O arquivamento das acusações contra Dilma Rousseff, mostrando o óbvio, que em 2016 houve um golpe de Estado, está obrigando os lobos golpistas, que têm se passado por cordeirinhos, a mostrarem a cara.
A reação mais interessante é a do monopólio da imprensa. Um dos principais elementos do golpe, essa imprensa, como é o caso da Folha de S. Paulo, da Globo e do Estado de S. Paulo, tenta há alguns anos limpar sua ficha suja. Logicamente que apenas pessoas muito ingênuas poderiam acreditar que essa corja teria, repentinamente, se transformado em democrática. mas sempre há os que acreditam.
A notícia do arquivamento da acusação contra Dilma e as declarações de Lula e do PT obrigaram esse imprensa a voltar no tempo. Todo o cinismo, a mentira, a manipulação, as calúnias que fizeram durante todo o golpe apareceram nos jornais.
A Folha, justamente aquela que a esquerda pequeno-burguesa acredita ser a mais “democrática”, fez um editorial no qual é bem direta: “Não foi golpe”. Eis a pretensão de quem considera ser a dona da verdade e de certo modo é mesmo. A imprensa capitalista é um grande monopólio que detém a “verdade”, que não passa de um amontoado de mentiras e manipulação. E foi assim que ela contribuiu decisivamente para dar o golpe em Dilma Rousseff.
“Pode-se discordar da utilização das manobras orçamentárias da então presidente como razão formal para cassar-lhe o mandato. Também é compreensível a crítica, adotada por esta Folha à época, à banalização do impeachment, uma espécie de bomba atômica institucional, para lidar com as crises políticas recorrentes da República.
Outra coisa, muito diversa e equivocada, é negar legitimidade ao processo e aos atores —o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal— que o conduziram.”
O cinismo é tão grande que o próprio trecho acima, retirado do editorial, mostra que foi, sim, golpe. Segundo a própria Folha, as tais “pedaladas fiscais” não foram o motivo. Segundo o editorial, o impeachment teria sido motivado por “erros políticos e econômicos”. O argumento é cínico porque contradiz toda a campanha da época, que chamava Dilma de criminosa, corrupta, irresponsável. Em nenhum momento a queda de Dilma foi apresentada como uma questão estritamente política, mas a campanha feita pela Folha e demais órgãos de imprensa era a de que a presidenta deveria cair, não por motivos políticos, mas por motivos jurídicos que legitimam e legalizavam a derrubada do governo.
O golpe está justamente no fato de que a burguesia, que controla as instituições do regime, escondeu do povo os reais motivos da queda de Dilma. Falar agora que os motivos eram “econômicos e políticos” é de um cinismo absurdo.
O debate político aberto nunca é a saída da burguesia justamente porque ela não suporta o debate. A política burguesia usa de manobras espúrias, manipulação e do poder sobre o Judiciário, a polícia e as Forças Armadas. E foi baseado nisso que se criou o clima política e se justificou a queda de Dilma Rousseff.
Não apenas foi golpe como é precisa dizer: a Folha é um jornal mentiroso, cínico e golpista. Um jornal responsável pela desgraça do país que teve de aguentar Temer e Bolsonaro.