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José Álvaro Cardoso

Graduado pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal da Paraíba e Doutor em Ciências Humanas pela UFSC. Trabalha no DIEESE.

Economia

Ganhos de produtividade e desemprego

Se um salto tecnológico gera um excedente de trabalhadores em função dos ganhos de produtividade, isso poderia representar uma redução da jornada de trabalho

Vivemos em meio ao desenvolvimento da chamada Quarta Revolução industrial, que a exemplo das anteriores, coloca os meios técnicos e as forças produtivas em um patamar muito superior, fornecendo as condições objetivas, do ponto de vista tecnológico, para a melhoria de vida das pessoas. Porém, as relações sociais de produção atuais impossibilitam que tais avanços signifiquem benefícios para toda a sociedade.

Um dos principais efeitos dessa contradição é o desemprego tecnológico, ou seja, aquele causado pela introdução de novas tecnologias. Mudanças tecnológicas implicam em elevação da produtividade que, muitas vezes, representa verdadeiros saltos de ganhos de produtividade.  O uso de tecnologias mais eficientes permite produzir mais mercadorias em menos tempo de trabalho, ou seja, possibilita produzir com menor quantidade de trabalho humano. O sistema provoca assim uma elevação do desemprego em decorrência do novo patamar tecnológico, criando uma força de trabalho excedente (em termos relativos), que tende a se expandir.

As mesmas causas dos enormes ganhos de produtividade levam à existência de um grupo de trabalhadores que ficam sem espaço no mercado de trabalho. Quando muito, conseguem ocupar postos na economia informal, que paga menores salários, têm jornadas mais longas e condições de trabalho ainda mais precárias. O exército de desempregados e de trabalhadores na economia informal é essencial para a manutenção dos salários em baixos patamares. 

Até 2014, ocasião em que o Brasil atingiu a menor taxa de desemprego da história, ouvia-se dos prepostos patronais em mesas de negociação queixas de que não havia trabalhadores disponíveis para contratação, o que estaria “complicando” muito a gestão de pessoal nas empresas, e assim por diante. Essa mensagem podia ser entendida como: “é necessário que se amplie o exército de reserva de desempregados, para impormos o nível salarial que queremos”.

Em uma situação de desemprego elevado aumenta o medo daqueles que conseguem se manter no emprego. Ao assistir os companheiros perderem seus empregos, o trabalhador tende a se submeter a piores condições de trabalho e a aceitar salários ainda mais baixos. O risco para a classe trabalhadora é duplo: ou sofre as agruras do desemprego, ou padece o aumento da exploração para manter o posto de trabalho. É muito comum na sociedade, inclusive, a convivência entre o desemprego crescente e um número grande de pessoas trabalhando muito, com jornada de 50 ou 60 horas semanais, em um ou mais de um emprego. 

O trabalhador que, num processo de crise, fica alguns meses desempregado, sem o amparo de políticas públicas e/ou do sindicato, tende a posteriormente se submeter a piores condições de trabalho e salário. O trabalhador fica mais “dócil”, afinal qualquer coisa é melhor do que passar fome. Neste quadro, é certo que alguns torcem para que aumente o desemprego, apesar de todo o sofrimento humano e do prejuízo social e econômico, decorrentes. É que o aumento do desemprego possibilita elevar a taxa de exploração para os trabalhadores que mantém o vínculo, ampliando assim a lucratividade das empresas.

Desde sempre, essa contradição entre desenvolvimento das forças produtivas e o desemprego humano existiu. Quando o homem começou a usar a lança como arma de caça (há mais de 500 mil anos atrás), certamente essa evolução tecnológica “desempregou” seres humanos, porque, ao invés de precisar de um grupo para abater um animal grande, armados de pedaços de paus e pedras, o uso de lanças por uma única pessoa, poderia resolver o problema.  

O movimento ludista, forte entre 1811 e 1816 na Inglaterra, destruíam as máquinas modernas da indústria, que reduziam significativamente a necessidade de mão de obra humana e que desempregava artesãos, ocupados na produção de roupas e na confecção de tecidos. Os ludistas ameaçavam inclusive os proprietários das indústrias com a intenção de intimidar a introdução das máquinas têxteis. Em alguns casos, as ameaças concretizavam-se, com a morte de grandes capitalistas, o que levou a uma repressão muito grande por parte do Estado britânico, sobre o movimento.

O movimento ludista decorre de uma consciência primitiva do movimento operário, cuja ira se voltava para o eixo da modernização das máquinas e equipamentos, e não para as relações entre as classes sociais na sociedade, ou seja, para as relações sociais de produção. Como se sabe, o problema não é a tecnologia, em si, mas a expansão da tecnologia dentro de relações capitalistas, que conduzem ao desemprego tecnológico. A necessidade de manter as margens de lucratividade impede (ou pelo menos dificulta) que os benefícios advindos das novas tecnologias sejam plenamente distribuídos para a sociedade como um todo.  

Ganhos de produtividade são fundamentais. Se um salto tecnológico gera um excedente de trabalhadores em função dos ganhos de produtividade, isso poderia representar uma redução da jornada de trabalho para toda a classe trabalhadora, o que poderia gerar milhões de postos de trabalho. Ao mesmo tempo, em que possibilitaria a todos um ganho de tempo, para dedicar às demais esferas da vida (convivência com a família, cuidados com a saúde, prática de esportes, estudos etc.). 

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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