O Secretário de Estado dos Estados Unidos da América (EUA), Antony Blinken ao ser questionado sobre qual “a maior ameaça à humanidade”, se guerra nuclear ou mudança climática, respondeu que ambas estavam no mesmo patamar.
O questionamento ocorreu neste domingo, dia 30 de julho, numa participação de Blinken no programa 60 Minutes Australia. Os críticos de Blinken apontam que a política de Washington, armando a Ucrânia no conflito contra a Rússia pode ocasionar uma guerra nuclear.
A entrevista
Frente às duas principais políticas norte-americanas, de apoio ilimitado a Kiev, e a intervenção nos demais países para a redução da emissão de carbono – curiosamente nos países atrasados-, Blinken proferiu: “a maior ameaça à humanidade”.
Sua resposta foi “você não pode, eu acho, tem uma hierarquia”, afirmando que todas possíveis ameaças à humanidade estariam no mesmo patamar. Blinken segue: “Existem algumas coisas que estão na frente e no centro […] incluindo conflitos potenciais”, para depois ratificar a suposta mudança climática como ameaça global “mas não há dúvida de que o clima representa um desafio existencial para todos nós.”
Mais a frente Blinken reafirmou que para Washington as “questões climáticas” são mais relevantes. “Para nós este é o desafio existencial de nossos tempos”. E acrescentando que isso “não significa que não haja desafios severos à ordem internacional, como a agressão da Rússia contra a Ucrânia”.
Redução da emissão de carbono
Há algum tempo, há uma campanha em torno da questão das emissões de carbono, que vem se acirrando. Essa iniciativa, por ser parcial, serve aos interesses políticos do imperialismo, e não ter lastro científico adequado.
O representante especial do presidente dos EUA para o clima, John Kerry, chegou a exigir alterações no sistema agrícola mundial para reduzir as emissões de carbono da agricultura visando evitar “meio grau de aquecimento até meados do século”.
Ocorre que os países atrasados seriam os mais afetados pela mudança no sistema agrícola, tendo em vista que os commodities deste setor são essenciais em suas economias. Pela sua fragilidade econômica, esses países atrasados também são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Entretanto, pelos mesmos motivos são os que menos influenciam no processo.
Custos à América do Sul
Segundo estudo da Deloitte, afirmando que as mudanças climáticas poderão causar perdas de US$ 17 trilhões na América do Sul, entre os anos de 2021 e 2070. O estudo foi apresentado no Fórum Econômico Mundial 2022, que aconteceu em Davos, na Suíça e expressa bem a campanha imperialista.
O estudo coloca uma possível redução de 18 milhões de vagas de empregos até 2070, com redução na produção industrial nos países do sul em US$ 3,5 trilhões, enquanto o varejo e o turismo perderiam US$ 2,3 trilhões.
“Uma rápida descarbonização traria um lado positivo significativo se iniciada agora. A partir de meados da década de 2060, a América do Sul poderá atingir seu ponto de virada, quando os ganhos econômicos da descarbonização começarem a superar os custos.” afirma o estudo.
O que a Deloitte omite no documento é que toda a América do Sul sofre um processo de desindustrialização, decorrentes da intervenção imperialista. Omissão que não é uma novidade se tratando da Deloitte, a mesma empresa da elisão fiscal do Luxemburgo leaks, e que ignorou um rombo de caixa de mais de R$ 2,5 bilhões no Banco Panamericano.
“Apesar dos desafios complexos, o Brasil mantém seu potencial de ser líder na transição global para um mundo resiliente ao clima. Com vistas a um futuro de ações climáticas ambiciosas, é preciso já preparar o terreno para uma rápida descarbonização ainda nesta década”.
O tipo de ação imperialista está mais para uma campanha pré guerra contra os países imperialistas que uma preocupação minimamente real. São os países capitalistas plenamente desenvolvidos que influenciam em maior grau no ecossistema mundial, qualquer mudança teria que iniciar por eles.
Apoio irrestrito a Kiev
Sob a liderança de Joe Biden, Washington e seus aliados na OTAN armaram a Ucrânia com mísseis de longo alcance, munições clusters e havendo ainda a possibilidade do fornecimento de caças americanos para Kiev. A guerra por procuração na Ucrânia está nos seus últimos atos, finalizando a queda de Kiev, liderada por Volodymyr Zelensky, como reconhecido por membros da OTAN.
O conflito perdura, com Kiev persistindo morbidamente apenas pela nutrição imperialista da OTAN, ocorre que essa transferência de recursos militares, principalmente munições, não pode continuar sem comprometer o potencial bélico individual dos países imperialistas.
Neste cenário, o apoio incondicional de Biden a Zelensky, ou melhor sua oposição irrestrita a tentativa de sobrevivência e independência da Rússia, tal com é hoje liderada Vladimir Putin, pode escala o conflito para uma guerra aberta entre as potencias nucleares.
Uma guerra nuclear não se trata de uma distopia quando falamos dos EUA, único país a utilizar esse tipo de armamento em civis. O próprio governo de Nova York reconhece a possibilidade de guerra nuclear em suas campanhas à população, apenas não oferece qualquer refúgio aos civis.
Críticas internas
Diversos setores da OTAN, que sofreram prejuízo considerável com a guerra entre Ucrânia e Rússia, demonstram descontentamento com o rumo dos acontecimentos. Até mesmo setores da política norte-americana externam essa preocupação, principalmente alas do Partido Republicano.
Duas das figuras mais expressivas significativas a clamarem o fim da intervenção imperialista dos EUA na guerra da Ucrânia foram o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson e o ex-presidente Donald Trump.
Em março Trump alertava: “Todos os dias essa batalha por procuração continua, arriscamos uma guerra global”. Completava argumentando que “devemos apoiar a mudança de regime nos Estados Unidos” para evitar esse risco. Em abril, Trump afirmou que enfrentamos “o período mais perigoso” em razão do risco nuclear e liderança “incompetente” em Washington.