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Supostos "trotskistas"

Grupo gringo pró-imperialista acusa PCO de “defender a burguesia”

Matéria do "World Socialist Web Site" demonstra incompreensão gigantesca sobre natureza do governo turco e acusa PCO de submeter a luta ao "nacionalismo burguês"

Uma matéria publicada na página norte-americana chamada World Socialist Web Site, que pertence a grupos pequeno-burgueses que se reivindicam trotskistas e participam da suposta Quarta Internacional, afirma que o PCO estaria retratando Erdogan como “líder anti-imperialista” e acusa o Partido da Causa Operária de ser uma “pseudo-esquerda”. 

O articulista, apesar de ser brasileiro, demonstra ter a mentalidade de um norte-americano e, com isso, uma total incompreensão do que é a política em um país como o Brasil e em países atrasados em geral. Ele reconhece que há uma oposição mundial à guerra na Ucrânia (apesar de classificá-la como uma guerra “imperialista”, trazendo a ideia anti-marxista de que a Rússia seria um país imperialista), mas afirma que o PCO estaria “desviando a crescente oposição à guerra imperialista (…) para um apoio falido ao nacionalismo burguês”. 

A colocação de que o PCO estaria desviando a oposição mundial à guerra não é real. O problema é que, nesse caso, a política contra a guerra é uma política frouxa. É uma política que, dependendo de quem a apresenta, se demonstra como uma política pró-imperialista. Lula, um político conciliador, apresenta uma política anti-guerra e ele, por ser chefe de um País como o Brasil, acaba na prática desagradando o imperialismo e se colocando do lado dos russos. Mas não é a mesma coisa quando se trata de um grupo que se diz revolucionário, nesse caso, falar contra a guerra é dizer que Rússia e OTAN são a mesma coisa e, na prática, uma política pró-imperialista. Haja visto grupos que se utilizam de uma retórica pacifista para classificar Putin como um sanguinário e até cometer o erro crasso de classificar a ação da Rússia, que é totalmente defensiva, como uma ação de tipo “imperialista” (o que é absurdo, como explicaremos mais abaixo).

Ele continua, dizendo que “é na sua escolha de aliados internacionais que organizações como o PCO demonstram seu caráter reacionário. A vitória recente de Recep Tayyip Erdoğan foi celebrada com entusiasmo pelo PCO, que tentou apresentá-lo como um líder anti-imperialista”. 

Trata-se de uma falsificação. Assim como a afirmação, mais adiante, de que o PCO estaria procurando “desviar uma luta real contra o imperialismo para canalizá-la para os canais reacionários do nacionalismo”. O fato é que nós nunca consideramos que o nacionalismo seria uma alternativa ao imperialismo. Já dissemos isso muitas vezes, inclusive em resposta a outros esquerdistas e analistas que afirmam que estaríamos diante do surgimento de um mundo “multipolar”, e que esse mundo implicaria em uma superação do imperialismo através do fortalecimento de governos nacionalistas. A posição do PCO é a posição do marxismo: o nacionalismo burguês é incapaz de derrotar o imperialismo. A única classe social capaz de fazê-lo é a classe operária mundial. 

O articulista falsifica e confunde a realidade ao procurar demonstrar que o governo Erdogan seria um governo totalmente capacho e subserviente ao imperialismo. Ele o faz afirmando que Erdogan “está longe de ser um oponente do imperialismo, que dirá um defensor da população vitimizada por suas guerras e interferência”.

A afirmação supõe uma ingenuidade criminosa da nossa parte. É óbvio que ninguém acredita que o recém-eleito presidente da Turquia, representante de sua burguesia, age com base em um suposto interesse em defender a população vítima das guerras do imperialismo. No entanto, é evidente que os interesses econômicos da Turquia e de outros países atrasados o levam a se colocar contra a política dos norte-americanos e europeus. Isso ocorre porque a política neoliberal de devastação nacional promovida pelos banqueiros e mercado financeiro em seus países, prejudica os interesses da burguesia média, que costuma apoiar candidatos nacionalistas como Erdogan e Putin. O fato do agrupamento norte-americano não compreender isso demonstra sua total incompreensão da situação política dos países atrasados.

O autor afirma que Erdogan seria capaz de promover os interesses imperialistas por apoiar a entrada da Suécia na OTAN. No entanto, isso é uma incompreensão da manobra política utilizada pelo presidente turco. A aceitação da Suécia na OTAN foi simplesmente uma barganha para a entrada da Turquia na União Europeia. Trata-se de uma típica jogada de governos nacionalistas burgueses, que se equilibram entre os interesses da burguesia local e do imperialismo.

