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HISTÓRIA DA PALESTINA

Há 116 anos, nascia fundador da Lehi, uma das milícias sionistas

Em 1940, Stern redigiu documento dirigido a Adolf Hitler, propondo aliança de sua milícia com a Alemanha Nazista

Neste dia, 23 de dezembro, há 116 anos, em 1907, nascia o judeu polonês Avraham Stern, fundador de uma das principais milícias fascistas do sionismo que atuaram durante o Mandato Britânico da Palestina, qual seja a Lohamei Herut Israel (Lutadores pela Libertação de Israel), ou apenas Lehi. Era chamada de “Gangue de Stern” pelos britânicos, dado seu caráter extremo. Tal grupo paramilitar, junto do Irgun (do qual ele se originou) e da Haganá (da qual o Irgun se originou) tiveram uma participação decisiva durante a Nakba, a limpeza étnica da Palestina, que se deu no anos de 1947 e 1948, resultando na expulsão de cerca 800 mil palestinos de suas terras, e cujo processo continua até hoje. Por essa participação, as milícias foram essenciais para a fundação de “Israel”.

Stern nasceu na cidade de Suwałki, região nordeste da Polônia. À época, a nação fazia parte do Império Russo. Apesar de ter nascido em no país em que mais se perseguiam judeus – perseguição esta adotada como política oficial pelos Czares e frequentemente desatada por grupos de extrema direita como as Centúrias Negras -, não há relatos de Stern ter sido perseguido, assim como não foram perseguidos os elementos centrais na história da fundação de “Israel”.

Em 1925, aos 18 anos, e já sionista, Stern migrou sozinho para a Palestina Britânica. Estudou na Universidade Hebraica, onde teve sua primeira atividade política como membro de uma organização estudantil sionista chamada Hulda, que tinha disposto em seu regulamento que era dedicada “exclusivamente ao renascimento da nação hebraica em um novo Estado”. Contudo, sua primeira experiência em reprimir os palestinos se deu já durante a Revolta Palestina de 1929, em que ele atuou como soldado da Haganá, uma milícia fascista do sionismo, fundada em 1920. Stern, no entanto, não ficaria por muito tempo.

Em 1931, seria formado o Irgun Zvai Leumi, que, na tradução, significa Organização Militar Nacional (OMN). Ou apenas Irgun. Essa nova milícia fascista foi formada por um membro dissidente da Haganá, Avraham Tehomi. A razão para o racha era que Tehomi era adepto do sionismo revisionista, de Vladimir Ze’ev Jabotinski, uma corrente do sionismo que tinha diferenças, porém não de essência com a corrente majoritária, da qual a Haganá era adepta; afinal, era uma milícia subordinada ao trabalhismo sionista, e ao seu principal partido, o Mapai. Tehomi fundou o Irgun junto a Jabotinski. Sobre este último, cumpre um adendo: ele já chegou receber a alcunha de Vladimir “Hitler” Jabotisnki, dada por Davi Ben Gurion, ele próprio um fascista.

Jabotinski foi, na Polônia, o fundador de uma organização fascista chamada Betar, através da qual propagou o sionismo revisionista, e exportou muitos judeus para a Palestina para cerrar fileiras no Irgun, com a finalidade de reprimir os Palestinos. Cumpre informar também que, apesar desses rachas e divisões ideológicas, ambas as correntes do sionismo, “de esquerda” (trabalhista) e de extrema-direita (reivisionismo) eram fascistas. Afinal, o sionismo, por si só, é fascista, já que tem como seu objetivo erguer um Estado supremacista judeu na Palestina, o que implicaria na destruição de todas as organizações dos palestinos, inclusas suas organizações operárias. E, como ensinou o revolucionário russo Leon Trótski, o fascismo é a destruição da democracia operária.

Avraham Stern se juntou, então, ao Irgun, concluindo o curso de oficial em 1932. Lá, atuou durante vários anos na repressão aos palestinos, e em prol do avanço do sionismo e de seu projeto de um Estado judeu na Palestina. Contudo, como era um dos elementos mais ideológicos do movimento, entrou em contradição com o imperialismo inglês e com o Mandato Britânico na Palestina.

Assim, durante a década de 1930, fez inúmeras viagens pela Europa, procurando realizar mesmo alianças com Aldolf Hitler e a Alemanha Nazista, com o objetivo de promover a imigração dos judeus da Alemanha para a Palestina, contribuindo para pender a balança demográfica favoravelmente ao sionismo. Uma demonstração de que aqueles políticos mais importantes que fizeram parte do processo de limpeza étnica da Palestina e de fundação de “Israel” jamais foram os judeus perseguidos pelos nazistas, nem mesmo os que sofreram os pogroms no Leste da Europa. A certo ponto, Stern conseguiu dar andamento em um plano para treinar cerca de 40 mil judeus para migrar para a Palestina. Nisto, contou com a colaboração do governo polonês, que tinha interesse em se livrar dos judeus de seu país.

