O jornal britânico The Guardian fez uma série de reportagens desmascarando um grupo chamado Team Jorge, que afirma estar envolvido em manipulação e fraudes de mais de 30 processos eleitorais. São dezenas de horas de conversas gravadas com o líder do grupo, que se autointitula somente “Jorge”, mas cujo nome verdadeiro é Tal Hanan, e é um ex-agente de forças especiais israelenses.
Os repórteres se disfarçaram de possíveis clientes e fizeram diversas entrevistas com Hanan, algumas por vídeo chamada e muitas de forma presencial. Nas conversas, o ex-espião afirma que já interveio em 33 eleições de países da África, América Latina e Europa. Ele afirma que já realizou serviços para clientes dos EUA, mas que nunca interveio diretamente na política do país.
Entre os métodos que a empresa israelense se vangloria de utilizar estão a criação de milhares de perfis falsos nas redes sociais, nos mais diversos idiomas, com fotos coletadas de outras contas, histórias pregressas, contas de cartão de crédito e até no Airbnb. O programa utilizado pela empresa se chama Aims (abreviação de Advanced Impact Media Solutions – “Soluções de meio de impacto avançado”) Segundo Hanan, ele estaria controlando um exército de cerca de 30 mil avatares atualmente. Dentre as redes sociais, nas quais ele cria esses perfis, estão Twitter, LinkedIn, Facebook, Telegram, Gmail, Instagram e YouTube. Esses perfis postam mensagens, notícias e procuram influenciar as opiniões de pessoas dos mais diversos países.
Durante uma demonstração em um dos vídeos feitos pelos repórteres, Hanan declara:
“Esse é espanhol, russo, asiáticos e muçulmanos. Vamos criar um perfil juntos”, ele fala para os repórteres enquanto escolhe a foto de uma mulher branca. “Sophia Wilde, eu gosto do nome. Britânica. Já tem email, data de nascimento e tudo mais”.
Hanan também demonstrou a capacidade de sua equipe de invasão de contas privadas. Em um caso, ele mostra a tela da conta Gmail de o que ele classifica como “um assistente de um cara importante” nas eleições-gerais do Quênia.
Enquanto clicava nas mensagens, pastas e rascunhos do usuário, Hanan dizia “Hoje, se alguém tem um Gmail, significa que ele tem mais do que apenas um e-mail”. Hanan, depois, demonstrou como ele era capaz de invadir a conta de Telegram, que deveria ser um aplicativo de mensagens criptografado, de um alvo.
Ele demonstra que é possível ler todas as mensagens recebidas, enviar mensagens para os contatos. Colocando na tela o Telegram de um estrategista queniano, ele envia mensagens para uma mulher de sua lista “Olá, como você está, querida”, apagando-a logo depois. Hanan afirma “eu não estou apenas observando”, e depois explica como criar mensagens para os contatos pode potencialmente gerar o caos na campanha de um candidato rival.
Para outro contato, ele enviou apenas o número 11 e não conseguiu apagar depois. Um dos repórteres que fazia a reportagem conseguiu rastrear o indivíduo cuja conta foi invadida e conseguiu permissão para ver seu telefone, a mensagem ainda estava lá, provando a realidade do que afirmava Hanan.
Essa informação é um gigantesco escândalo. Uma empresa israelense, portanto, ligada diretamente ao imperialismo, tem a possibilidade de intervir em eleições ao redor do mundo. Provavelmente, os métodos revelados pelos repórteres são apenas a ponta do iceberg. Sua sabotagem de campanhas rivais não envolve apenas manipulações via Internet. Outra estratégia que ele admitiu já ter utilizado foi enviar um brinquedo sexual” para um adversário de modo a fazer parecer que ele estava tendo um caso.
Isso demonstra o quão longe o imperialismo está disposto a ir para manipular a situação política de outros países. Trata-se de uma prova de que o imperialismo, por meio de hackers israelenses, interveio recentemente nas eleições de pelo menos 33 países. Além disso, o fato de a própria imprensa internacional estar revelando isso é um demonstrativo de que as eleições são muito facilmente manipuladas. Além desses métodos, os quais o imperialismo não tem vergonha de demonstrar, deve haver muitos outros que ele prefere manter em segredo.
Isso coloca em xeque a posição de um grande setor da esquerda e da direita nacional e internacional, que defende a sacralidade das eleições. Está provado que o imperialismo está intervindo em todos os lugares e que nenhum processo eleitoral é 100% confiável. No Brasil, a esquerda acreditou ser do interesse dela (devido à vantagem do PT nas últimas eleições) defender a falsa lisura das eleições, mas quase levou a pior com essa política, com Bolsonaro tendo ficado muito próximo de vencer Lula.
É preciso demonstrar para toda a população a manipulação que o imperialismo faz nas eleições. A utilização de hackers e de todos os tipos de métodos ilegais não deve ser segredo para ninguém. A fim de defender seus interesses, eles estão dispostos a qualquer tipo de coisa. A luta contra o imperialismo deve ser constante e só se dá através da mobilização de toda a população.