No dia dois de novembro de 1948, soldados de dois esquadrões das Forças de Defesa de Israel invadiram um acampamento de beduínos na vila de Khirbat al-Wa’ra al-Sawda’, situado no leste da Galiléia. As casas da população árabe foram destruídas e 14 homens foram assassinados.
Israel justificou a ação como uma retaliação à morte de dois soldados seus, cujos cadáveres teriam sido encontrados no mesmo acampamento, sem as cabeças. Os corpos dos beduínos mortos pelas forças israelenses foram enterrados em uma caverna próxima ao acampamento.
Em 1945, pouco antes do massacre, Khirbat al-Wa’ra al-Sawda’ tinha uma população de 1.870 árabes. No entanto, durante a Nakba (1947-1948), a vila foi praticamente toda despovoada, com alguns aldeões fugindo para a Síria, enquanto outros migraram para a Galiléia central.
Durante aquele período, a maioria dos residentes da vila pertencia à tribo Arab al-Mawasi, enquanto o restante eram membros da tribo Arab al-Wuhayb. Por esse motivo, o assassinato dos 14 beduínos ficou conhecido como “Massacre dos Arab al-Mawasi”.
O massacre dos Arab al-Mawasi prova que os palestinos não foram os únicos a sofrerem com a fundação do Estado de Israel. Não foi à toa, portanto, que os sionistas foram alvo de uma intensa luta de vários povos árabes.
Os beduínos, embora muitas vezes considerados como membros da comunidade palestina, são um povo nômade, de origem étnica distinta, assim como os drusos.
No livro “Uma história moderna da Palestina”, o historiador israelense Ilan Pappé conta que:
“A vida e a cultura beduínas mudaram pouco entre 1831 e 1948. No século anterior, seus números aumentaram, quando foram autorizados pelos governantes egípcios (1831–1840) a frequentar a Palestina a partir de bases na Península do Sinai. Eles
continuaram a fazer sua presença ser sentida, especialmente depois da restauração do Império Otomano. Eles mantiveram seu modo de vida nômade no leste e em partes do norte do país durante o final do período otomano, mas, depois de 1900, foi principalmente no sul, em al-Naqab ou no Negev, que a concentração de nômades e semi-nômades beduínos persistia”.
Na mesma obra, o historiador ainda fornece dados sobre a migração beduína, refletindo à ofensiva sionista sobre o território palestino
“Na virada do século XX, oitenta tribos estavam registradas em sete locais diferentes, marcados como bases. Esta estrutura elementar permaneceu intacta até 1948. Em 1947, havia 80 mil beduínos no sul da Palestina, mas a política de expulsão israelita não os poupou, e quando os ventos da guerra acalmaram, restavam apenas 13 mil deles. Eles se reagruparam em vinte tribos em três locais, espalhadas por todo o Negev. Foi-lhes prometido um estatuto melhor do que o de outros árabes, uma vez que os chefes tribais concordaram em enviar os jovens para o exército israelense”.