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Confusionismo

Identitarismo e ecologia ou como conseguir um cargo

Patrocinada, a ideologia identitária desvia o foco dos trabalhadores. O problema não seria a dominação nacional e de classe da burguesia imperialista, mas o “modo de vida colonial”

O tema ecológico está em alta. Não só pela propaganda a sete ventos, movida pelo imperialismo, o recente caso em que Marina Silva buscou impedir a Petrobrás de realizar uma pesquisa para a prospecção de petróleo trouxe o tema para o primeiro plano. É nesse momento que a Revista Galileu publicou uma entrevista com o acadêmico e ambientalista Malcolm Ferdinand, da Martinica.

Confundir para dominar

O artigo, intitulado com uma citação, “Para proteger a Terra, é preciso ser antirracista e decolonial”, é mais uma peça identitária para confundir o panorama político e permitir o avanço do imperialismo. A introdução é já demonstrativa:

“[…] o pesquisador tem se dedicado a investigar como a lógica colonial degradou nossa relação com a natureza (e, consequentemente, todo o meio ambiente) e de que maneira o caminho inverso, da decolonialidade, pode salvar o planeta.”

“‘Enquanto os nativos [do Caribe] consideravam a Terra uma entidade sagrada, a forma colonial de habitar explorava essa mesma Mãe Terra indiscriminadamente — prática que prevalece até hoje no processo de globalização capitalista.’”

Mais adiante o acadêmico define um pouco esses conceitos de “lógica colonial” e “decolonialidade”. A forma colonial de habitar explorava indiscriminadamente, segundo o autor, mas o desenvolvimento econômico do próprio capitalismo se deu em grande parte com as riquezas do período colonial. A exploração não era “indiscriminada”, mas possuía um princípio econômico a embasando.

Ideologia movida pelo imperialismo

A generalidade das afirmações é um método para contrabandear a política do imperialismo, o que tende a ser o caso tendo em vista a formação do ambientalista: “graduado em engenharia ambiental pela Universidade College London (UCL), na Inglaterra” e doutor em filosofia política e ciência política pela Université Paris Diderot. Hoje trabalha na Université Paris Dauphine-PSL (Paris 9). 

E ainda outros detalhes, o autor veio ao Brasil para o lançamento aqui de seu livro, que recebeu o “Prix du Livre, prêmio da Fundação de Ecologia Política [Fondation de l’écologie politique], na França”, a fundação compõe a Green European Foundation, financiada pelo Parlamento Europeu. Não só isso: “ele participou de eventos para divulgar e debater o livro — entre eles, ‘Encontros para o Amanhã: saberes que reinventam o mundo’, promovido pelo Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.” Vejamos os patrocinadores do Museu e, portanto, do evento:

 

Santander, Shell, Globo, Bloomberg, entre uma série de outras empresas capitalistas de diversos ramos. E destacadas as quatro citadas, que certamente possuem uma grande preocupação ambiental.

Trajetória estranha, ideologia esquisita

Durante a entrevista, o acadêmico comenta sobre como chegou a essa defesa do meio ambiente:

“Depois de me formar em engenharia ambiental na Inglaterra, participei de uma missão humanitária em Darfur, no Sudão, onde atuei em um programa que visava garantir a populações deslocadas o acesso à água e saneamento básico. Essa experiência me direcionou para os estudos que faço hoje sobre formas de habitar a Terra.”

É notável que o autor, nascido numa ilha caribenha que até hoje é colônia da França, ao se deparar com a miséria da falta de acesso à água e saneamento, não pensou na generalização desses direitos para a população mundial, mantida na miséria pela dominação imperialista. Ao invés disso, se direcionou a estudar “formas de habitar a Terra”.

Logo em seguida:

“Muitas pessoas querem saber por que e como faço essa relação entre ecologia e decolonialidade, entre meio ambiente e emancipação. Hoje, me pergunto por que essa relação não é evidente para todos. Para mim, esse questionamento é resultado da colonização de saberes, que promove alguns tipos de conhecimentos e remove outros.

A colonização impôs uma maneira muito restrita de habitar a Terra: com monocultura, mineração, escravidão. E esse modelo, que eu chamo de habitar colonial, segue até hoje.”

Em outras palavras, a questão não seria desenvolver a produção. Finalmente, a mineração é uma base da indústria: edifícios, transportes, fábricas, computadores, comunicações, tudo está assentado sobre o produto da mineração, uma atividade essencial para o desenvolvimento humano. A escravidão ainda existe, de forma minoritária, é fato, e também ela está sustentada pelo domínio do imperialismo, que impõe o atraso à humanidade, e a exploração máxima em todo o mundo. O imperialismo é hoje um fator para a desindustrialização, como ocorreu com o golpe de 2016 no Brasil, a guerra no Iraque e a destruição da Líbia.

Colonização histórica e abstrata, e não dominação material

A base de seu pensamento tem fundações na colonização da Martinica, com o massacre da população local e o tráfico de pessoas para a escravidão: “Elas foram retiradas de suas terras e obrigadas a viver sob um regime colonial de plantation, que reduziu toda a complexidade de viver na e da Terra à extração e ao consumo dos seus recursos.”

Não citado está o desenvolvimento econômico fruto da política colonial e, pior que isso, como ele mesmo diz, a Martinica, “departamento ultramarino francês [colônia], foi uma colônia por mais de três séculos [de 1635 a 1946].” Até hoje a Martinica está subordinada à França, e essa dominação não é citada ou criticada em momento algum, o que parece estarrecedor com o trecho a seguir:

“Na Martinica, não só temos visto o rápido agravamento de vários problemas ambientais como também convivemos até hoje com a discriminação racial. A população da ilha é composta em maior parte por pessoas negras e há uma pequena, mas poderosa, parcela de pessoas brancas — além de uma minoria de origem chinesa e indiana também. Se você for lá, vai sentir também que há muitos conflitos com raízes no racismo, presentes nas instituições e até mesmo na língua.”

O que deve ser atacado, segundo Ferdinand, não é o imperialismo, mas a “colonialidade”, uma subjetividade, forma de ver o mundo, e não as relações concretas entre as classes sociais e os países.

“O que aponto no livro é que a luta pela preservação e manutenção do planeta sempre foi uma pauta prioritária para movimentos minoritários e que eles deveriam ter mais autoridade nas tomadas de decisão sobre o tema. Para reparar e proteger a Terra, é preciso ser antirracista e decolonial. Os povos originários e racializados precisam se reapropriar das questões ecológicas e ter seus conhecimentos sobre a Mãe Terra reconhecidos.”

“[…] pessoas negras e indígenas deveriam ter a maior parte do poder de decisão sobre o enfrentamento das mudanças climáticas — isso não só no Brasil, mas no mundo todo. Elas são as mais afetadas e têm a história, o conhecimento e a inteligência de propor a conceituação do problema e de possíveis soluções.”

Patrocinada, a ideologia identitária desvia o foco dos trabalhadores. O problema não seria a dominação nacional e de classe da burguesia imperialista, mas o “modo de vida colonial”. O problema na vida dessas pessoas não algo abstrato e identitário, mas sim o imperialismo e o capitalismo, que, sabotam o país para manter sua dominação

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