A esquerda pequeno burguesa autoproclamada revolucionária é incapaz de atuar no governo Lula sem fazer coro com os golpistas. Quase a totalidade dos trotskistas, a exceção do PCO, iniciou uma campanha de oposição ao governo Lula, que, na prática, é uma frente única com o golpismo, da mesma forma que foi feito com a presidenta Dilma em 2016. É o caso do MRT que publicou em seu sítio o editorial: “As tarefas da esquerda socialista e revolucionária diante do novo governo Lula-Alckmin” onde a organização expressa mais uma vez a sua posição que tende ao golpismo de esquerda.
Já o subtitulo dá o tom político de todo o artigo: “Completados 2 meses do novo governo Lula-Alckmin, mais do que nunca é necessário definir as tarefas de uma esquerda socialista e revolucionária que, no embate contra a extrema-direita bolsonarista, não compõe a base nem o arco de alianças do governo frente-amplista com empresários e arquitetos do golpe institucional de 2016. Ao contrário, reafirma uma estratégia e programa anticapitalista para enfrentar a crise que segue em curso.” Primeiro é a escolha do termo “Lula-Alckmin” já revela o erro político, isso mostra que não se compreende a luta que o presidente Lula trava com a direita. O governo é de Lula, os ministros como Alckmin, Tebet, Guajajara, Dino etc. são direitistas infiltrados que enfraquecem o governo Lula. A luta política é para que eles sejam expulsos em troca de militantes da luta dos oprimidos, a luta por um governo dos trabalhadores.
O MRT apresenta uma política correta de ser contra a aliança com os golpistas de 2016 e com o bolsonarismo, a esquerda deve defender uma política de independência de classe. No caso do governo, como dito acima, isso se expressa na luta pelo governo dos trabalhadores. Nesse sentido não se deve atacar pessoas como Lula ou o ministro do Trabalho, ambos ligados a CUT e ao PT, mas sim os outros membros como o próprio Alckmin. Por isso o termo “Lula-Alckmin” expressa tão bem o erro do MRT, ele ataca o governo na totalidade ao invés de atacar apenas a ala direita do governo, nesse caso Geraldo Alckmin.
O MRT então tenta afirmar um direitismo de Lula que não existe: “O emblemático caso do apoio de Lula ao governo golpista de Dina Boluarte no Peru, se alinhando com o presidente dos Estados Unidos Joe Biden, quando a população rechaça esse golpe e pede a queda de Dina é uma expressão cabal dessa contradição.” O presidente Lula não defende o governo golpista do Peru, ele simplesmente quando Castillo declarou o fechamento do Congresso assumiu uma postura legalista. Não existe apoio ao governo golpista de Dina Boluarte, no entanto, isso é um exagero do MRT para tentar provar um direitismo de Lula no âmbito internacional. A organização ignora que Lula é um grande aliado de Maduro, Ortega e dos cubanos, algo importantíssimo na conjuntura latino americana. O tal envio de munições tão citado é de armas de baixa letalidade, enquanto isso Lula negou o envio de armas reais ao governo da Ucrânia sobre uma pressão gigantesca do imperialismo e até foi sancionado por isso, pelo governo da Alemanha.
Logo depois o texto erra na análise sobre o 8 de janeiro: “O importante fracasso da reacionária ação golpista de 8 de janeiro fortaleceu o novo governo que se assenta em um regime político degradado pelo golpe institucional.” É obvio que o governo Lula saiu enfraquecido e desmoralizado após uma manobra de muito sucesso dos militares. É importante compreender que o ato bolsonarista não foi uma tentativa de golpe derrotado, algo que fortaleceria o governo de fato, mas sim apenas uma mobilização inicial de desestabilização, que teve muito sucesso. Isso é muito relevante, pois mostra que o governo Lula, na verdade, está sendo sitiado pela direita, com destaque para os militares, mas também a imprensa burguesa, os bancos e o próprio imperialismo. Nessa conjuntura está em pauta com muita frequência defender o governo contra os ataques da direta.
O artigo segue em sua tese: “o que estamos vendo é uma grande legitimação do governo, um fortalecimento em especial do judiciário e um debilitamento do autoritarismo militar, especialmente depois do 8 de janeiro. Apesar do debilitamento dos militares na conjuntura, a mudança de governo não significou um fim das tendências cada vez mais autoritárias do regime político que vieram se exacerbando desde o golpe institucional.” É importante o destaque ao autoritarismo do judiciário, que é muito ignorado pela esquerda, mas alegar que os militares estão fracos em meio ameaça golpista é uma política muito perigosa. Foi uma política como essa em 1964 que fez o PCB não organizar a resistência ao golpe de Estado contra o presidente João Goulart.
O texto então faz uma análise do governo como se ele fosse o Lula de 2003: “Como parte desta política, que privilegia o acomodamento das forças da direita dentro dos dispositivos de poder da administração lulista, o governo já busca conter e institucionalizar todo e qualquer movimento que surja de forma independente.” Essa análise truncada totalmente fora da realidade é o que faz o MRT defender uma política errada sobre como atuar durante o governo Lula. Ao contrário de 2003, o presidente Lula está até mesmo estimulando a mobilização popular quando entra em confronto com a direita, como foi no caso do Banco Central. Após 3 dias de luta de Lula contra os banqueiros, os sindicatos de bancários de todo o Brasil chamaram mobilizações contra a autonomia do BC. Foi o caso também dos encontros com sindicalistas em que Lula disse que tinha que brigar. Essa política não existe só em palavras, pois pouco depois a CUT defendeu um aumento maior que o do governo, algo que nunca havia acontecido nos mandatos petistas anteriores.
O MRT, portanto, ignora que atual conjuntura é de um governo que luta contra o imperialismo e que precisa de apoio popular nessa luta. Não só isso como essa é uma situação perfeita para a esquerda revolucionária. Não é necessário perder a sua idenpendência, pois Lula apresenta de fato políticas em defesa dos trabalhadores, e nessas lutas a esquerda revolucionária deve atuar e impulsionar. Foi o caso do BC, é o caso da reestatização da Eletrobrás, provavelmente será o da Petrobrás e muitos outros virão. E não só isso como é possível ir além de Lula, ele não fala muito de reforma agrária, mas se sabe que essa é a política de Lula e que atual conjuntura é a melhor nos últimos 30 anos para a luta dos sem terra. Todas as lutas podem e devem ser impulsionadas sem se colocar contra Lula. A campanha golpista existe e a tendência é que as forças independentes tenham que sair em defesa do governo Lula contra a direita.
Esse é o grande erro do MRT, não compreende como atuar de forma independente sem se tornar uma força de oposição ao governo. A oposição ao governo é o imperialismo, frente a isso toda a esquerda nacional é irrelevante. A esquerda nacional, entretanto, pode mobilizar milhões de trabalhadores em defesa das suas reivindicações e o presidente Lula deve acatar a muitas dessas caso existe uma mobilização. A independência também deve ser usada justamente para estimular essa mobilização, pois a pressão sobre Lula é gigantesca, mas os partidos que estão no governo podem defender a sua política. Se Lula falar em aumento de 100% do salário mínimo, por exemplo, a bolsa despencar violentamente. Já se existir um movimento enorme de ruas em defesa dessa reivindicação e Lula acatar as bases, a pressão da direita sobre o governo será bem menor. Esse é o caminho para a esquerda revolucionária e não o ataque ao governo “Lula-Alckmin”