Desde o momento em que o imperialismo deu início à guerra na Ucrânia em 2022, utilizando este país como bucha de canhão contra a Rússia, vem utilizando sua máquina de propaganda para falsificar a realidade e passar a imagem de que o gigante do leste europeu está sendo derrotado.
Contudo, a cada dia, tal propaganda fica mais insustentável, à medida que a própria guerra vai ficando impossível de ser sustentada pelo imperialismo, especialmente após a ação libertadora da resistência palestina em 7 de outubro, já que os países imperialistas tiveram de centrar seus esforços bélicos no Oriente Médio.
Demonstrando que os países imperialistas não estão mais conseguindo sustentar o esforço de guerra, em recente declaração, Aleksey Arestovich, assessor de Zelensky, diz que o imperialismo basicamente jogou a Ucrânia debaixo do ônibus no seu conflito com a Rússia ao não fornecer a Kiev a quantidade necessária de ajuda militar:
“A verdadeira responsabilidade cabe àqueles que prometeram à Ucrânia apoio real para travar uma guerra real e grande e não o forneceram. Em outras palavras, eles nos ferraram”.
Segundo o mesmo, o imperialismo britânico, ainda em 2022, teve papel importante em impedir um acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia:
“Esta nossa guerra poderia muito bem ter terminado com os Acordos de Istambul”, referindo-se às tratativas realizadas entre os dois países, sob o intermédio da Turquia, na primavera de 2022. Apesar do acordo ter progredido inicialmente, estagnou após a intervenção do imperialismo britânico, na pessoa do ex primeiro-ministro Boris Johnson, que havia visitado Kiev.
A declaração vai no mesmo sentido de outra dada por um aliado de Zelensky, o parlamentar ucraniano David Arakhamia, segundo o qual Boris Johnson disse explicitamente que o acordo não deveria ser assinado:
“Quando regressámos de Istambul, Boris Johnson veio a Kiev e disse que não assinaríamos nada com [os russos]. E [disse] ‘vamos continuar lutando’”.
Ao falar para a imprensa, Arestovich denuncia que a ajuda militar do imperialismo era necessária para a Ucrânia vencer a guerra, na qual tinha sido inserida pelos próprios países imperialistas. Contudo, “não veio nada. Pagamos um preço enorme por isso.”
Declarações e denúncias como esta poderiam dar a entender que o ajudante de Zelensky estaria contra o imperialismo. Ledo engano, pois ele diz também que a ajuda do “ocidente” não veio por causa da “estupidez e a corrupção da liderança ucraniana deram-lhes muitas razões formais e informais para nos ferrarem”.
Novamente, levantam-se as acusações de corrupção contra o governo Zelensky. E, como se sabe, acusações de corrupção tendem a significar planos do imperialismo para derrubar governos que estão sendo um obstáculo aos seus interesses e/ou que estão sendo uma fonte de crises de difícil gestão.
Nesse caso, o imperialismo tenta mascarar o fato de que está sendo derrotado pela Rússia, colocando a culpa de sua derrota na corrupção dos “oligarcas” ucranianos. É uma tentativa de sair dessa derrota, mas sem que pareça ter sido derrotado. Para isto, podem tentar substituir Zelensky.
De qualquer forma, é mais um sinal de que a tal contraofensiva ucraniana, que havia sido propagandeada pelo imperialismo como um evento que resultaria em uma virada do jogo na guerra, fracassou, tornando praticamente certa a derrota da Ucrânia e, por conseguinte, do imperialismo.
Vale lembrar que, recentemente, o ministério da defesa russo informou que Kiev chegou a perder mais 90 mil soldados desde o início da ofensiva, sendo que só em novembro o número de baixas chegara a 13 mil.
