O jornalista Urooba Jamal afirmou, em análise no Al Jazeera, que o Estado de Israel tem uma política deliberada para atacar hospitais palestinos na Faixa de Gaza. Ele também denunciou a brutalidade das tropas sionistas nos ataques contra os hospitais. “Tanques israelenses se aproximam de um hospital palestino. Médicos e equipe médica são alertados de que devem sair — com ou sem pacientes que precisam de ajuda. Ataques de artilharia seguem, mesmo que milhares de pessoas ainda estejam dentro”, escreveu.
Nesta segunda-feira (20), Israel atacou mais um hospital: o Indonésio, em Beit Lahia, Gaza, matando pelo menos 12 palestinos até o fechamento dessa edição. Um projétil atingiu o segundo andar, de acordo com um trabalhador médico dentro da instalação e o Ministério da Saúde em Gaza. O porta-voz da pasta, Ashraf al-Qudra, disse à Al Jazeera que “a situação é catastrófica”. “Os funcionários do Hospital Indonésio insistem que vão permanecer para tratar os feridos. Há cerca de 700 pessoas, incluindo equipes médicas e pessoas feridas, dentro do hospital”, continuou.
O jornalista Urooba Jamal, no entanto, lembra que o ocorrido no Hospital Indonésio foi apenas o mais recente ataque a um complexo hospitalar palestino. Em seis semanas do massacre israelense contra a Faixa de Gaza, pelo menos 21 dos 35 hospitais de Gaza estão completamente fora de serviço. Entre eles, está o único centro para tratamento de câncer da região palestino. Outros foram danificados e com falta de medicamentos e suprimentos essenciais.
A situação levou a que, no domingo (19), 31 bebês prematuros fossem evacuados do Hospital al-Shifa para Rafá, no sul da Faixa de Gaza. Esses bebês passaram semanas sendo alimentados com fórmula misturada com água contaminada pelos bombardeios israelenses. A destruição e o cerco a Gaza também fez com que esses bebês ficassem sem incubadora diante da falta de combustível, motivo pelo qual oito bebês já tinham morrido.
Al-Shifa está ocupada pelas forças israelenses desde a semana passada, após ter sido bombardeada pelas tropas sionistas que invadiram o norte de Gaza. O hospital, então, abrigava milhares de civis deslocados pelos bombardeios israelenses, além de pacientes e profissionais de saúde.
Hospitais invadidos e cercados na Cisjordânia
O motivo da brutalidade israelense seria o combate ao Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), que lidera a resistência armada contra Israel. No entanto, desde sexta-feira, o exército sionista estendeu sua abordagem na Faixa de Gaza para a Cisjordânia ocupada, onde o Hamas não controla a região. Na Cisjordânia, veículos blindados cercaram pelo menos quatro hospitais, e o Hospital Ibn Sina, um dos maiores na Cisjordânia, foi invadido. No início de novembro, as forças israelenses prenderam alguns pacientes e seus acompanhantes em um hospital de Jerusalém Oriental.
Conforme destacou Jamal, “oficialmente, Israel insiste que está visando instalações que abrigam combatentes ou infraestrutura do Hamas”. “Israel afirmou que o Hamas estava usando o al-Shifa como centro de comando, por exemplo. Mas o Hamas negou essa afirmação, e dias depois de tomar o controle da instalação, Israel não conseguiu fornecer evidências sólidas para respaldar suas alegações”, continua.
No entanto, desmentindo a propaganda sionista, Jamal citou Omar Rahman, pesquisador do Conselho do Oriente Médio com sede em Doha (Catar), denunciou “uma forma de guerra psicológica”. “Atacar hospitais diz à população que nenhum lugar para [os palestinos] é seguro”, disse Rahman à Al Jazeera, acrescentando que Israel age com “total impunidade”.
Ele ainda citou o analista sênior da Palestina no International Crisis Group, Tahani Mustafá, que alegou a necessidade de Israel fazer os palestinos se sentirem inseguros para sufocar qualquer forma de resistência. “Isso faz parte de um padrão de assédio de longa data a profissionais e serviços médicos, no qual Israel demonstra aos palestinos que ninguém e nenhum espaço está seguro”, disse Mustafa à Al Jazeera. “É uma tentativa sistemática de intimidar as populações locais e minar sua vontade de resistir”, acrescentou.
Jamal lembrou ainda que, ao longo do massacre promovido por Israel, o Estado sionista atingiu diversas ambulâncias e instalações médicas na Cisjordânia e em Gaza, “alegando que os combatentes palestinos as usam para se locomover e se abrigar, sem fornecer evidências para essas alegações”.
Segundo Taghreed El-Khodary, Israel buscou convencer o mundo de que o Hospital al-Shifa era uma sede do Hamas porque era o caminho mais fácil para invadir Gaza. “Eles sabem que é a parte mais segura para ir e impor uma espécie de quartel-general militar em Gaza City. Eles não poderiam vir do leste. Agora é isso que estão fazendo, indo para o Hospital Indonésio em Beit Lahiya para também impor outro quartel-general e atacar e matar mais civis”, disse El-Khodary à Al Jazeera.
EUA dão luz verde
Trita Parsi, vice-presidente executivo do Quincy Institute for Responsible Statecraft, sediado em Washington, denunciou que os Estados Unidos dão luz verde para Israel atacar edifícios civis como hospitais. “Os únicos escrutínio e limites impostos que importam são aqueles que vêm dos Estados Unidos”, disse Parsi à Al Jazeera. “O cálculo de Israel é que os protestos internacionais não importam, contanto que os Estados Unidos se recusem a impor quaisquer limites às ações israelenses”, acrescentou.
Ela ainda apontou que a conivência dos EUA com o genocídio promovido por Israel colocou o regime político norte-americano em uma crise política extraordinária. “A posição global e a credibilidade dos EUA estão despencando como resultado de sua luz verde para ações israelenses desse tipo”, disse Parsi. “É possível [que isso] não continue por muito mais tempo, porque os danos que isso está causando aos Estados Unidos simplesmente não são toleráveis”.
Ataque ao Hospital Indonésio
Até o fechamento desta edição, o Ministério das Relações Exteriores da Indonésia havia perdido contato com três voluntários indonésios no hospital que fazem parte do grupo que estabeleceu a instalação em 2016 com financiamento do país. Um trabalhador do hospital, Marwan Abdallah, denunciou que tanques israelenses estavam operando a menos de 200 metros do hospital, e atiradores israelenses podiam ser vistos nos telhados de prédios vizinhos. Outro trabalhador médico disse à Al Jazeera que os bombardeios são intensos e indiscriminados no prédio do hospital, na entrada e nas janelas.
O hospital fica em Beit Lahiya, uma cidade com cerca de 90.000 habitantes no norte de Gaza. O hospital ocupa cerca de 16.000 metros quadrados de terreno doados pelo governo de Gaza em 2011 e abriga centenas de refugiados que buscaram refúgio lá devido ao massacre sionista. Também está próximo ao campo de refugiados de Jabalia, onde Israel promoveu intensos bombardeios.
O hospital custou quase US$ 8 milhões para ser construído, sendo financiado por doações de cidadãos indonésios em conjunto com grupos como a Sociedade da Cruz Vermelha Indonésia e a Sociedade Muhammadiyah, uma das maiores organizações muçulmanas da Indonésia, informou Al Jazeera.