No dia 2 de fevereiro, quinta-feira, na cidade de Prado, sul do estado da Bahia, foram apreendidas pela Força Integrada (FI) de Combate a Crimes Comuns envolvendo Povos e Comunidades Tradicionais, um rifle e duas espingardas em uma fazenda na zona rural do município, território onde vivem índios Pataxós.
De acordo com o que foi relato pelas Equipes do Batalhão de Choque (BPCHoq) e da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe), após serem acionadas para intervirem em um possível confronto envolvendo uma questão de invasão, as forças policiais encontraram as armas de fogo escondidas no meio de uma plantação. Além disso, após realizar a varredura da área, foi encontrado ainda em posse de um idoso de setenta anos, um pataxó, outra espingarda. Este foi autuado e encaminhado para a sede da 8ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior.
Combater não a pistolagem, mas o pataxó
Em primeiro lugar, é importante salientar que tanto os pataxós, quanto os demais indígenas brasileiros, nunca estiveram tão fragilizados e sobrevivendo à própria sorte como atualmente e que, quanto mais a luta destes mesmos indígenas por terra se acentua, intensificam-se a truculência não só do Estado na figura da repressão policial, mas também na pistolagem financiada pelos grandes latifundiários.
Estes ataques têm sido mais frequentes a partir do momento em que os pataxós decidiram autodemarcar o seu território, como explica o cacique Mãndy Pataxó ao declarar que “Por não aguentarmos mais todo esse processo violento, estamos fazendo um processo de autodemarcação, ocupando as áreas degradadas, as áreas que estão em mãos irregulares de fazendeiros e latifundiários dentro das terras indígenas. Estamos ocupando essas áreas para poder evitar a destruição. E, por causa disso, nós estamos sofrendo toda uma represália”. Esse processo começou mais precisamente em junho de 2022, então no governo ilegítimo de Jair Bolsonaro, amigo do latifúndio e que, abertamente, sempre deu carta branca para todo tipo de violência policial. De lá pra cá, os relatos de invasão e execuções, de mulheres e crianças inclusive, têm sido rotineiros.
Relatos como o apresentado acima pela imprensa burguesa nem de longe refletem a realidade, uma vez que os índios até então nunca puderam contar com nenhum tipo de auxílio em suas reivindicações. E, vale lembrar, tampouco esse auxílio virá por meio da Força Tarefa que, como afirma o Estado, opera em áreas indígenas para resguardar a vida dos mesmos. Na verdade, a chamada Força Tarefa opera não em defesa do índio, mas em conjunto com a pistolagem e o latifúndio.
Em vez de estabelecer contato com os indígenas, representantes da Força Tarefa dialogam primeiro com os donos de terras no intuito de atender aos seus interesses. O resultado é que parte desses pistoleiros acaba sendo composta por policiais fazendo um ‘extra’. O que demonstra que ter esperança na ação das instituições burguesas de opressão é um completo equívoco.
Assim, como dito anteriormente, acreditar na imprensa burguesa e na Força Tarefa é um ledo engano, pois, no lugar de prestar ajuda aos pataxós, por exemplo, essa força policial serve apenas como mais um elemento de intimidação aos indígenas, sem contar que estes mesmos policiais, que perseguiram um índio, que portava uma arma de fogo destinada exclusivamente para a caça, são acusados de apreender, na verdade roubar, motos e carros velhos sem nenhum valor de mercado. Em resumo, grupos como Batalhão de Choque e a Companhia Independente de Policiamento Especializado existem apenas para servir às exigências do latifúndio e para o aprofundamento do genocídio perpetrado contra o povo pataxó.