Nos últimos dias, dois acontecimentos que envolvem os índios Guarani-Caiouá do Mato Grosso do Sul circularam entre os índios, mas foi completamente ignorado pela imprensa burguesa e pelas organizações não-governamentais financiadas pelo imperialismo, mas também pela esquerda pequeno-burguesa e pelos ditos “representantes” dos índios apontados por essa mesma imprensa e ong`s que ignoram a situação.
Estamos falando do deslocamento de milhares de índios Guarani para a colheita da maçã na região sul do Brasil e a situação de extrema miséria, exploração e trabalho escravo.
No dia seis de fevereiro de 2023, o índio Guarani-Caiouá, Jackson Brites, foi brutalmente assassinado nos campos de colheita de maçã, no município de Vacarias, Rio Grande do Sul. Jackson Brites era morador da aldeia Paraguaçu, no município de Paranhos, Mato Grosso do Sul. O índio foi espancado até a morte e rapidamente a polícia afirmou que Jackson foi assassinado depois de furtar objetos da casa de um dos assassinos e que seriam usuários de drogas.
Somente uma colocação sobre a motivação apresentada pela polícia. A polícia que nunca se empenha em proteger ou investigar casos de violência contra os índios realizado por pistoleiros e latifundiários, sem nenhuma investigação e rapidamente chegou a solução do caso de “viciados em drogas” que “brigaram” devido ao “roubo”. Faz isso por dois motivos: o primeiro é para intimidar a esquerda e suas organizações a não denunciarem o caso e sequer acompanhar o ocorrido. O segundo motivo é para desviar a atenção da situação dos índios na colheita da maçã e de como é a situação que se encontram no local e como são levados para os pomares de maçã.
O outro caso é a tentativa de suicídio de um outro indígena dentro de um alojamento em que são jogados os índios durante a colheita da maça. No dia 11 de fevereiro, no alojamento da empresa Frutini, também localizada em Vacaria/RS, um grupo de indígenas Guarani-Caiouá, também da Aldeia Paraguaçu, tentam desesperadamente desamarrar um jovem indígena que se enforcou com pedaços de pano em um cabo de madeira. O vídeo é chocante e mostra as condições que estão os índios durante a colheita. E a situação é tão calamitosa que o índio que tentou se matar voltou ao trabalho já na segunda-feira, um dia apenas após tentar o suicídio.
O assassinato do índio Jackson Brites e da tentativa de suicídio de outro indígena, dois Guarani-Caiouá, da mesma aldeia e município, é uma pequena amostra do que ocorre todos os anos na colheita da maçã e com os responsáveis por aliciar os índios e levá-los sem nenhuma condição para o Rio Grande do Sul.
A caminho de trabalhos forçados
Segundo os dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), aproximadamente 13 mil índios se deslocam todos os anos para trabalharem como mão-de-obra barata nos pomares de maçã de latifundiários e grandes empresários da região sul do Brasil, que somam mais de 5 milhões de pés de maçã.
Um dado apresentado pelo procurador do trabalho de Dourados, Jeferson Pereira, afirma que 10% da população indígena do estado tem sido trabalhado na colheita da maçã.
As condições são péssimas, desde o transporte até a região sul, os locais onde os índios vão ficar alojados, condições de trabalho e salariais. Há inúmeros casos de trabalho escravo todos os anos, assassinatos, desaparecimentos e muita violência contra os índios que estão sob controle dos famosos “cabeçantes”, que são as pessoas que vão nas aldeias e retomadas organizar enormes contingentes de índios para o trabalho da maçã. E os índios chegam a ficar 5 meses nessa situação até o final da colheita e sem nenhuma garantia de voltar caso desista da colheita ou não concorde com a situação em que estão.
PSDB e governo incentivam essa prática
O governo do estado do Mato Grosso do Sul, neste momento nas mãos dos latifundiários e pistoleiro tucano, Eduardo Riedel, incentiva essa prática há muito tempo. O incentivo é tamanho que Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul (Funtrab) apresenta a colheita da maçã para os índios como se fosse um paraíso, uma oportunidade única.
O envolvimento do governo do estado é tamanho que procura esconder a situação em que os índios são submetidos, o envolvimento de trabalho escravo, violência, violação de direitos trabalhistas e muitas outras atrocidades cometidas.
O aliciamento dos índios para a colheita da maçã é realizado pelo próprio estado através da Funtrab com aval de outras entidades como o Ministério Público. Sob a fachada de inibir o aliciamento ilegal, apenas fazem uma propaganda para incentivar os índios se deslocarem para o sul do Brasil e ajudar a grandes latifundiários a terem mão-de-obra barata para lucrarem.
