Imprensa norte-americana

Imperialismo pressiona para que ‘Israel’ faça acordo com Hamas

Colunista do The New York Times exorta o governo Biden a intervir para salvar “Israel” da crise

A imprensa imperialista norte-americana começa a deixar claro que a situação do Estado de “Israel” em Gaza é insustentável e que é necessário, por assim dizer, um recuo das forças israelenses para que o quadro já ruim não se transforme em verdadeira catástrofe.

Em artigo de opinião, publicado na última sexta (22), Thomas L. Friedman, o principal colunista em matéria de relações internacionais do jornal, exorta o governo Biden a dar a “Israel” um “tough love” (“amor duro”, “amor difícil”, em tradução literal), expressão que designa o tratamento mais duro ou severo oferecido a alguma pessoa com a intenção de ajudá-la. Em outros termos, Friedman defende que os EUA aumente o tom com “Israel”, propondo um novo plano para a situação em Gaza, de forma a auxiliar seu principal ponto de apoio na região a sair do lamaçal em que se encontra.

A opinião de Friedman guarda um interesse particular. Ganhador de três Pulitzer e com extensa trajetória em cargos de chefia num dos principais jornais do imperialismo, The New York Times, Friedman não expressa uma opinião puramente pessoal, mas manifesta uma posição que tem circulação dentro dos círculos de decisão do imperialismo. Sua opinião, nesse sentido, é a opinião de correntes internas do bloco imperialista.

O imperialismo reconhece as derrotas

Friedman começa seu artigo convocando o governo Biden a intervir sobre os rumos da política israelense. É hora de Biden fazer isso, é hora de os EUA fazerem aquilo ― eis o tom do início da coluna do analista do imperialismo.

Em cada período, Friedman reconhece as derrotas e as situações de desvantagem em que o Estado sionista ou os próprios EUA se encontram no momento. Ele fala em como “seria bom se Israel pudesse travar esta guerra em Gaza sem matar milhares de civis”; fala que é hora de deixar de “perder tempo à procura da resolução perfeita de cessar-fogo da ONU em Gaza”; declara, a respeito de “Israel”, que “o objectivo da sua guerra de varrer o Hamas da face da terra não será alcançado – pelo menos não a um custo que os EUA ou o mundo irão tolerar, ou que Israel deveria querer”; afirma que “neste momento o primeiro-ministro israelita é totalmente inútil como líder”.

O articulista do The New York Times reconhece, em resumo, que a situação do Estado de “Israel” não vai bem, tanto política quanto militarmente, e que é necessária intervenção do “melhor amigo de Israel, o presidente Biden”, com a proposta de um novo plano para o regime sionista enfrentar a crise. 

Um novo plano para “Israel”

Friedman defende que os EUA orientem o regime israelense a fazer a seguinte proposta para o Hamas: “retirada total israelita de Gaza, em troca de todos os reféns israelitas e de um cessar-fogo permanente sob supervisão internacional, incluindo observadores dos EUA, da OTAN e árabes. E nenhuma troca de palestinos nas prisões israelenses.”

Segundo Friedman, essa proposta traria vantagens para “Israel”, vantagens que responderiam a dois problemas fundamentais.

Em primeiro lugar, o novo plano solucionaria o problema dos reféns israelenses. Friedman coloca em primeiro plano que a questão dos reféns é geradora de uma crise permanente dentro do regime político israelense. Ele afirma que “a esmagadora maioria do país quer hoje o regresso dos seus mais de 120 reféns – acima de quaisquer outros objetivos de guerra”. Além disso, pontua que “A questão dos reféns está a enlouquecer os israelitas, por boas razões, e está a tornar impossível a tomada de decisões militares racionais”. Em outros termos, o problema dos reféns é fonte de insatisfação popular crescente com o governo, além de constituir um elemento de crise dentro da maquinaria militar sionista.

Em segundo lugar, a nova proposta atacaria o desastre humanitário causado pela resposta israelense à ação das forças palestinas em 7 de outubro. “O Hamas, como organização militar, merecia ser punido e abatido, e foi consideravelmente prejudicado. Mas esse enorme número de civis mortos, feridos e deslocados de Gaza produziu um desastre humanitário. E Israel não tem nenhum plano – na verdade, não tem um plano desde o início da guerra – sobre como esta crise humanitária será gerida e remediada, e como induzir os palestinos e árabes não adeptos do Hamas a se apresentarem e se associarem a Israel para reparar e administrar uma Gaza do pós-guerra”, explica o colunista.

Friedman menciona, inclusive, a existência de um “desconforto crescente” entre a cúpula das Forças Armadas israelenses e o governo Netanyahu, tendo em vista a ausência do estabelecimento por este último de “um objetivo político, calendário ou mecanismo claramente definidos para ganhar e manter a paz”.

Friedman resume a ideia geral da nova proposta de acordo nos seguintes termos: “Israel deveria simplesmente sair e deixar que a pessoa que iniciou esta terrível guerra, sabendo, mas não se importando que ela levaria à morte e à destruição milhares de habitantes inocentes de Gaza, gerisse a limpeza. E esse é o líder do Hamas, Sinwar. A melhor maneira de desacreditar e destruir Sinwar é Israel deixar Gaza e fazê-lo sair do seu túnel, enfrentar o seu povo e o mundo e assumir sozinho a reconstrução de Gaza.”

O plano expressa o reconhecimento explícito de que o Estado de “Israel” perdeu totalmente o controle da situação. Friedman propõe abertamente o recuo de “Israel”, como condição para que novas derrotas não se acumulem nos ombros do enclave imperialista no Oriente Médio. O plano prevê a entrega da Faixa de Gaza para o Hamas, a fim de que a força política palestina “assuma o problema” da destruição de Gaza. Os cálculos do imperialismo vão no sentido de que o Hamas, uma vez encarregado da tarefa de reconstruir Gaza, não estaria à altura da tarefa, entraria em crise e perderia apoio popular. 

O conto de fadas deve chegar ao fim

Como é possível concluir, o novo plano proposto por Friedman parte de dois supostos intimamente relacionados: (i) do ponto de vista imediato, a situação está perdida para “Israel” e, portanto, (ii) é preciso entregar Gaza para o Hamas e apostar num eventual fracasso futuro da organização política palestina. O imperialismo já traça planos para o futuro, porque o presente não parece oferecer saídas para contornar a derrota geral.

O imperialismo norte-americano se revela cada vez mais preocupado com a questão palestina e a situação do regime político sionista. E não é para menos: as eleições presidenciais se aproximam, Trump emerge na liderança isolada da corrida para o cargo máximo do Estado norte-americano, e o quadro de instabilidade e crise da dominação imperialista no Oriente Médio tende a ter papel decisivo no pleito.

Diante da urgência da situação, Friedman, em tom realista, sintetiza o cenário de crise: “Não, não é o final de conto de fadas que os israelitas esperavam depois de 7 de outubro – uma Faixa de Gaza totalmente livre de qualquer vestígio do Hamas, permanentemente controlada por “Israel” e por algum parceiro palestino de fantasia totalmente submisso e toda a reconstrução paga pelos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. Mas isso sempre foi um conto de fadas.” 

O imperialismo manda “Israel” abandonar o conto de fadas e recuar.

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