Entre os vários balanços feitos pelos jornais do grande capital acerca da 15ª Cúpula dos BRICS, merece destaque o artigo “Um BRICS expandido não é necessariamente mais forte”, da revista britânica The Economist. Sua importância está não apenas na relevância do próprio periódico, que é um dos principais porta-vozes dos monopólios globais, como também pelo fato de que seus argumentos encontraram ressonância na servil imprensa brasileira e, até mesmo, em setores completamente desorientados da esquerda nacional.
Antes de qualquer coisa, é preciso destacar que o balanço do The Economist não é uma análise séria, mas sim uma enxurrada de intrigas, uma campanha política mentirosa com o objetivo de jogar a “opinião pública” contra os BRICS.
Um primeiro argumento levantado pelo periódico britânico é o de que ter mais países no bloco abre espaço para mais “divergências”. Ora, trata-se de uma frase que não significa absolutamente nada. Tanto mais países pode aumentar as chances de haver uma divergência como pode, na verdade, fortalecer o bloco e, diante de seu fortalecimento, aumentar a coesão entre os membros. É preciso, portanto, uma análise objetiva do que efetivamente está acontecendo.
A primeira coisa que deveria ser levada em conta é que os BRICS passaram de um agrupamento sem muito propósito para um bloco com interesses políticos bem definidos. Basta observar os países que acabaram de ingressar. Por um lado, Arábia Saudita, Egito e Irã garantem praticamente um controle absoluto dos BRICS no Oriente Médio. Tal coisa não existia anteriormente. Só por esse fato, cai por terra a intriga de que “aumentariam as divergências”: antes, nem divergência era possível ter, uma vez que os BRICS não estavam presentes no Oriente Médio.
Já os outros países incorporados, embora não sejam potências militares e econômicas, como os citados acima, também revelam um propósito muito claro. A Etiópia permitirá que os BRICS intervenham diretamente na África Oriental, uma região muito importante e que vive uma grande crise por causa do petróleo. A Argentina, por sua vez, permitirá que os BRICS controlem a América do Sul. Afinal, Brasil e Argentina, ambos nos BRICS, são os países mais importantes do subcontinente. A Venezuela, que é uma grande produtora de petróleo, já é aliada de longa data do bloco.
Outro dado muito relevante é que os BRICS, neste momento, refletem uma tendência muito clara de agrupamento dos países oprimidos para opor uma resistência à ditadura dos países imperialistas. Quando os BRICS foram formados, tratava-se meramente de uma aliança econômica sem grandes perspectivas. Agora, os BRICS são vistos como uma organização com grande potencial político e militar, como uma alternativa à ordem mundial. Não se trata, portanto, de uma expansão mal planejada, que elevaria os atritos entre os países, mas sim de uma operação política de grande vôo, consciente.
Outra intriga levantada pelo The Economist é que a expansão dos BRICS teria sido uma espécie de manipulação da China para cumprir unicamente com os seus interesses. Nada poderia ser mais errado. Ora, fortalecer as relações entre os países não iria melhorar a situação da China apenas, mas sim de todos os países, que terão cada vez mais condições de enfrentar o imperialismo na medida em que tiver um apoio mais amplo.