A propaganda realizada pelas instituições e governos faz parte da enganação para os índios, segundo o Procurador do Trabalho “em regra, eles (os índios) não têm qualificação para trabalhar com máquinas computadorizadas, e a colheita da maçã é manual, faz parte do estilo de vida deles”. Faz parte do “estilo de vida” ser miserável e ter que se sujeitar a qualquer tipo de exploração para ter algum recurso?
Outra questão muito questionada pelos próprios indígenas é apresentada de maneira falsa pelo governo do estado por Eduardo Riedel. Em nota do sítio da Funtrab diz que “Além dos protocolos de biossegurança, tudo será feito com segurança jurídica no regime da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). As empresas pagam o salário-base, mas o rendimento bruto pode variar de acordo com as vantagens oferecidas, como gratificação por produtividade. A remuneração pode chegar a R$ 3 mil. Os indígenas contratados recebem ainda o transporte (ida e retorno), alimentação, alojamento e cesta básica.” Uma farsa total, pois vídeos que circulam nas redes sociais, denúncias e conversas realizadas com índios que vão para a colheita da maçã revelam o oposto do que é apresentado pelo governo do estado.
O governo do estado, nas mãos do tucano, latifundiário e pistoleiro Eduardo Riedel, faz essa propaganda mentirosa para favorecer aos latifundiários que precisam de mão-de-obra quase que escrava dos índios para a colheita da maçã. E isso se repete também para outras culturas como a cana-de-açúcar, laranja, café e outras que depende da colheita manual.
É preciso denunciar o governo do estado que também é responsável pela situação dos índios Guarani.
Esquerda esquece esses índios que são explorados ao extremo
A situação de pobreza extrema deixa os índios Guarani vulneráveis a situações como a da colheita da maçã. Se sujeitam a todo tipo de emprego e situação de péssimas condições, incluindo trabalho escravo, porque não existe outra alternativa. Nem terras suficientes para algum tipo de atividade econômica e quando possuem terras há uma série de restrições para atividades econômicas que mudem a realidade dos índios Guarani.
Diante dessa situação há um silêncio estarrecedor da esquerda pequeno-burguesa, em particular de entidades que dizem representar os índios e de “lideranças” indígenas colocadas pela imprensa golpista e a burguesia nacional.
Nesse ultimo período foi dito muito o caso dos índios Ianomâmis, até de maneira equivocada, afirmando que a pobreza dos índios vem em decorrência da atividade garimpeira. Mas se esquece que em todo o país os índios vivem na miséria e sendo explorados de maneira intensa sem uma palavra de entidades e pessoas que deveriam defender os índios.
Muito se ouve de “representações” indígenas propagandeadas pela imprensa golpista como Sonia Guajajara e Celia Xacriabá falar sobre ancestralidade, decolonialidade, defesa das florestas e de mudanças climáticas. E que essas pautas seriam uma reivindicação dos índios brasileiros, mas que não passam nem perto da realidade dos índios.
Essa situação dos índios que trabalham em condições de escravidão no Sul do Brasil sequer foi falado por essas personalidades indígenas apoiadas pela burguesia. Sequer uma ’tuitada’ para fazer demagogia. Isso ocorre da mesma maneira no caso da APIB, do PSOL e outras organizações da esquerda pequeno-burguesa.
E por que isso ocorre?
A resposta é bem simples. Esses índios e organizações são financiados por organizações não-governamentais do imperialismo. Recebem dinheiro de embaixadas de países imperialistas, de governos interessados na mineração na Amazônia, da CIA, do NED, Fundação Ford, Open Society e muitas outras que possuem apenas interesses na exploração de minérios da região amazônica.
O caso dos índios Guarani não aparece nem no Twitter dessas pessoas porque estão fora da região Amazônica e não são de interesses de manipulação do imperialismo, como no caso dos Ianomâmis (que passam uma situação de calamidade devido à direita imperialista) e os garimpeiros (também formado por índios que querem melhorar suas vidas).
Para o imperialismo o índio importante somente está na região Norte do Brasil para que seus interesses sejam manipulados em favor de políticas que vão a impedir o desenvolvimento do país, da melhoria de vida dos índios e não-indígena, que favorecem os grandes monopólios da mineração e agrícolas do imperialismo.
Fica evidente que muitos que se passam de amigos dos índios, apenas estão interessados na região Amazônica e suas riquezas, e que se não são parte diretamente interessada nas riquezas minerais, (como Fundação Ford, embaixadas e países imperialistas) estão sendo manipulados para beneficiar os interesses desses grandes parasitas citados.