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Antônio Bispo

Folha e Fundação Ford usam “quilombola” para atacar Lula

Entrevista da Folha, Antônio Bispo se utiliza do identitariíssimo para atacar o governo Lula e colocar esquerda e direita na mesma panela

Antônio Bispo

Entrevista publicada nesta segunda-feira (29) na Folha de São Paulo, “Esquerda e direita dirigem o mesmo trem colonialista, diz quilombola Antônio Bispo”, é um ótimo exemplo de como o imperialismo, por meio do identitariíssimo e do financiamento de ONGs e movimentos sociais, interfere e de muitas maneiras controla a política.

Uma pequena explicação

Vejamos alguns casos: O IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresas), que tem relações com a Global Americans (NED/CIA), tem dois de seus representantes no governo Lula: Guilherme Boulos e Silvio Almeida. A Open Society Foundation (George Soros) conta com Marina Silva no ministério do Meio Ambiente e a Fundação Ford (CIA) com Sônia Guajajara no Ministério dos Povos Originários. 

Marina Silva, recentemente, atacou a tentativa da Petrobrás de fazer estudos no litoral norte do Brasil, onde se encontra, provavelmente, uma das maiores, se não a maior, reserva mundial de petróleo. Sônia Guajajara, além de ter participado da luta contra a usina de Belo Monte (com financiamento da Fundação Ford) e ter constrangido Lula publicamente durante a campanha eleitoral, também atacou o governo, ao ponto do presidente dizer que não aceitará esse tipo de comportamento.

O identitarismo, a que veio

A matéria apresenta Antônio Bispo dos Santos, ou Nêgo Bispo, que acaba de lançar um livro intitulado “A Terra Dá, a Terra Quer”. Segundo o texto, “o livro desmancha conceitos como ecologia, desenvolvimento e decolonialidade – a contraposição ao pensamento de perspectiva colonialista e eurocêntrica” e que “o autor propõe o que chama de contracolonialismo, que seria a recusa de um povo à colonização”.

Como vimos, temos aqui a essência do que significa o identitarismo, que é uma ideologia que fragmenta uma luta em frações cada vez menores. Se,no início, tínhamos um movimento LGBT, hoje se acrescentaram letras à sigla que não para de crescer. O movimento trans já se choca com o feminismo que, por sua vez, está sendo divido.

Desta vez, nos deparamos com a oposição entre “decolonialidade” e “contracolonialismo”, o que não deve nos espantar, pois, em última análise, para uma identidade, a única legítima será ela própria.

Na primeira pergunta da entrevista, o entrevistador quer saber o porquê de Antônio Bispo se contrapor à ‘decolonialidade’, que usualmente seria mais usado contra a colonização, em vez disso usar “contracolonialismo”.

Em sua resposta, Bispo sustenta que “Só pode ser decolonizado quem foi colonizado. Qualquer pessoa que se sinta colonizada pode lutar para ser um decolonial”. Mas que “decolonialidade é uma teoria, não trajetória. Nunca existiu um movimento decolonial que tenha atuado de forma resolutiva em prol de um povo. O contracolonialismo é diferente. Os quilombos não foram colonizados”. E completa “O povo da academia que se diz progressista e só lê autores europeus, sim, precisa se decolonizar”.

Apesar da confusão, não deixa de ter certa coerência a fala de Antônio Bispo. O ‘decolonialismo’ é mais uma dessas teorias que nascem nos meios acadêmicos e se alastram pelas universidades, editoras e jornais burgueses, como a Folha de São Paulo, que finge se importar com as questões sociais.

Esses teses surgidas nos meios acadêmicos não têm qualquer efeito prático, serve se infiltrar e se instalar na esquerda pequeno-burguesa, onde substituem as lutas reais da classe trabalhadora por debates estéreis e de cunho moralista. Como foi dito “Nunca existiu um movimento decolonial que tenha atuado de forma resolutiva em prol de um povo”.

Racismo

Antônio Bispo prefere usar “colonialismo” a “racismo”, pois para ele o racismo é “apenas um dos elementos colonialistas. Quando se fala em racismo, habitualmente as pessoas pensam na sociedade eurocristã”. Segundo Bispo, “O colonialismo vai além disso. É para todas as vidas existentes”.

Essa última frase não deixa de ter coerência, pois a exploração é indiscriminada. O capitalismo explora a classe trabalhadora de modo geral, e se utiliza do racismo, ou qualquer outra forma de preconceito, como contra as mulheres, por exemplo, para pagar menos e aumentar seus lucros.

Nesse ponto da entrevista, Bispo diz que os ‘contracolonialistas’ não querem matar os colonialistas, apenas querem viver suas vidas. E até fantasia ato dizer que essa foi a atitude de Palmares, que poderia ter destruído o Recife, se o quisesse. Isso está bem fora da realidade, os quilombolas de Palmares não tinham como enfrentar o Estado, 

Pensamento religioso

A entrevista entra em uma seara religiosa, se fala em “cosmofobia”, que seria uma ‘desconexão entre a humanidade e a natureza’. Bispo critica o Gênesis, onde Deus teria ‘humanizado’ e aterrorizado. Que “a Bíblia que cria os seres humanos —e quem está fora dela é selvagem”. Os quilombolas, segundo ele, vivem em harmonia com a natureza.

O entrevistador tenta colocar Bispo em contradição, pois este se diz favorável às tradições, no entanto, é um escritor. Antônio Bispo reconhece e diz muitos deles se alfabetizaram como uma forma de não perderem tudo.

Lula igual a Bolsonaro?

O que notamos na entrevista é que Antônio Bispo é uma pessoa atrasada politicamente, apesar de já ter sido filiado ao PSB e ao PT. Como dizem suas próprias palavras “Tentaram me convencer de que a sociedade era composta por duas classes, a trabalhadora e a patronal. Eu nasci e me criei na roça, numa comunidade quilombola. Como lavrador, nunca fui ou tive patrão”.

A Folha de São Paulo tenta forçar a mão e Bispo diz “O que Lula fez para o povo quilombola? Criou o quê? Qual é o nosso espaço de poder dentro deste governo?”. Mas completa “Pergunto porque é dos amigos que a gente deve cobrar o melhor acolhimento”.

Esta entrevista está dentro de uma série que se chama Quilombos do Brasil. “A série é resultado de uma parceria entre a Folha e a Fundação Ford, que se dedica a programas de erradicação da pobreza e de combate à discriminação racial”.

O uso que a Fundação Ford e a Folha fazem do identitarismo fica muito evidente, querem dar um jeito de igualar Lula a Bolsonaro, esquerda com direita, pois, no final das contas, é só a direita que se beneficia.

Podemos propor um título de livro para a Folha publicar: “A Fundação Ford Dá, a Fundação Ford Quer”, pois ninguém vai acreditar que o governo americano esteja jogando dinheiro fora.

É preciso denunciar o financiamento que a CIA faz de ONGs, pois elas estão a serviço dos interesses do grande capital.

Não podemos achar normal, muito menos devemos aceitar, que a esquerda esteja envolvida e recebendo dinheiro do imperialismo. É preciso combater essa infiltração na esquerda, que só tem prejudicado a luta dos trabalhadores.

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