas pelo menos trouxe a tona um fato real e que não pode ser omitido sobre o que acontece na Palestina. Porém chama a atenção que toda essa discussão em torno da problemática ideologia sionista deixe de lado que qualquer violência por parte dos palestino não passa de reação justa a uma ocupação militar que já dura décadas. Uma ocupação militar com todo esse arsenal ideológico fascista, que não considera os palestinos como seres humanos. Para Jean, falta uma “sabedoria cultural”, que não foi cultivada de geração para geração. Seriam “preconceitos religiosos” que descambam para uma interminável série de vinganças.

Após elencar algumas informações relevantes sobre o caráter racista do estado de Israel, Jean passa para uma “análise” sobre o Hamas. Ao invés de fazer um resgate histórico como se deu ao trabalho de fazer para discutir a ideologia pseudo religiosa dos sionistas, a “análise” sobre o Hamas se limita a uma série de adjetivos como “grupo protogeneticamente terrorista”, “bando de fundamentalistas” e mais adiante no texto “caterva terrorista”. O interessante adjetivo de “protogeneticamente terrorista” é até difícil de decifrar, mas carrega alguns significados que expõem o autor.

O elemento de composição “proto” traz a ideia de algo anterior a outra coisa. Por exemplo, uma “protogaláxia” é uma nuvem de gás que formará no futuro uma galáxia. É confusa a ideia de algo anterior a uma “genética” terrorista. Seria um terrorismo que nasce na “alma” dos militantes do Hamas? De qualquer forma, chegamos nessa assombrosa associação entre genes e terrorismo. Uma associação que certamente deixaria o sionista mais raivoso cheio de orgulho, pois implica que o militante do Hamas não compartilha da mesma genética de alguém “normal”. Infelizmente, como o autor se limitou a disparar adjetivos, não temos um esclarecimento acerca dessa espécie de “maldição” que assola os malvadões teroristas.

Outro adjetivo que deixaria Netanyahu satisfeito é chamar o Hamas de “caterva terrorista”. A palavra “caterva” pode significar um “grupo de pessoas”, um “conjunto de pessoas que se comportam de maneira desordeira”, um “grupo de pessoas que apresentam péssimo comportamento” e pode até, vejam só, significar um “conjunto de animais ou coisas”. Que coincidência, não é mesmo!?

O termo “caterva terrorista” é usado justamente quando o autor afirma que “é legítima e necessária uma reação de Israel” “enquanto perduram os ataques do Hamas”. Mas Jean faz uma ressalva, que essa “reação” poderia ir até a “neutralização” da tal “caterva terrorista” mas “desde que não dizime inocentes”. Muito importante que o autor explique que dizimar inocentes não seria legítimo nem necessário, porque a essa altura da argumentação é preciso estabelecer algum limite, não é verdade?

Jean ainda se presta ao papel de julgar os palestinos que apoiam o Hamas. Segundo ele essa população é levada a isso por conta de “muito ódio desenvolvido culturalmente”. Pelo visto, ter sua família explodida pelas altamente equipadas forças armadas israelenses é parte de uma guerra cultural. Seriam “bombas culturais” que Israel despeja de tempos em tempos na Faixa de Gaza? Segundo o autor da matéria, esse apoio ao Hamas “complica severamente uma solução de paz”. E ele ainda tem a cara de pau de dizer que essa “solução de paz” “se impõe e os palestinos têm que fazer a sua parte nisso”.

Ou seja, teriam que oferecer a outra face? Se Israel matou metade da sua família, o correto seria oferecer a outra metade?

A farsa daqueles que condenam os “dois lados” do conflito na Palestina fica exposta quando se contrastam as palavras com os fatos. Exigir pacifismo de um povo mantido num gueto em pleno século XXI é de um cinismo nojento. Apesar de todos os dados informados sobre as bases do estado israelense, o autor simplesmente resolve declarar uma falsa imparcialidade, como se estivesse apartando uma briga entre iguais. Longe disso, o que Jean defende no seu artigo é que os palestinos sejam passivos diante dos abusos sistemáticos ao seu povo e que combatam todos aqueles dos seus que se revoltem em armas contra os invasores da sua terra.

Não, o Hamas não é “terrorista”, o Hamas é a resistência popular contra a opressão imperialista na Palestina. Israel sim pratica um terrorismo de estado contra o povo da região. E quem não é flor que se cheire são os falsos “imparciais”, que não passam de defensores do sionismo.

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