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Passar o chapéu

Globo quer saúde brasileira no “padrão norte-americano”

Globo faz propaganda pelo desmonte da saúde pública

Em matéria publicada no site do jornal O Globo, o empreendedor ongueiro Edu Lyra faz um apelo para que os brasileiros aprendam a confiar nas ONGs. Esse voto de confiança, aliado a incentivos fiscais, serviria para que serviços essenciais à população fossem fundamentalmente financiados a partir de doações. Como exemplo, ele cita o hospital infantil norte-americano St. Jude, que teria orçamento anual de dois bilhões de dólares, proveniente majoritariamente de pequenos doadores, e além do atendimento gratuito desenvolve pesquisas.

Sabiamente, Lyra nem tenta apresentar o sistema de saúde norte-americano de conjunto como algo positivo ou sequer superior ao brasileiro, sua abordagem vai direto no argumento de que hospitais como o St. Jude poderiam existir no Brasil. Desde pelo menos o começo do século, exemplos escandalosos da falência e desumanidade do sistema de saúde dos Estados Unidos se tornaram de conhecimento público. O documentarista Michael Moore, por exemplo, lançou um filme em 2007 no qual compara os sistemas de saúde de França, Canadá, Reino Unido e até Cuba com o dos Estados Unidos. O resultado é uma grave denúncia e um vexame impressionante, tendo em vista se tratar do país mais rico do planeta.

Ao mesmo tempo, no entanto, os Estados Unidos possuem alguns dos mais modernos centros hospitalares do mundo, com tecnologia de ponta e profissionais de primeira linha. Mas apenas para os poucos que podem pagar por isso. A maioria da população, por sua vez, aprende a evitar os hospitais, buscando muitas vezes soluções improvisadas. E quando buscam um serviço profissional, ficam na dependência da tal “filantropia”. Uma palavra bonita, que traz no seu significado valores como generosidade e amor ao próximo, mas que no capitalismo significa isenção de impostos. Ao invés dos impostos serem aplicados nos serviços básicos à população, o governo norte-americano estimula que esse dinheiro vá diretamente para as mãos dos empresários “filantrópicos”.

Todos sabemos que o orçamento público brasileiro é sagrado para os capitalistas. Os governos devem gastar o mínimo possível para que ele sirva para pagar os títulos da dívida pública, um investimento com retorno garantido para os parasitas do mercado financeiro. Não é por acaso que o governo golpista de Michel Temer instituiu o “teto de gastos”, que debilita profundamente a capacidade do Estado em investir na ampliação e até na manutenção dos serviços públicos. No final das contas, o brasileiro comum além de pagar seus impostos ainda tem que doar um dinheiro que nem tem para instituições de caridade. Ou seja, para não atrapalhar a sangria dos recursos públicos, os trabalhadores devem sustentar serviços essenciais através de doações. É algo de um cinismo típico da burguesia imperialista.

Cabe citar que Edu Lyra, que exalta esse estímulo às doações presente no sistema fiscal dos Estados Unidos, é CEO de uma ONG de nome bem ao gosto dos ianques: “Gerando Falcões”. Sua ONG na verdade é descrita no seu próprio site como um “ecossistema de desenvolvimento social”, “que “nasceu na favela”, e que conta com mais de mil ONGs debaixo do seu guarda-chuva. Seu “braço educacional” é chamado de “Falcons University”, que atua na “formação de líderes”, que aprendem sobre “empreendedorismo social”. Claramente algo criado numa favela. Mas desde que se considere que “favela” é signifique alguma sala em Harvard ou outra universidade dos Estados Unidos, onde são gestados esses planos de intervenção na política dos países atrasados.

Segundo o site da ONG, ela possui trabalhos em 5.558 favelas, com 717.655 pessoas alcançadas. Para atuar com essa abrangência, recebe apoio financeiro de “investidores” como Microsoft, XP Investimentos, Fundação Lemann e Oliveira’s Foundation, entre outros. Além disso, apontam como “apoiadores” a própria Globo e a Bandeirantes, mas têm divulgação também na CNN, Folha de S. Paulo e TV Cultura. Todos esses “parceiros” obviamente preocupados com a qualidade de vida dos brasileiros pobres. Para salvar a saúde pública, o certo seria finalmente acabar com o SUS e passar o chapéu para que capitalistas bondosos possam oferecer serviços de excelência para o povo. Acredita quem quiser.

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