Contudo, enquanto o plano estava sendo posto em prática, a Alemanha invadiu a Polônia, e as rotas migratórias foram cortadas, inviabilizando-o. Stern, que estava na Palestina Britânica quando do início da Segunda Guerra Mundial, foi preso na Prisão Central de Jerusalém e depois no Campo de Prisioneiros de Sarafand, em razão de suas atividades. Ele e todo o alto comando do Irgun.

Foi na prisão que Stern resolveu se dissociar do Irgun e formar a Lehi, a qual ele também considerava como sendo a verdadeira Irgun. A razão foi que aquele grupo adotou a política da Haganá de se aliar com o imperialismo britânico contra o imperialismo alemão. Stern, por sua vez, insistiria em buscar aliança com o imperialismo Alemão. A razão disto é que ele via os britânicos como uma ocupação estrangeira na Palestina. Apesar de semelhanças com movimentações de líderes nacionalistas da época, que tentaram buscar aliança com a Alemanha Nazista contra o outro bloco imperialista, Stern continuou incondicionalmente sionista, ou seja, almejando erguer um Estado supremacista judeu na Palestina, plano que era apoiado pelo imperialismo britânico.

Ideologicamente fiel às teses do revisionismo sionista, Stern não aceitava nenhuma negociação que representasse algum recuo em relação aos árabes, mesmo que tal recuo servisse para consolidar as posições sionistas, como frequentemente fazia Ben Gurion. Seu caráter excessivamente ideológico, combinado com seu extremismo e sua oposição à presença do imperialismo britânico na Palestina, o colocaria, e também a Lehi, em rota de colisão com os demais grupos sionistas, apesar da unidade de ação na repressão aos palestinos.

Então, em 1940, em plena guerra, Stern redigiu um documento dirigido a Adolf Hitler, propondo uma aliança de sua milícia, a Lehi, com a Alemanha Nazista, em troca de que o Terceiro Reich permitisse e auxiliasse na migração dos judeus alemães para a Palestina. Segundo o escritor Lenni Brenner, em sua obra 51 documentos: Colaboração Sionista com os Nazistas, Stern entregou o documento a dois diplomatas alemães no Líbano, em 1941. O documento, então, foi enviado para a República de Vichi, na França, e então depositado na embaixada alemã na Turquia. Fora encontrado depois da guerra, de forma que sua tentativa restou infrutífera.

Em face de sua tentativa de sua aliar com Hitler, passou a ser procurado pelas autoridades do Mandato Britânico na Palestino, tendo que se mudar frequentemente de localização, com auxílio de membros da Lehi. Há uma história não confirmada de que a Haganá lhe teria proposto, através de um intermediário, uma saída, desde que ele, junto de sua milícia, cessasse os antagonismos aos ingleses. Contudo, ele teria recusado, e proposto à Haganá que lutassem juntos contra os britânicos, mostrando que ainda não havia compreendido que o imperialismo inglês estava apoiando o sionismo.

Assim, em 12 de fevereiro de 1942, a polícia do Mandato Britânico o encontrou e o executou.

Sem a condução excessivamente ideológica de Stern, a Lehi não seria dissolvida. Seguiria como uma das milícias fascistas do sionismo, sendo apenas incorporada às Forças de Defesa de “Israel” em 1948, após cumprir sua função de desatar a repressão fascista necessária para a limpeza étnica da Palestina.

Abaixo pode ser lida a íntegra do documento que Avraham Stern redigiu, propondo aliança com Adolf Hitler e a Alemanha Nazista. O documento foi retirado da obra 51 documentos: Colaboração Sionista com os Nazistas, de Lenin Brenner:

 

Proposta da Organização Militar Nacional na Palestina [Irgun Zvai Leumi] Concernente à Solução da Questão Judaica na Europa e à Participação da OMN na Guerra ao Lado da Alemanha.

É frequentemente afirmado nos discursos e declarações dos principais estadistas da Alemanha Nacional Socialista que um requisito da Nova Ordem na Europa exige a solução radical da questão judaica por meio da evacuação (“Europa livre de judeus”).

A evacuação das massas judaicas da Europa é uma condição prévia para resolver a questão judaica; no entanto, isso só pode ser possível e completo por meio do reassentamento dessas massas na pátria do povo judeu, a Palestina, e pela criação de um estado judeu em suas fronteiras históricas.

A resolução desta maneira do problema judaico, trazendo consigo de uma vez por todas a libertação do povo judeu, é o objetivo da atividade política e da luta de anos do movimento de liberdade israelense, a Organização Militar Nacional (Irgun Zvai Leumi) na Palestina.

