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Uma teoria golpista

Governo Lula é “neoliberal e pró-imperialista”?

Anti-marxista Jones Manoel inventa pretextos para uma política golpista

O youtuber Jones Manoel, em entrevista publicada em seu próprio canal no último dia 22 de setembro, deu prosseguimento à campanha da ala golpista da esquerda contra Lula. Entrevistado, comentou sobre a política econômica e até sobre a política internacional do governo, acusando-a de atrelada ao imperialismo, que não teria motivos para adotar uma postura agressiva contra Lula.

Segundo Manoel: o “ministro da Fazenda se orgulhou nas redes porque recebeu elogios das agências de risco dos EUA e do FMI”. O que ignora todo o equilibrismo do governo reformista, que busca não se chocar diretamente com a burguesia, ao mesmo tempo, em que leva adiante sua política moderada. O fato, além disso, é mais uma forma de o imperialismo fazer pressão sobre o governo, que possui ainda uma série de contradições internas, o que se expressa em seus ministérios. Indo além, o youtuber afirma que o governo possui uma:

“[…] agenda de reformas liberais: o novo teto de gastos, que reduz o tamanho do Estado paulatinamente ano após ano; um pacote de PPPs, incluindo a privatização de presídios; a manutenção do pilar central da política da Petrobrás do governo Temer, porque o PPI não acabou, inclusive no processo de distribuição de dividendos esse ano a Petrobrás vai distribuir R$100 bilhões de dividendos, boa parte deles para acionistas estrangeiros; a taxa de juros segue nas alturas, uma das maiores remunerações de títulos públicos do mundo, o governo não enfrenta a autonomia do Banco Central.”

Aqui, além de ignorar o cenário político nacional, Jones Manoel falsifica informações. O Arcabouço Fiscal funciona como uma redução do Teto de Gastos, ou seja, uma ampliação do que havia, ainda que muito limitada, mas ainda assim, uma ampliação, tal qual o aumento de R$18 do salário mínimo, é insuficiente. Da mesma forma, a Petrobrás reduziu os repasses aos acionistas, embora ainda os mantenha altos. A política de privatizações também retrocedeu, basta ver o fim do programa de privatizações, logo no início do governo. Mas o problema central não é esse, porque não é em nome disso que Jones Manoel ataca Lula. Tanto é que ele não faz uma campanha de fato em defesa de nenhuma das pautas citadas, mas contra Lula.

No entanto, não é possível analisar tais avanços de maneira isolada. Lula foi o centro das últimas grandes mobilizações populares no Brasil, que ocorreram no segundo turno das eleições de 2022. Foi eleito através dessa mobilização, contra o golpe, contra a política neoliberal e entreguista. Mas logo após a vitória, a esquerda abandonou as ruas. O que se vê é uma paralisia do movimento popular. Nesse sentido, a base de Lula, que o permitiria adotar as políticas de enfrentamento com a burguesia, está paralisada. Ele está isolado no governo. E mesmo assim, buscou mobilizar contra a autonomia do Banco Central durante boa parte de seu governo até agora.

“E aí, depois de congelar a capacidade de investimento público, restringir ao máximo com o novo teto de gastos, o governo vai para os EUA e anuncia a emissão de títulos verdes […] o governo vai se endividar em dólar, potencializando a dívida externa, para supostos investimentos sustentáveis. Aliado a isso, tudo o que é estratégico em termos de soberania, a produção do sistema nacional de ciência e tecnologia, reindustrialização, escala do mercado interno, proteção de inovações e patentes, nada disso está na agenda do governo. Então eu se fosse o governo dos EUA também não teria uma política agressiva, porque nenhum interesse estratégico do imperialismo está sendo enfrentado, pelo contrário.”

A reindustrialização – e todos os outros pontos são consequência dela – é a política do Lula. Pode não ser a política do governo, em sua composição atual, sem um movimento que o impulsione. E não é possível que Lula adote essa política de maneira isolada pela pressão exercida pela burguesia.

O foco principal, porém, não é esse. O presidente, mesmo isolado no governo, sem uma base social mobilizada em que se apoiar, vem adotando uma política internacional que não se alinha ao imperialismo. Logicamente que Lula não é um revolucionário anti-imperialista, mas sua política, como política conciliador, tenta relativa independência dos países imperialistas. Vejamos o que diz Jones Manoel a respeito:

“[…] o ministro da economia deu uma entrevista […] em que fala que a tentativa de gerar inovações por um sistema endógeno falhou, ‘temos que deixar isso de lado, temos que fazer parcerias com o capital estrangeiro para trazer inovações para a economia brasileira’. O cara está dizendo abertamente que a gente tem que abrir mão de uma tentativa de criar um sistema nacional de inovação. Mais no interesse do FMI, do Banco Mundial e dos EUA que isso, só se ele batesse continência para os EUA. […] Não há motivos para uma contradição direta, até porque, reforço o que já falei em outros momentos: todo esse debate sobre desdolarização, BRICS e por aí vai, até agora é conversa, é protocolo de interesses. isso não se materializa concretamente em política interna.”

A questão econômica segue, e tem a mesma problemática, mas nos atentemos à política internacional. A ampliação e maior articulação dos BRICS, a desdolarização da economia mundial, vem permitindo aos países atrasados fazer frente, em uma ou outra medida, ao imperialismo. Vemos um bloco internacional organizado para enfrentar o FMI, o Banco Mundial, com, por exemplo, o Banco dos BRICS, que é opositor direto das duas instituições imperialistas. E a presidência do Banco dos BRICS, não à toa, é ocupada por Dilma Rousseff, uma demonstração do papel de Lula nesse desenvolvimento internacional. Naturalmente, tais articulações políticas, para se traduzirem na forma de mudanças significativas na política interna do Brasil, não será imediata. E é isso que a esquerda golpista, que segue o imperialismo, busca evitar com sua campanha.

Tal qual o golpe de 2016, se levanta uma campanha golpista contra Lula, é preciso enfrentá-la e garantir a soberania nacional, contra o estado de sítio em que se encontra o presidente em seu próprio governo, para levar adiante todas as demandas dos trabalhadores.

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