Agosto de 2023. Penúltimo dia do mês. Um novo golpe de Estado ocorre no continente africano, desta vez no Gabão, pais da faixa central da África, banhado pelo Atlântico Sul. Novamente, o presidente deposto pelos militares era um capacho do imperialismo, em especial da França e dos Estados Unidos.
Assim como ocorrera com o Níger, Mali e Burkina Faso, já no primeiro momento foi possível constatar que era um golpe de características nacionalistas, embora de aparência mais moderada do que os golpes ocorridos nesses outros países.
Foi um golpe sem derramamento de sangue, o que demonstrou também o amplo apoio popular pela derrubada de Ali Bongo (o presidente deposto).
Em outra demonstração do caráter popular do novo governo, uma das primeiras medidas tomadas foi a libertação dos presos políticos da ditadura pró-imperialista da família Bongo. Um dos presos libertados foi Jean Remy Yama, importante sindicalista gabonês, presidente do grupo sindical Dynamique Unitarie e membro do Sindicato Nacional de Professores. Sua soltura se deu no dia seguinte à nomeação do presidente Brice Oligui Nguema. O sindicalista já estava preso há 18 meses.
Outros medidas populares estão sendo tomadas pelo governo da junta militar: o Comitê de Transição e Restauração das Instituições (CTRI) tem se reunido diariamente com vários setores da sociedade, dentre eles os sindicatos. Uma clara disposição em ouvir o que os trabalhadores têm a dizer e, mesmo, atender às suas reivindicações.
Sentindo que as condições políticas objetivas do Gabão mudaram para melhor, os trabalhadores agora estão mais estimulados para lutar por seus direitos. Assim, nessa segunda-feira (11), trabalhadores da Zona Especial de Investimento (ZIS) de Nkok, pequena cidade interiorana, localizada a cerca de 22km da capital Libreville, deram início a uma manifestação contra as condições precárias de trabalho nas empresas que atuam na ZIS.
Paralisando suas atividades, os trabalhadores vêm denunciando que salários não estão sendo pagos; horas extras sendo feitas sem a devida remuneração; uso abusivo de trabalhadores diaristas (o que aumenta a precarização); elevada empregabilidade dos trabalhadores estrangeiros em comparação com os gaboneses; tratamento desumano das funcionárias do sexo feminino e não pagamento de benefícios sociais (CNSS, CNAMGS).
Diante da persistência da manifestação, a Autoridade Administrativa de Nkok (ANN), encarregada de gerir a Zona Especial de Investimento promoveu uma reunião urgente com Coletivo Cooperativo de Trabalhadores da Zona Económica de Nkok (CTZEN), este representando os operários em protesto. Segundo informações da imprensa gabonesa, as reuniões da ANN com CTZEN, e também com os empresários da ZIS, continuam a ocorrer, a fim de se chegar a um acordo.
Chama a atenção a rapidez com que a ANN reuniu-se com os trabalhadores, mostrando que o governo central, ao qual a autoridade de Nkok está subordinada, busca ter uma política favorável à classe operária.
Isto mostra que há golpes militares e golpes militares. Enquanto uns são reacionários, a mando do imperialismo, outros são progressistas, contra o domínio imperialista. Este último é o caso do Gabão e dos recentes golpes no continente Africano. O estimulo que a ação dos militares deu à classe operária da ZIS de Nkok para se mobilizar contra as empresas que lhes tratam como escravos deixa claro a natureza progressista do recente golpe no Gabão.