A OMN, bem familiarizada com a boa vontade do governo do Reich Alemão e suas autoridades em relação à atividade sionista dentro da Alemanha e aos planos de emigração sionista, está da opinião de que:

  1. Poderiam existir interesses comuns entre o estabelecimento de uma nova ordem na Europa em conformidade com o conceito alemão e as verdadeiras aspirações nacionais do povo judeu, conforme são encarnadas pela OMN.
  2. A cooperação entre a nova Alemanha e um Hebraico nacional-folclórico renovado seria possível e,
  3. O estabelecimento do estado judeu histórico numa base nacional e totalitária, vinculado por um tratado com o Reich Alemão, estaria no interesse de uma posição de poder alemã mantida e fortalecida no Oriente Médio.

Partindo dessas considerações, a OMN na Palestina, sob a condição das aspirações nacionais acima mencionadas do movimento de liberdade israelense serem reconhecidas pelo lado do Reich Alemão, oferece-se para participar ativamente na guerra ao lado da Alemanha.

Essa oferta da OMN, abrangendo atividades nos campos militar, político e informativo, na Palestina e, de acordo com nossos preparativos determinados, fora da Palestina, estaria ligada ao treinamento militar e à organização da mão de obra judaica na Europa, sob a liderança e o comando da OMN. Essas unidades militares participariam na luta para conquistar a Palestina, caso tal frente seja decidida.

A participação indireta do movimento de liberdade israelense na Nova Ordem na Europa, já na fase preparatória, estaria ligada a uma solução positiva e radical do problema judaico europeu, em conformidade com as aspirações nacionais acima mencionadas do povo judeu. Isso fortaleceria extraordinariamente a base moral da Nova Ordem aos olhos de toda a humanidade.

A cooperação do movimento de liberdade israelense também estaria alinhada com um dos últimos discursos do Chanceler do Reich Alemão, no qual o Senhor Hitler enfatizou que utilizaria toda combinação e coalizão para isolar e derrotar a Inglaterra.

Uma breve visão geral da formação, essência e atividade da OMN na Palestina:

A OMN se desenvolveu parcialmente a partir da autodefesa judaica na Palestina e do movimento Revisionista (Nova Organização Sionista), com o qual a OMN estava vagamente conectada por meio da pessoa do Sr. V. Jabotinsky até sua morte.

A atitude pró-inglesa da Organização Revisionista na Palestina, que impediu a renovação da união pessoal, levou no outono deste ano a uma ruptura completa entre ela e a OMN, assim como a uma subsequente divisão no movimento Revisionista.

O objetivo da OMN é o estabelecimento do estado judeu dentro de suas fronteiras históricas.

A OMN, em contraste com todas as tendências sionistas, rejeita a infiltração colonizadora como o único meio de tornar acessível e gradualmente tomar posse da pátria e pratica seu lema, a luta e o sacrifício, como o único meio verdadeiro para a conquista e libertação da Palestina.

Devido ao seu caráter militante e sua disposição anti-inglesa, a OMN é forçada, sob constantes perseguições pela administração inglesa, a exercer sua atividade política e o treinamento militar de seus membros em segredo na Palestina.

A OMN, cujas atividades terroristas começaram já no outono do ano de 1936, tornou-se, após a publicação dos Documentos Brancos Britânicos, especialmente proeminente no verão de 1939 através da intensificação bem-sucedida de sua atividade terrorista e sabotagem de propriedades inglesas. Naquela época, essas atividades, assim como transmissões diárias secretas de rádio, foram notadas e discutidas pela praticamente toda a imprensa mundial.

A OMN manteve escritórios políticos independentes em Varsóvia, Paris, Londres e Nova York até o início da guerra.

O escritório em Varsóvia estava principalmente preocupado com a organização militar e treinamento da juventude sionista nacional e estava intimamente ligado às massas judaicas que, especialmente na Polônia, sustentavam e apoiavam entusiasticamente, de todas as formas, a luta da OMN na Palestina. Dois jornais foram publicados em Varsóvia (The Deed e Liberated Jerusalem): estes eram órgãos da OMN.

O escritório em Varsóvia mantinha relações estreitas com o antigo governo polonês e com os círculos militares que mostravam maior simpatia e compreensão em relação aos objetivos da OMN. Assim, no ano de 1939, grupos selecionados de membros da OMN foram enviados da Palestina para a Polônia, onde seu treinamento militar foi concluído em quartéis por oficiais poloneses.

As negociações, com o objetivo de ativar e concretizar sua ajuda, ocorreram entre a OMN e o governo polonês em Varsóvia – evidências das quais podem ser facilmente encontradas nos arquivos do antigo governo polonês – foram encerradas devido ao início da guerra.

A OMN está intimamente relacionada aos movimentos totalitários da Europa em sua ideologia e estrutura.

A capacidade de luta da OMN nunca pôde ser paralisada ou seriamente enfraquecida, nem por meio de medidas defensivas fortes da administração inglesa e dos árabes, nem pelos socialistas judeus.

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