Não coincidentemente, o canal de TV ucraniano 1+1 soltou matéria, no início desta semana, informando que o número de baixas ucranianas havia ultrapassado o número de um milhão (3% da população do país), com mais de 400 mil destes mortos em decorrência da guerra. Uma situação catastrófica, ainda mais levando em conta que a maioria dessas baixas é de homens entre a idade de 18 e 40 anos. Um detalhe, quando se diz baixas, nelas estão inclusas não apenas o número de mortos, mas também de feridos, desaparecidos, prisoneiros de guerra, desertores, todos aqueles que não podem ser contados como efetivos de guerra, conforme dito por Robinson Farinazzo. Cumpre informar que a matéria foi deletada, e o canal pediu desculpas, haja vista a crise política que tal informação poderia gerar.
Foram mais de US$200 bilhões gastos pelo bloco imperialista de conjunto, utilizando a Ucrânia como bucha de canhão para destruir a Rússia. Um esforço inútil, pois o gigante do leste saiu fortalecido e o imperialismo, em especial o europeu, mergulhou mais afundo na crise política e econômica em que já se encontrava. De forma que agora não está mais conseguindo sustentar a guerra na Ucrânia. Como bem apontou Douglas Macgregor, coronel aposentado dos Estados Unidos, “a guerra na Ucrânia está perdida”, pois os estoques de munição norte-americanos estão praticamente vazios.
Especificando essa situação crítica, este Diário calculou que enquanto a Ucrânia gasta 130 mil cartuchos de munição de artilharia por mês, os EUA só têm condições de produzir 30 mil. No mesmo sentido, o comandante Robinson Farinazzo apontou, no programa Análise Internacional, que foi ao ar nessa segunda-feira (27), que, em 20 meses de guerra, a produção bélica dos norte-americanos teve um aumento de apenas 10%, enquanto que os russos “produzem a todo vapor” e têm reforço do Irã e da Coreia do Norte, além da Bielorrússia e da China. Ademais disto, a exportações de material bélico da Turquia para a Rússia atingiu novos recordes nesse ano de 2023.
Foram cerca de US$158 milhões em exportações de 45 bens que os EUA listam como “de alta prioridade” para a Rússia (itens como microchips, equipamentos de comunicação e peças como miras telescópicas) e cinco antigos países soviéticos que estariam agindo como intermediários para Moscou. Esse número corresponde a três vezes o nível registrado no mesmo período de 2022, quando começou a guerra na Ucrânia.
Um desses países foi o Cazaquistão, que registou importações de bens de alta prioridade da Turquia no valor de US$6,1 milhões no ano até setembro, mas os dados da Turquia mostram que as exportações desses bens para o país vizinho à Rússia chegaram a US$66 milhões de dólares durante o mesmo período.
Em outras palavras, mais uma demonstração de que a tentativa do imperialismo de sancionar a Rússia, mesmo o seu esforço de guerra, vem falhando miseravelmente, inclusive em relação à Turquia, que é um país membro da OTAN, demonstrando o fracasso dos EUA em sua aventura militar na Ucrânia.
De um lado, tem-se então que o imperialismo não consegue mais sustentar o esforço de guerra na Ucrânia, de forma que setores da burguesia imperialista cada vez mais se recusam a dedicar parte de seu orçamento a enviar materiais bélicos ao país do leste europeu. Por outro lado, temos que a Rússia segue fortalecendo sua indústria bélica e aumentando seu comércio com outros países atrasados, tais como a Turquia, o Irã, a Coreia do Norte, o Cazaquistão, a China e outros.
Uma situação que inclusive levou Sergey Naev, tenente-general do exército ucraniano responsável pela defesa da fronteira norte da Ucrânia, a declarar recentemente que se a Rússia continuar aumentado a sua produção bélica, e o envio de armas por parte do imperialismo à Ucrânia continuar a diminuir, os russos poderão expandir sua ofensiva para além das regiões do leste e do sul da Ucrânia (ou seja, para norte e para o oeste), visando mais conquistas territoriais de ordem defensiva, dificultando mais ainda aos países imperialistas realizar um acordo com a Rússia para sair dessa aventura militar sem parecer derrotados.
Assim, os mais recentes acontecimentos na Ucrânia apontam para a possibilidade que o imperialismo, junto do país do leste, caminha para uma nova derrota, que servirá para aprofundar a crise geral do capitalismo mundial.