Quando os primeiros sinais da propaganda por uma mulher negra no STF apareceram, com outdoors em Nova Deli, durante reunião do G20, e na Times Square em Nova Iorque, já era claro que se tratava de propaganda imperialista. O objetivo: desgastar Lula internacionalmente e internamente e também influenciar na escolha do próximo ministro do STF.
Em suma, era o imperialismo fazendo a campanha através de ONGs e instituições com aparência progressista.
Setores da esquerda que repetem a campanha objetara, dizendo ser legítimo querer uma mulher negra no STF, como se essa fosse a discussão. Enquanto isso, a própria imprensa golpista brasileira dá destaque à campanha. Só mesmo um trouxa para acreditar que essa imprensa, declaradamente inimiga do povo, estaria preocupada com a “representatividade” e “diversidade”.
Eis que nesse dia 23, um artigo de opinião, publicado por nada menos do que o Estado de S. Paulo, porta-voz da burguesia nacional, retoma a defesa da mulher negra no STF. Com o título “Identitarismo nunca é branco?”, assinado por Daniel Bento Teixeira, o artigo tenta mostrar que a campanha não é “identitária”.
“A nomeação de uma ministra negra para o Supremo Tribunal Federal (STF), por exemplo, é fundamental para a evolução e consolidação democrática do País. Há quem se levante contra essa demanda, mesmo se dizendo progressista ou de esquerda, evocando a ideia de identitarismo.”
“Há quem se levante contra”, diz o colunista. Que absurdo ficar contra uma campanha tão nobre impulsionada por órgãos tão nobres como o imperialismo. O autor ganha espaço num dos jornais mais direitistas do País para insinuar que quem é contra essa campanha não seria de esquerda ou progressista. É muita cara de pau.
“É irônico perceber que a noção de identitarismo recai sempre sobre pautas indígenas ou negras, além de outras dimensões de equidade, mas nunca sobre movimentos da branquitude. Segundo esta lógica, uma ministra negra no STF seria identitarismo, porém 11 ministros brancos e homens não seria identitarismo. Então, o identitarismo nunca é branco?”
Respondendo a pergunta do autor, sim, o identitarismo não apenas pode ser branco como sua origem é branca e racista. Entre outras ideias é a de que uma raça não deve se misturar com outra. Ou seja, grosso modo, o identitarismo acredita que o critério fundamental da sociedade é a raça ou determinados grupos, cada um com sua identidade própria.
É o que faz o identitarismo atual. Acredita que o critério fundamental da sociedade são as raças ou grupos com determinadas “identidades”. Por aí, podemos notar que o identitarismo atual tem a mesma raiz reacionária do identitarismo branco.
E se há dúvidas sobre esse critério, basta ver a campanha pela “mulher negra no STF”. É a própria definição de identitarismo justamente porque substitui o problema político fundamental pela raça e o sexo. Colocar uma mulher negra resolverá os problemas por si só, não importa quem ela seja, o que ela defende etc.
O autor questiona o que são os 11 ministros brancos no STF. A resposta é simples: são a burguesia. Eles representam os poderosos. E sabem quais são alguns dos poderosos que eles representam? Os donos do Estadão, os financiadores da campanha pela mulher negra no STF, a Globo. Só por aí já é possível perceber a farsa.
O critério da mulher negra no STF é errado por vários motivos. Porque ser negro não significa ter uma política correta. Porque ter um negro ou não no STF, a instituição mais antidemocrática do País, não vai transformá-lo em democrático. Porque quem está fazendo essa campanha são os principais responsáveis pelo sofrimento do povo brasileiro. E como o próprio colunista afirma corretamente, os negros são a maioria desse povo.