Na última semana, a relação de Lula foi para o primeiro plano da luta política. O imbróglio envolvendo a votação da MP dos Ministérios, do arcabouço fiscal e do marco temporal revelou a fragilidade do governo dentro do parlamento. Diante de tal quadro, a imprensa burguesa lançou uma campanha para forçar o presidente à direita.
Um desses artigos, que indicam o tom de como a imprensa pressiona o governo, foi publicado na Folha de S. Paulo. Com o título de “Situação de Lula com Congresso pode ficar insustentável, dizem cientistas políticos em debate”, os funcionários da Família Frias se lançaram a fazer chantagem contra o presidente.
A tese geral do artigo é a seguinte: o presidente Lula está totalmente imobilizado no Congresso, pois os deputados, majoritariamente de direita, não “se dobram” ao governo. Para conquistar o apoio dos congressistas, seria preciso dividir melhor os ministérios e os demais cargos, pois estariam concentrados demais nas mãos do PT.
Portanto, para que o presidente melhorasse a relação com o Congresso Nacional, seria preciso colocar o PT de lado e impulsionar os direitistas. Seria preciso, de acordo com alguns analistas ouvidos pela Folha – escolhidos, evidentemente, para atender aos interesses editoriais do jornal –, aproximar-se dos Republicanos, mais ainda da União Brasil e ceder ideologicamente nas questões mais espinhosas.
Para a Folha de S. Paulo, o problema de Lula seria o privilégio ao PT em detrimento do restante do que chamaram de base aliada. Ademais, eles citaram que os deputados conservadores representam uma força mais significativa no parlamento. No final das contas, todos os apontamentos levam a uma só solução: é preciso ir para a direita, abrir mão de seu programa, negociar com o Congresso – ou o governo cai.
Trata-se de um mecanismo de chantagem contra Lula, organizado pelos monopólios da comunicação. Tal trabalho é orientado a fazer o presidente se curvar a Arthur Lira, solapar o caráter esquerdista de seu governo e facilitar um possível golpe ulterior.
Não se deve ceder a esta campanha. Pelo contrário, é preciso denunciar aos quatros ventos a jogada da burguesia. Deve-se esclarecer os trabalhadores do mecanismo de coerção direcionado contra Lula, da queda de braços que o presidente tem de travar contra Arthur Lira e de que o caminho para resolver tal situação é mobilizar o povo. Apenas com o apoio dos trabalhadores, efetivamente sustentando o governo, é que Lula pode se manter.
Para conquistar tal apoio ativo, é preciso lançar mão de medidas enérgicas, que sejam capazes de desenvolver a situação econômica e imediata dos trabalhadores. Além do mais, é necessário que Lula chame o povo às ruas e que se faça uma pressão à esquerda, capaz de contrapor-se à pressão direitista realizada pelos grandes monopólios da imprensa.
Portanto, é necessário denunciar incansavelmente a campanha da direita golpista, que visa a acanhar o governo e impedi-lo de tomar medidas à esquerda. Finalmente, além da denúncia dessa situação, é preciso mobilizar o povo para enfrentar a direita e para poder levar à vitória os interesses da classe trabalhadora – que, agora, sob um governo de esquerda, tem um campo aberto para partir para a ofensiva.