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Censura “do bem”

Identitarismo: licença para censurar

Identitarismo se preocupa mudar palavras em vez de travar a luta de classes e combater a burguesia

Ao completar 70 anos, James Bond enfrenta um novo adversário, e não se trata de nenhuma ‘ameaça comunista’ ou de algum maluco tentando dominar a Terra, mas da censura. Isso mesmo, querem substituir ou suprimir trechos considerados ‘sensíveis’ dos livros de Ian Fleming. Os herdeiros de Fleming, que administram os direitos autorais, farão uma nova edição retirando aquilo que consideram linguagem racista.

Segundo a família: “Algumas palavras racistas que ofenderiam as pessoas hoje em dia e reduziriam o prazer da leitura foram ajustadas”.

Esse ato de censura, existem outros, suscitaram um debate no Reino Unido, alguns acreditam que as alterações vão longe demais, e outros acreditam que sejam insuficientes. De fato. Peguemos, como exemplo, um desses filmes que tratam os árabes como terroristas: adiantaria suprimir um termo como ‘maldito árabe’? A peça, na sua essência, estigmatiza um povo, pouco importaria a supressão de uma palavra. E também não concordamos com a censura desse tipo de filme.

Cinismo e hipocrisia

Segundo o The Independent, os termos potencialmente ofensivos a pessoas negras seriam alteradas, mas o mesmo tratamento não seria dado aos norte-coreanos. As expressões que degradam as mulheres ou a homossexualidade continuarão a figurar nos romances, o que já está causando a reação como a da escritora Clementine Ford, que é especialista do sexismo nas obras de James Bond. Segundo Ford, esse ‘desprezo’ com as mulheres torna Bond ainda mais charmoso para o grande público.

A sanha identitária anda a mil por hora. Ninguém se assuste se amanhã filmarem um James Bond negro, ou com ‘problemas existenciais’ por se descobrir apaixonado por outro homem. A indústria do entretenimento já mergulhou de cabeça nessa onda, não faltam pessoas negras entre os vikings ou frequentando algum salão vitoriano.

Monteiro Lobato

Estamos passando no Brasil pelo mesmo problema: a bisneta de Monteiro Lobato quer ‘rever’ a obra de um dos maiores escritores brasileiros. Alguns, mais comedidos, dizem que não seria necessário mudar os textos, bastaria colocar observações de rodapé que justifiquem este ou aquele termo.

Gerações inteiras cresceram lendo as obras de Lobato, e até causa espanto a seus leitores que se queira tratar o autor como um mero racista.

O identitarismo e o ‘politicamente correto’ nada mais são que formas de censura. É um preconceito invertido. Aqueles que querem alterar livros tratam as pessoas como sendo incapazes de distinguir a ficção da realidade, daí a necessidade de serem tuteladas. Essas pessoas ‘iluminadas’ acreditam saber o que é bom ou ruim para a sociedade.

Essa tutela é de cunho medieval, é aquilo que fazia a Igreja, quando proibia determinados livros e que punia as pessoas por suas palavras. Aqueles que não estivessem de acordo com a fé iriam para a fogueira, que hoje chamamos de cancelamento.

Desvio da luta

A censura de obras é algo completamente reacionário. Mudar as palavras dos livros não altera a realidade social. Trocar todas as expressões machistas de todos os livros do mundo não fará avançar em nada a posição social das mulheres.

O que torna as mulheres pessoas de segunda classe na sociedade capitalista não são as palavras, mas as condições econômicas. Uma vez que as mulheres, em média, recebem menos que os homens para fazerem o mesmo trabalho, já está definido que são inferiores. Isso é que precisa mudar.

Com um salário menor, as mulheres serão forçadas a depender economicamente dos homens, e a desigualdade fica estabelecida. Sendo dependentes, serão ‘forçadas’ a compensar essa dependência com os trabalhos domésticos, o que é quase o mesmo que escravidão.

Jogo de Aparências

O identitarismo luta para que pessoas de determinadas identidades não sejam ‘invisibilizadas’, que apareçam em peças de propaganda, que ocupem ‘postos de mando’ etc. Pois bem, uma gerente negra do Magazine Luiza vai fazer aumentar o salário das pessoas negras, ou LGBTs que ali trabalhem? Não. Mas a empresa vai usar isso para se promover, para aparecer como uma entidade que se preocupa com acabar com o racismo. Pura demagogia.

Colocar pessoas em determinados ‘cargos de poder’ serve apenas para manter as coisas exatamente como estão. Não se mexe na exploração. A luta de classes é substituída por uma luta de cores e identidades. Os identitários, por exemplo, vão comemorar e vender a eleição de um presidente negro nos EUA como uma conquista. Não passa de uma enganação, pois os bombardeios, os golpes de Estado, os encarceramentos em massa, tudo isso vai continuar.

O identitarismo lança uma cortina de fumaça, é uma ideologia de direita que, no máximo, resolve a vida de meia dúzia de espertos. Enquanto uma ‘feminista negra’ ganha seu rico dinheirinho fazendo propaganda para marcas famosas, a esmagadora maioria das trabalhadoras negras continuam submetidas às mais degradantes condições de vida.

O debate

Se fosse o caso de questionar algo sobre James Bond, essa gente preocupada com o politicamente correto deveria se perguntar do porquê de alguém ter licença para matar, não se o indivíduo chamou alguém de ‘preto’ ou ‘gordo’.

A esquerda poderia analisar politicamente a figura de James Bond, pois nela tem muito de como o imperialismo trata os países atrasados, os quais, invariavelmente, são colocados no eixo do mal.

Os identitários precisam parar de tratar as pessoas como se fossem incapazes. Cuidarde perfumaria apenas impede que a verdadeira luta política seja travada, e isso acaba favorecendo a burguesia, que é quem realmente oprime mulheres e demais minorias.

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