O ministro da Fazenda Fernando Haddad segue não surpreendendo, não apenas em termos de retórica, como no que diz respeito às suas ações à frente da pasta ministerial mais importante do governo. Não surpreende porque Haddad permanece coerente com tudo que pensa e de acordo com a visão de uma esquerda liberal uspiana (USP) e vinculada ao Insper (Instituto de Estudos e Pesquisas de SP) de muitos economistas e políticos do PSDB. Enquanto Lula elevava o tom contra o Banco Central independente e seu presidente Campos Neto; Haddad dava declarações dizendo que a ata do COPOM (Comitê de Política Monetária do Banco Central – BC) que explica sobre as decisões tomadas, principalmente sobre taxa básica de juros; segundo ele, “não estava tão ruim”; mais “límpida”, lúcida e coerente ao que havia sido discutido e posteriormente decidido. Uma declaração bastante desastrosa, com o objetivo de abafar a crítica acertada do presidente Lula, que busca tensionar o tema acerca da necessidade do país de sair do atraso econômico impulsionado pelo golpe de Estado de 2016 com Temer e depois com Bolsonaro.
No início da semana, Haddad liderou à frente da esquerda liberal que convenceu o presidente Lula a acabar com a desoneração dos combustíveis, em apenas dois meses de governo, sem antes traçar uma política de preços dos derivados de petróleo que atenda os interesses do país e do povo brasileiro, a partir da condução da nossa maior empresa estratégica – a Petrobrás. O presidente Lula não está apenas cercado de políticos bolsonaristas e da terceira via no interior do governo, como também do próprio partido, com a ascensão de Haddad na administração da Fazenda e de Prates na Petrobrás. Haddad, um liberal de esquerda na condução da economia e, Prates, um político também do PT, mas que é consultor de empresas no ramo do petróleo, dono de escritório de advocacia e proprietário de quatro outras empresas, sendo pelo menos duas desse setor. Para completar o trio de ferro de liberais favoráveis ao ajuste fiscal e à política de mercado do petróleo, a “queridinha” da terceira via, Simone Tebet, carrega o ministério do Planejamento como uma porta-voz dos interesses da subserviência do país aos ditames do “mercado”.
Haddad e Tebet lideram também, fazendo uma espécie de dobradinha, a política do mínimo aumento possível do salário-mínimo, que chega a ser até mesmo uma espécie de “piada de mau gosto” com os trabalhadores e o povo. O aumento de 18 reais no salário-mínimo liderado pela equipe econômica não contempla as necessidades mínimas das famílias brasileiras e não traz parte da população para o lado do governo. A proposta deveria ser de, pelo menos, dois mil reais, O correto seria cerca de sete mil, segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos e Sócio Econômicos) e não um aumento irrisório e vexatório de 18 reais. Todas essas políticas colocadas em prática não foram implementadas pela direita, mas por um governo eleito pela base do povo e dos trabalhadores.
No caso da política de combustíveis Haddad se posiciona de maneira coerente ao colocar a questão de maneira técnica e ajustada aos interesses do mercado. Com falas dúbias e sempre sinalizando ao diálogo com o “mercado”, acaba atuando como um amortecedor da mobilização política que a fala do presidente Lula aponta contrariamente.
Segundo o portal Brasil 247 “A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), criticou, via redes sociais, o jornal O Globo por defender, em seu editorial desta sexta-feira (3), a política de preços e dividendos da Petrobrás, que privilegia os acionistas em detrimento da maior parte da população. “O Globo defende a política de preços e dividendos da Petrobrás, que rendeu R$ 300 bilhões em 2 anos para acionistas privados, maioria estrangeiros. Lula quer a Petrobrás de volta para o Brasil, investindo para o país crescer e gerar empregos. Lula está certo e o Globo está errado”, postou Gleisi no Twitter. Em uma outra postagem, Gleisi destacou que o jornal da Família Marinho “também defende a política de Guedes [ex-ministro da Economia Paulo Guedes], que legou economia paralisada, com juros indecentes e sem crédito na praça. Quer julgar Lula por números que o próprio jornal reconhece como artificiais. Lula quer retomar crédito, crescimento e a renda do povo. Lula tá certo, o Globo tá errado”.
Ao mesmo tempo, Fernando Haddad adota uma postura e uma prática que não viabilizam soluções em favor do governo para solucionar questões fundamentais para a população e para o país. E, recentemente, segundo o mesmo Brasil 247 “O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite desta segunda-feira que a volta dos impostos sobre os combustíveis será combinada com uma redução dos valores cobrados pela Petrobrás. Segundo ele, a gasolina e o diesel vendidos nas refinarias para as distribuidoras estão acima da paridade com as cotações internacionais e a estatal tem espaço para reduzir preços. No entanto, ele afirmou que a contribuição da companhia respeitará o Preço de Paridade Internacional (PPI) e ocorrerá dentro da política de preços – política esta que o presidente Lula prometeu encerrar durante a campanha presidencial”.
Sem dúvida a fala e a prática de Haddad refletem a sua visão liberal na esquerda brasileira, não apenas do PT, e, ao mesmo tempo o cercamento das suas ações pela burguesia e o imperialismo. O governo está emparedado e não apresenta propostas populares para a saída da crise econômica e política acirrada pelo golpe de 2016. Tampouco consegue se comunicar com a população de maneira mais adequada, já que o próprio Ministério das Comunicações está ocupado pelo Juscelino Filho, do União Brasil, um dos partidos aliados do bolsonarismo.
O presidente Lula, em apenas dois meses de governo, precisa lidar com uma série de constrangimentos e, ao mesmo tempo, não elabora uma política de combate estratégico aos grandes problemas nacionais e aos mais urgentes. Haddad é um liberal de esquerda que “pisa em ovos” e a política dos preços do petróleo, assim como a própria Petrobrás, poderão trabalhar a favor de amarras econômicas e políticas de difícil solução se acaso não forem enfrentadas com base no apoio popular necessário ao enfrentamento da burguesia e do imperialismo.