Em artigo de Hélio Schwartsman, neste dia 20 de fevereiro, a Folha de S. Paulo atacou a campanha de Lula pela entrada permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Para o jornalista burguês, ele, como um “cidadão do mundo”, não gostaria de ver a ONU ser codirigida por um país como o Brasil em razão de ter tido Jair Bolsonaro como presidente.
Primeiramente, é preciso entender que a citação a Bolsonaro se trata de uma roupagem esquerdista para uma política direitista, de alinhamento ao imperialismo. Finalmente, a real razão de o articulista não querer ver o Brasil no Conselho de Segurança da ONU pouco tem a ver com as nossas florestas, com a “instabilidade da democracia” ou com qualquer outra patifaria do gênero.
Na realidade, o motivo real que faz com que a Folha de S. Paulo tenha tanto asco da possibilidade de o Brasil entrar no Conselho de Segurança da ONU – a tal ponto que mandou um garoto de recados para defender sua posição – é o fato de o Brasil ser um país atrasado.
Para o imperialismo norte-americano, é muito negativo mesmo que outros setores do imperialismo tenham independência – veja o caso da Alemanha, em que os Estados Unidos buscam atuar para desindustrializar o país e subordiná-lo politicamente. Um país atrasado, ainda mais uma potência regional, ter essa independência é totalmente inaceitável: se o Brasil fugir dos ditames do capital financeiro internacional, tem a tendência a influenciar toda a América Latina de conjunto.
Além disso, há também o fato de o Brasil ser um aliado geopolítico importante da Rússia e da China – com os quais compõem o BRICS. Os três países são potências regionais e, de tal modo, suas burguesias nacionais entram frequentemente em conflito com a política do imperialismo.
Eis os motivos reais para que Hélio Schwartsman se oponha à busca por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, que, para ele, erroneamente dá o “tom da diplomacia petista”. No entanto, talvez tenhamos de ponderar que essa oposição não se dê enquanto cidadão do mundo, mas precisamente enquanto cidadão da Folha de S. Paulo – e devidamente remunerado para tais fins.
Outro ponto que chama atenção no artigo de Hélio Schwartsman é sua conclusão. Ele antevê uma possível crítica: mas os Estados Unidos também tiveram Donald Trump como presidente, que, aliás, teve “gestos de muito maior alcance”, em suas palavras. E, então, Hélio decide resolutamente mostrar que está sempre a postos para defender os ianques: “O problema é que um sistema de governança global sem os EUA, a maior superpotência do planeta, não vale um dólar furado, enquanto a presença do Brasil é no máximo um opcional”, diz ele.
O que, na realidade, significa tal asseveração é o seguinte: para defender os interesses do imperialismo norte-americano, que o autor chama pelo pseudônimo de “governança global”, a presença dos Estados Unidos é obrigatória. Já a presença do Brasil, que é um país atrasado, que não desenvolveu suas forças produtivas ao ponto de ter uma classe capitalista de tipo imperialista, é um empecilho a este sistema; ele, junto de Rússia e China, levará à frente os interesses de sua burguesia nacional, que, em uma série de questões fundamentais, entram em contradição com o imperialismo. Se tivermos um governo capacho dos Estados Unidos, a presença do Brasil é “opcional”, é acessória; se, no entanto, tivermos um governo que entre em contradição com os grandes senhores do mundo, torna-se um empecilho para sua ditadura.
Portanto, a Folha de S. Paulo e seus funcionários não podem ter outra posição que não a de se opor resolutamente a isso. Eles são contra a mínima independência do Brasil, pois, no melhor dos casos, no máximo, o país será “um opcional”. E, pelas contradições que guarda, sempre é uma pedra no sapato da ditadura do imperialismo; no Conselho de Segurança, abriria novos problemas: eis o medo do articulista.