Foi aprovado na última terça-feira (5), um acordo entre o Sindicato dos Atores Norte-Americanos (SAG-AFTRA) e a Aliança dos Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), que oficializou o término da greve dos trabalhadores da indústria cinematográfica e de entretenimento dos EUA, deflagrada em 14 de julho deste ano e que se encontrava suspensa desde o dia 9 de novembro. O acordo foi votado pelos membros do sindicato, registrando 78% de aprovação e teve como reivindicações atendidas o aumento de 7% no salário-base da categoria, e também, medidas de proteção contra o impacto das tecnologias de Inteligência Artificial (IA) sobre o uso e divulgação da imagem de atores e atrizes.
A atividade grevista se iniciou no bojo da greve da WGA, sindicato que representa os roteiristas de cinema do país norte-americano, iniciada no último mês de maio. Esse movimento deu início a uma grande agitação em meio às demais categorias do setor de entretenimento e, uma vez que o acordo coletivo de trabalho dos atores estava previsto para expirar em junho, a SAG-AFTRA começou a se movimentar para articular a negociação de um novo contrato, sinalizando um indicativo de greve para pressionar os estúdios de cinema, representados pela AMPTP. Como a data final estabelecida para a assinatura de um novo contrato (12 de julho) chegara sem o acordo, o sindicato decidiu iniciar a greve, para ganhar maior poder de barganha nas negociações. Assim, a indústria cinematográfica de Hollywood se viu em meio à maior crise trabalhista desde 1960, uma vez que dois dos sindicatos mais importantes, o dos atores e o dos roteiristas, se encontraram simultaneamente com as atividades paralisadas.
Ao longo do mês de julho, diversas ações foram realizadas pelo movimento grevista, se concentrando nas cidades de Los Angeles e Nova Iorque, com a realização de piquetes em frente aos escritórios dos maiores estúdios da indústria de cinema, Disney, Universal, Paramount, Netflix, Warner Bros., e também de emissoras de TV, como NBC e Fox. Os atos do movimento chegaram ao seu ápice quando, no dia 25 de julho de 2023, milhares de atores e atrizes realizaram uma passeata na Times Square, um dos principais pontos da cidade de Nova Iorque, como parte das manifestações da categoria pelo atendimento das reivindicações.
Como resultado do movimento, diversas produções de cinema e televisão tiveram suas gravações suspendidas pela greve, assim como eventos de entretenimento foram esvaziados pela não participação de alguns dos atores e atrizes mais célebres. Mesmo com várias tentativas de boicote por parte dos estúdios de cinema, a greve continuou ao longo do mês de agosto e, no início de setembro, uma votação de 98,32% dos membros da SAG-AFTRA resolveu pela ampliação da greve para o setor da indústria de videogames. Já no final do mês, mesmo com o fim da greve encabeçada pela WGA, a SAG-AFTRA se pronunciou pela continuidade do movimento grevista dos atores até que a reivindicação de um novo acordo coletivo fosse atendida.
Em outubro a SAG-AFTRA e a AMPTP se reuniram pela primeira vez para tratar das reivindicações de greve, realizando ainda outras reuniões ao longo de todo o mês, porém sem que se chegasse a nenhum acordo. No início de novembro a SAG-AFTRA enviou uma mensagem aos seus membros informando que a contraproposta dos representantes dos estúdios “continha vários itens essenciais sobre os quais nós ainda não temos concordância”. Não obstante, em 8 de novembro o sindicato declarou ter aberto um processo de negociação com a AMPTP, suspendendo a greve e cancelando os piquetes. A suspensão durou quase 1 mês até que, finalmente, no último dia 5, a greve foi declarada oficialmente terminada.
Em que pese a conquista de importantes reivindicações pelo movimento, vale ressaltar que diversos pontos colocados no início das tratativas não foram contemplados pelo acordo, como o aumento de 11% dos salários, visto que o aumento estabelecido no contrato foi de apenas 7%. Assim, o balanço da greve deixa ainda muitas lutas a serem travadas contra a exploração dos monopólios da indústria de entretenimento, que passa longe de contar com o apoio das categorias profissionais que a constroem, o que se confirmou pelos quase 5 meses de paralisação e, também, pela votação que decidiu em favor do encerramento da greve, em que houve uma elevada abstenção de 61,85%.
Fica mais uma vez clara a importância de um movimento político organizado também de artistas ao redor do mundo, para se somar à luta operária no combate à exploração capitalista sobre o seu próprio trabalho, bem como pelo fim da ação degradante dos monopólios imperialistas sobre a cultura.