No dia 8 de dezembro de 1987, quatro trabalhadores palestinos do campo de refugiados de Jabalia foram mortos quando um transportador de tanques do exército israelense avançou sobre seu micro-ônibus na passagem de Erez, um posto de fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel.
Embora a história não seja feita de acontecimentos isolados, pode-se considerar esse evento como um estopim para a Primeira Intifada, uma mobilização de massas do povo palestino que iniciou-se no dia seguinte, 9 de dezembro.
“Israel” já oprimia o povo palestino há mais de três décadas, afinal, a fundação do Estado sionista ocorreu sobre a base de uma selvagem limpeza étnica da Palestina, resultando na expulsão de cerca de 800 mil árabes, em um processo traumático que ficou conhecido como a Nakba (catástrofe). Dado o histórico de repressão, os palestinos viram a colisão que levou à morte dos trabalhadores como algo intencional, como uma retaliação pela morte de um israelense na região, dias antes (34 Years after First Palestinian Intifada, Peace with Israelis Remains Elusive, Voa News, 7/12/2021).
A Primeira Intifada ficou conhecida como “a revolta das pedras”, em razão do povo palestino lutar desarmado contra os soldados israelenses. Um episódio que ficou conhecido foi o que ocorreu logo após o funeral dos trabalhadores do campo de Jabalia. Seus familiares canalizaram sua revolta contra as tropas sionistas, hostilizando-as. Os jovens chegaram mesmo a cercar uma viatura e atacá-la com pedras. As tropas, ao reagirem, assassinaram um palestino.
Logo, a revolta acumulada espalhou-se do campo de Jabalia para outros, criando um movimento de massas e dando origem ao que viria a se chamar a Primeira Intifada. Inicialmente um movimento espontâneo contra a ditadura de “Israel”, logo contou com a participação da Organização pela Libertação da Palestina e das organizações que a compunham: Fatah, Frente Popular, Frente Democrática e Partido Comunista.
Foi nessa época, no dia 10 de dezembro, que surge o Hamas. Junto da Jiade Islâmica, que existia desde 1981, também participaram da luta, como organizações menores, mas em oposição à política da liderança da OLP, Yasser Arafat, que defendia que a Intifada fosse um movimento desarmado, para facilitar as negociações com “Israel”.
À época, a resistência palestina não tinha o nível de organização que possui hoje, capaz de impor grandes derrotas ao Estado de “Israel”, como a do 7 de Outubro. Isto, somado à forte ditadura imposta pelos sionistas e à política capituladora da OLP, acabava resultando em uma disparidade de forças. Enquanto os palestinos estavam armados com pedras e coquetéis molotov, “Israel” mobilizou 80 soldados para conter a mobilização das massas, promovendo uma feroz repressão contra o povo palestino.
A Primeira Intifada duraria 6 anos, de 1987 a 1993, resultando na morte de mais de mil palestinos e 160 israelenses.
Terminou contida pela política capituladora da OLP e do Fatah, nos Acordos de Oslo, através do qual foi criada a atual Autoridade Palestina; era prevista, pelos termos do acordo, a criação de um Estado Palestino em cinco anos; “Israel” deveria se retirar dos territórios ocupados e fazer cessar sua expansão sobre eles, seja oficialmente, seja por meio dos colonos. Em troca, a OLP e Yasser Arafat reconheciam a legitimidade política de “Israel”.
Por essa traição, o líder palestino foi agraciado com o prêmio Nobel da Paz, junto do primeiro-ministro sionista à época, Yitzhak Rabin.
Se por um lado, colocou a OLP e a Autoridade Palestina em boas graças com o imperialismo e “Israel”, por outro, o Fatah a desmoralizou perante o povo palestino, o que resultaria no crescimento da popularidade do Hamas, em especial nos anos 2000, quando ficaria claro que “Israel” jamais cumpriria os Acordos de Oslo, uma conjuntura política que daria origem à Segunda Intifada.