A Folha de S.Paulo, continuando a política identitária e golpista do imperialismo por uma ministra negra no STF, publicou, no último sábado, dia 30 de setembro, artigo intitulado: STF branco reflete racismo estrutural do Brasil, diz Flavia Rios. A matéria se refere ao lançamento de um livro sobre os conceitos identitários no que tange ao negro, mas quase metade da mesma, incluindo os destaques: título e olho (bloco de texto logo abaixo do título), se destinam a atacar Lula.
O título sugere o teor do artigo, mas vejamos no detalhe. A peça inicia com uma breve descrição da obra: os termos usados no debate étnico-racial são complexos, têm histórias longas e podem ser objeto de interpretações disputadas, e o livro dá uma visão geral da trajetória acadêmica de cada expressão, seus principais autores e as críticas mais comuns que recebem. No entanto, nada nesse sentido é exemplificado, não existe uma descrição mais aprofundada sobre a obra, o processo de escrita, a trajetória da autora, nada.
Assim, sem expor aquilo que supostamente é o tema do artigo, expõe na realidade que o livro, seu conteúdo e a autora não passam de um mero pretexto para a desonesta campanha da imprensa imperialista, que se evidencia neste fato em si. E então, começam as “críticas”:
“Ela diz estar convencida que o racismo pode ser entendido como estrutural no Brasil […] e que a composição majoritariamente branca do STF (Supremo Tribunal Federal) é um sintoma desse fenômeno.”
“Para ela, Lula erra ao criar obstáculos à indicação de uma mulher negra à corte e perde a chance de acompanhar o debate global sobre a representação de grupos radicalizados [sic] em instâncias de poder.”
Antes de entrar nesse ponto, no entanto, talvez nossos leitores estejam se perguntando: “por que, fora o título, o nome da autora não foi citado neste artigo até agora?” É simples a razão, o nome de Flávia Rios, fora o título da matéria e em sua foto, tem seu nome em apenas uma passagem do artigo, e sem destaque: “Para ajudar leitores interessados a navegar por esse universo, Flavia Rios, Marcio André dos Santos e Alex Ratts organizaram o recém-publicado” livro. Ou seja, nem mesmo pelos critérios identitários o próprio texto da Folha se sustenta.
Adentremos os pontos centrais: o racismo é apontado como estrutural, ou seja, como a base sobre a qual se sustenta a sociedade. Porém, até hoje, o país que esmaga a maior parte da população mundial, inclusive a população negra, os Estados Unidos, já foi presidido por um negro, Barack Obama, e atualmente possui uma vice-presidente negra, Kamala Harris. Além disso, o Secretário de “Defesa” dos EUA, no momento, responsável pela maior máquina de guerra do planeta após o presidente daquele país, é também negro: Lloyd J. Austin III. Mas nada disso, nenhuma das figuras negras modificou em nada o papel de dominação e exploração do imperialismo norte-americano. Ou seja, o racismo não é estrutural, mas a economia, as forças produtivas, que constituem o sistema econômico.
O STF, de forma semelhante, se constitui numa instituição para servir aos interesses da burguesia, dos setores da burguesia que o controlam. Nesse sentido, e como um dos atores políticos fundamentais para o Golpe de Estado de 2016, a indicação para o mesmo deve se pautar única, exclusivamente, pela política, pela proximidade do indicado, e pela confiança do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e por mais nada.
Uma indicação baseada em raça e/ou gênero, ademais, não levaria a vitória alguma para os setores por ela representados, o que se exemplifica pelo ministro negro e principal quadro nos julgamentos farsa do Mensalão, Joaquim Barbosa. Aqueles julgamentos levaram uma série de dirigentes do Partido dos Trabalhadores à cadeia, e tinham por objetivo final colocar o PT na ilegalidade, liquidar de fato o partido. O caráter de tal ação para com a população pobre e explorada, para os negros, as mulheres ou os índios, pode ser observado pela simples constatação do ocorrido após o golpe: uma destruição total das condições de vida da população, e o rebaixamento geral de todos os setores, desde os médios aos mais miseráveis economicamente.
Portanto, a campanha se destina a facilitar a entrada de um serviçal do imperialismo, ou alguém que mais facilmente se dobraria à pressão dele. E é por esse motivo apenas que a Folha, órgão de imprensa golpista, inimigo dos trabalhadores, leva adiante tal campanha.
Outro argumento apresentado: Lula erra ao criar obstáculos à indicação de uma mulher negra à corte, não faz o menor sentido. Que obstáculo estaria criado? Não houve decreto proibindo a indicação de uma mulher negra, o presidente simplesmente afirmou que não se basearia em gênero ou cor para fazer sua escolha, algo até natural, já que se trata de uma indicação política, para um cargo político, numa instituição política (e que se diz puramente jurídica).
A tal representação nas instâncias de poder é um golpe. Um golpe para iludir os setores oprimidos a não se posicionarem em oposição aberta às instituições que os esmagam. Portanto, o STF, ao invés de ser o tribunal que ilegalmente permitiu a prisão em segunda instância para prender Lula e tirá-lo da eleição em 2018, constituindo uma fraude eleitoral, o que levou ainda a milhares de prisões ilegais, na esteira do feito, se torna numa instância de poder a ser ocupada, não uma corte com poder acima da Constituição e dos outros poderes e que, portanto, precisa ser dissolvida.
A farsa deve ser denunciada sem trégua. O identitarismo é uma arma da burguesia para manter escravizados os negros, as mulheres e, mais que isso, todos os trabalhadores, todos os setores explorados e oprimidos. É uma política burguesa, nada mais que isso. Não à toa, seus maiores defensores são os veículos de propaganda da burguesia.