Além disso, não é a caracterização do PCO que a política de governos burgueses como o turco, o russo ou o chinês seja o caminho para a libertação da classe operária. Muito pelo contrário, esses governos são responsáveis pelos ataques contra os trabalhadores de seus países. No entanto, é preciso dizer claramente que o articulista do WSWS, apesar de se reivindicar trotskista, assume uma posição totalmente anti-trotskista. Trótski sempre defendeu que, no caso de um conflito entre um governo nacionalista, seja lá qual for a característica de sua política interna, e o imperialismo, deve-se ficar sempre ao lado do governo nacionalista.

Uma famosa citação a esse respeito é a posição defendida por Trótski na hipótese de um conflito entre o governo brasileiro (à época, sob a ditadura fascista de Vargas) e o governo “democrático” britânico: “Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto, que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil “fascista” contra a Inglaterra “democrática”. Por quê? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas”.

A incompreensão do autor assume proporções um tanto absurdas ao lembrar que, logo no começo de sua matéria, ele autor afirma que a guerra na Ucrânia seria uma “guerra imperialista”, dando a entender a ideia de que a Rússia seria um país imperialista. Pouco mais a frente, ele diz: “De acordo com essa visão [a do PCO], o processo por trás da guerra atual, que começou na Ucrânia contra a Rússia e se direciona à China, não é uma redivisão do mundo entre forças imperialistas (…)”, demonstrando que sua análise é de que a China e a Rússia seriam “forças imperialistas”. Ele acusa o PCO de acreditar que o nacionalismo seria a solução para a luta da classe operária, mas acima caracteriza países atrasados como imperialistas. 

Segundo o autor, o imperialismo não é uma força política exercida por países que detêm o controle da economia mundial por terem desenvolvido plenamente o capitalismo em seus territórios às custas dos países atrasados, controlando o restante do mundo como se fosse seu quintal. Seria outro conceito obscuro que colocaria Rússia, um país exportador de matéria-prima, no mesmo balaio que EUA e Alemanha, países com indústria plenamente desenvolvida, que exportam manufaturas de altíssimo valor agregado. Ou então, Rússia e China teriam entrado para esse clube de países imperialistas sem mais nem menos, apenas por passarem por um pequeno crescimento industrial no último período.

O problema da posição defendida pelo WSWS pode ser compreendido ao analisar o ocorrido com o grupo que os representava no Brasil, a Negação da Negação (NN). A posição deles com relação a Erdogan é a mesma que a NN (hoje Transição Socialista) adotou no Brasil com relação a Lula. Segundo eles, Lula seria um governante bonapartista e principal representante do imperialismo no Brasil. Logo depois, veio o golpe de Estado, mostrando quais os verdadeiros interesses do imperialismo no país, e esse grupo desapareceu totalmente do mapa político no país. Afirmar que “desapareceram”, inclusive, é um eufemismo, pois o grupo se pulverizou no ar. Eis o perigo de se assumir esse tipo de posição absurda.

O problema do nacionalismo burguês, que não é compreendido pelo autor, que desconhece a situação política do Brasil, da Turquia ou de quaisquer países atrasados, é que se trata de uma política que se apoia nas massas. Não fosse assim, ele poderia ser totalmente ignorado, mas os revolucionários devem agir e intervir onde as massas estão presentes, a fim de poderem desenvolver a sua consciência.

As massas apoiam o nacionalismo burguês não porque este seja capaz de resolver os problemas da classe trabalhadora, mas porque ele coloca esses problemas em evidência, como podemos ver no caso turco e brasileiro e no conflito de seus governos com o imperialismo.

A acusação de que governo burgueses como Erdogan tentam se “equilibrar entre as massas e o imperialismo”, portanto, seriam governos pró-imperialista, também mostra um total desconhecimento sobre o problema do nacionalismo burguês, pois é exatamente essa uma característica dele. No caso de Erdogan, o que ele acusa ser uma demonstração de que ele é um governo imperialista seria a declaração favorável à entrada da Suécia e da Ucrânia na OTAN. Mas o autor ignora que Erdogan simplesmente está tentando barganhando com o imperialismo, usando isso como moeda de troca para a entrada da Turquia na União Europeia. Voltando a Vargas, o que foi o envio de tropas para a Segunda Guerra senão uma política de barganha com o imperialismo? Vargas não deixou de ser um governo nacionalista por causa disso.

A incompreensão já demonstrada desses grupos a respeito dos países atrasados de conjunto é que os torna incapazes de perceber que esses são movimentos de massa, nos quais os partidos revolucionários devem procurar intervir. 

Por fim, deve-se dizer que, ainda que o texto tenha sido escrito por um brasileiro, ele demonstra uma posição política de norte-americanos. E estes, com sua arrogância, não conseguem entender nada que acontece fora dos Estados Unidos. Particularmente não compreendem o que é e como funciona um país atrasado.

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