O clima de otimismo que tomou conta da esquerda nos últimos dias, baseado na expectativa da prisão “iminente” de Bolsonaro e outros “peixes grandes”, em particular os militares direta ou indiretamente vinculados ao 8 de Janeiro, parece não ter os pés fincados na realidade.
O depoimento de Walter Delgatti, o “hacker de Araraquara”, na CPMI do 8 de Janeiro e prisão da cúpula da PMDF pela Polícia Federal geraram, dentro de amplos setores da esquerda, a ilusão de que, finalmente, o bolsonarismo estava próximo de sua derrota definitiva. É comum ouvir da boca ou da pena de tais setores que o destino de Bolsonaro está agora selado, que Moraes vai “prendendo Bolsonaro aos poucos”, que os “indícios” de crimes de Bolsonaro são, na verdade, provas de crimes, que a prisão dos policiais militares é a luz no fim do túnel.
A evolução dos acontecimentos, porém, vai colocando as coisas no seu devido lugar, e as ilusões otimistas que até então pairavam no ar, necessariamente sofrem uma desbarrancada.
Na imprensa burguesa, já é possível notar uma mudança de abordagem na análise da questão. Nesse sábado (19), o jornal golpista Folha de S. Paulo se apressou em asseverar que a Prisão de Bolsonaro só se justificaria sob perigo iminente para investigação, o que não estaria configurado no momento.
Matérias como essa vêm na sequência de outra, publicada nessa sexta (18) pelo direitista O Estado de S. Paulo, segundo a qual Figuras graduadas do Exército citam caso da prisão de integrantes da PM do DF e apontam que há limite a partir do qual seria difícil acalmar oficialato e militares abaixo da linha de comando.
Ainda que em tom de boato, o que o jornal dos Mesquita veicula é que os últimos acontecimentos envolvendo a prisão da cúpula da PMDF, além dos processos contra Mauro Cid e seu pai, um general da reserva, estão causando uma verdadeira fervura dentro dos quartéis. Oficiais, segundo a matéria, falam que a Justiça “está esticando a corda” e que isso tem gerado “instabilidade” dentro das fileiras militares.
Para quem acompanha atentamente a imprensa burguesa, foi visível a mudança de tom quanto à prisão de Bolsonaro. O clima de “Bolsonaro vai ser preso a qualquer momento” cedeu lugar ao clima “ainda é cedo para a prisão de Bolsonaro”.
Não há nada de surpreendente nisso. Este Diário vem alertando há tempos que a caçada contra os “terroristas” do 8 de Janeiro é uma farsa. Perseguindo a ferro e fogo manicures, faxineiras e donos de pizzaria, o Poder Judiciário não se arrisca a centrar fogo nos reais articuladores do evento do início do ano. Ao menor movimento em direção a figuras de mais alta patente, as Forças Armadas não hesitam em fazer chegar a sua mensagem a respeito do “limite a partir do qual seria difícil acalmar oficialato e militares abaixo da linha de comando”.
Ainda é cedo para cravar um prognóstico definitivo, pois as coisas podem mudar, mas a tendência da situação continua sendo a de excluir totalmente o alto oficialato das Forças Armadas da sanha repressiva do Poder Judiciário. As Forças Armadas mandaram um alerta, e o provável é que Alexandre de Moraes e sua turma acompanhem a recomendação.
Quanto à esquerda, mais uma ilusão vai sendo pisoteada pela realidade. O problema do bolsonarismo não será resolvido por processos e sentenças judiciais.