O PCB aderiu de cabeça à campanha da esquerda golpista, se tornou o PSTU 2.0. Inclusive com as reuniões formais entre os morenistas e os stalinistas, se formou um novo bloco, o “PSTB”. Esse setor da esquerda convocou um ato contra o governo Lula sob a reivindicação de ser contra o arcabouço fiscal, ou em suas palavras o “novo teto de gastos”. Para justificar essa mobilização golpista, o PCB publicou um editorial do Jornal O Poder Popular nº 76: “Organizar a luta contra o novo teto de gastos!”
O primeiro e maior erro do PCB, que sustenta a sua política golpista, é considerar um bloco unificado o governo federal, o Congresso e o STF: “A conjuntura no mês de maio mostrou que a classe trabalhadora precisará se organizar e se mobilizar para enfrentar o conjunto de ataques programados pela burguesia brasileira, fortemente representada no Legislativo, Judiciário, governos estaduais e no governo federal.” É uma total incompreensão do caráter do governo Lula. A burguesia brasileira e o imperialismo atuam sabotando abertamente o governo federal principalmente por meio do Congresso e dos monopólios da imprensa. O PCB ignora esse fato.
O artigo então cita o grande inimigo dos trabalhadores atualmente: “Tramitam no Congresso Nacional projetos que visam aprofundar a retirada de direitos de trabalhadores e trabalhadoras (como o chamado Arcabouço Fiscal) e dos povos indígenas (Marco Temporal), além da tentativa de criminalização dos movimentos populares, por meio da CPI do MST.” Sobre o Arcabouço Fiscal se ignora que o plano do Congresso é uma alteração da proposta de Lula, que não era muito radical, mas também não era um grande problema. O grande inimigo no momento é o Congresso Nacional, que trava uma guerra contra Lula e, por consequência, contra os trabalhadores. Mas para o PCB, a culpa inteira é do presidente.
Então o artigo lança a tese absurda do estelionato eleitoral: “Por sua vez, o governo Lula-Alckmin comete um estelionato eleitoral pois, em vez de cumprir a promessa de colocar os pobres no orçamento e os ricos no imposto de renda, propõe um novo teto de gastos para restringir os investimentos públicos e liberar a farra dos especuladores, mantendo a famigerada política de austeridade fiscal, para seguir distribuindo afagos ao sistema financeiro e ao mercado.” De forma maliciosa, o PCB tenta fazer com que Lula, que claramente é contra o teto de gastos, seja responsabilizado pela política do Congresso Nacional, que tem uma pequenina bancada petista.
O artigo então adentra na esquizofrenia: “Nestes quase seis meses de atuação, o governo federal reajustou o salário-mínimo em dezoito reais, retomou a política de reajuste anual com base no crescimento do PIB, isentou do imposto de renda os trabalhadores que recebem até dois salários-mínimos, aprovou a Lei da igualdade salarial entre homens e mulheres e anunciou o fim da política de paridade dos preços de importação pela Petrobras.” Esse é o Lula estelionatário do PCB? Isso porque eles ignoram a política interacional do presidente, a paralisação de todas as privatizações e a tentativa de reestatizar a Eletrobrás.
Os stalinistas então tentam justificar a esquizofrenia: “Tais medidas, desde já insuficientes perante as necessidades da classe, estarão fortemente comprometidas se não vierem acompanhadas de uma política fiscal e tributária que, como diria Lula, coloque o pobre no orçamento. E estarão mais ainda comprometidas se não houver classe trabalhadora organizada e mobilizada para impulsioná-las.” É um enorme malabarismo para tentar pintar Lula de um inimigo dos trabalhadores, de um representante da burguesia. Mas analisando o quadro geral está mais do que claro que Lula tem interesse em derrubar completamente a política econômica neolibral, mas que não tem poder real, pois à exceção do governo federal todo o Estado nacional e o imperialismo estão contra ele.
O editorial apresenta uma série de reivindicações: “Ampliação dos investimentos em educação e saúde pública, por políticas de transferência imediata de renda, reajuste, valorização e desoneração dos salários; Revogação de todas as contrarreformas: trabalhista, previdenciária, Novo Ensino Médio, lei da terceirização irrestrita e Novo Teto de Gastos; Reestatização da Eletrobras, das refinarias de petróleo e da BR distribuidora; não às privatizações;Contra a autonomia do Banco Central e a política de juros altos; Redução da carga horária de trabalho para 30 horas, sem redução de salários; Articular as lutas contra todas as opressões e as lutas ambientais com um projeto anticapitalista, anti-imperialista e internacionalista.”
O mais interessante é que com exceção do “novo teto de gastos”, que é uma forma velada de atacar o governo Lula, as demais “pautas” não estão em oposição ao programa geral do presidente. Elas podem estar colocadas de forma mais radical, mas não estão em oposição ao governo Lula. O PCB, por exemplo, se posiciona de forma mais reformista que Lula na questão ambiental, aderindo às teses do imperialismo. O partido também elogia um setor do ministério muito mais reacionário que o presidente, o bloco identitário. Aumentar a força de Marina Silva, Silvio Almeida, Anielle Franco e Sonia Guajajara, isso sim pode acabar gerando um “estelionato eleitoral”.
E por fim a proposta final do PCB segue a antiga loucura dos morenista do PSTU: “Reafirmamos nossa disposição para construir um grande Encontro Nacional da Classe Trabalhadora, com a participação de todos os sindicatos de trabalhadores do Brasil, dos partidos políticos ligados aos interesses da classe trabalhadora, dos movimentos populares e dos estudantes, fórum indispensável para o processo de reorganização e contraofensiva da classe trabalhadora na luta contra o poder do capital.”
Aqui há duas opções, ou o PCB considera que o PT está ligado aos interesses da classe trabalhadora e, portanto, deveria agir unificadamente. Ou considera que o PT, na verdade, está contra esses interesses. O grande encontro nacional, portanto não teria a participação do PT, da CUT e do MST. Seria o encontro de uma esquerda para agir contra aqueles que são contra os trabalhadores. Nesse sentido seria um bloco unificado não só contra a direita mas também contra o PT, contra o governo Lula.