Uma nova Operação Lava–Jato está sendo arquitetada pelos Estados Unidos.
Conforme denuncia Miguel do Rosário, no órgão de imprensa “O Cafezinho”, documento oficial do governo norte-americano expõe plano de utilizar o Paraguai como “beneficiário” da política do imperialismo de “luta contra a corrupção”. Trata-se do “Plano Integrado Interagência, de Ações Anticorrupção, no Paraguai”.
Afinal, conforme o documento, o Paraguai seria um local de corrupção enraizada, talvez o país mais corrupto da América do Sul. E seria assim, por causa que o legado da ditadura de Alfredo Stroessner ainda permanece contaminando as instituições locais.
Vejamos trechos do documento, em que isto é dito expressamente, embora com outras palavras:
“O Paraguai enfrenta uma corrupção entrincheirada por causa do legado de seu desenvolvimento político e econômico sob o regime do presidente Alfredo Stroessner (1954-1989), durante o qual Stroessner chamou a corrupção de “preço da paz”. A corrupção tornou-se infundida nas estruturas políticas e econômicas do país e continua sendo um componente-chave da política de alto nível no Paraguai
[…]
Como um país a apenas trinta anos da ditadura, o Paraguai só recentemente começou a construir as estruturas para monitorar e expor a corrupção e para fazer cumprir as leis anticorrupção.”
Assim, como bastião da democracia e da honestidade e de tudo o que é puro e belo, os Estados Unidos precisa combater a corrupção no Paraguai, para livrá-lo de todo mal, purificando nossos vizinho. Muito lindo… não fosse a realidade.
A realidade que toda “luta anticorrupção” feita pelos Estados Unidos é uma completa farsa. Afinal, o maior corruptor do mundo é o imperialismo. Afinal, para que a política de rapina dos países oprimidos seja aplicada é imprescindível a corrupção de agentes locais, sejam políticos, burocratas, ativistas etc. E os EUA é o principal país do bloco imperialista. Logo, os Estados Unidos é o país mais corrupto, não tendo absolutamente nenhuma moral para falar e anticorrupção.
Para além disto, foram os ianques que implantaram da ditadura de Stroessner. Então, não possuem moral para falar no legado nocivo do ditador paraguaio.
Sendo assim, o que está por trás dessa demagogia presente no começo do documento? Bem, nem é necessária muita interpretação. Logo em seguida o governo ianque é bem expresso ao expor seus objetivos.
O interesse é barrar a expansão da China no mundo, em especial na América do Sul. Afinal, a expansão do gigante asiático representa um grave problema político e econômico para os EUA.
Por que? Pois, contribui para o desmoronamento da ditadura mundial do imperialismo. Sendo um país atrasado que atingiu um peculiar desenvolvimento industrial, e que acumulou enorme quantidade de capital, aproveitando-se da exportação de capital do imperialismo nas décadas de 90 e 2000, a China precisa dar vazão a esse capital acumulado e aos produtos decorrentes de sua indústria. Por conseguinte, tem a necessidade de penetrar nos mercados internos de outros países oprimidos.
Contudo, como a China é ela mesma um país oprimido, ela não tem condições de impor seu capital por meio da força ou da chantagem econômica, como faz o bloco imperialista, em especial o norte-americano. Ela precisa oferecer condições melhores do que aquelas impostas pelo imperialismo. De forma que a expansão do capital chinês resulta em políticas nacionalistas nos países atrasados, pois os afasta de fazer determinados negócios com o imperialismo. E, políticas nacionalistas resultam e maior independência perante o imperialismo. Logo, o enfraquecimento da ditadura mundial imperialista.
Assim, os EUA têm a necessidade de conter o avanço da China, em especial no continente americano, considerado seu quintal pelos ianques.
Mas por que o Paraguai foi escolhido para sediar a nova Lava Jato, ou seja, uma operação para viabilizar golpes de Estado na América do Sul?
O documento nos dá a resposta:
‘O Paraguai é o único governo da América do Sul que reconhece Taiwan, e não a República Popular da China (RPC). Consequentemente, embora o Paraguai não enfrente atualmente a influência perniciosa das instituições econômicas da RPC, é provável que a RPC volte seus olhos para o Paraguai com vigor renovado após as eleições paraguaias, que foram realizadas em 30 de abril de 2023. A corrupção estratégica pode, portanto, ser uma ameaça emergente e importante para nossa posição mais ampla na América do Sul”.
Ou seja, por ainda reconhecer Taiwan, o Paraguai é visto como o país sul-americano mais distante da China. Na visão dos EUA (ao menos conforme o documento), o mais fácil de ser sua ponta de lança para uma nova onda de perseguições judiciais e golpes de Estado.
O documento nos informa, por trás de toda conversa demagógica e cheia de eufemismos, que um dos principais pretextos para a nova operação “anticorrupção” que os EUA pretendem desatar na América do Sul é o combate à ‘influência perniciosa das instituições econômicas” da China, ou seja, às expansão econômica e política do país asiático.
Para isto, informa que já há países alvos, embora ainda não os especifique:
“Em agosto de 2022, o IPC (Comitê de Políticas Interagências) Anticorrupção, que reúne diversas agências federais, concordou em desenvolver planos de ação anticorrupção integrados, que colocariam em prática objetivos de curto prazo para nossas atividades anticorrupção em países identificados e os meios para alcançá-los. Este plano trata do Paraguai”.
Veja, caro leitor, “países identificados”. Ou seja, a nova Lava – Jato está em estágio avançado de preparação. Caso o plano realmente seja desatado, não tardará.
Tanto é assim que já em 2021 o governo Biden publicou relatório em 2021, mostrando que o imperialismo ianque já trabalha há pelo menos dois anos para criar as condições objetivas para uma nova Lava – Jato.
Vejamos trecho do documento, intitulado “Estratégia dos Estados Unidos para combater a corrupção”:
“Em paralelo, regimes autoritários e seus aliados têm recorrido ao suborno e a outros atos de corrupção para avançar suas metas estratégicas. Eles também exploram o sistema financeiro global para esconder ganhos ilícitos e influenciar eleições e políticas em países democráticos. Esse tipo de corrupção, especialmente quando envolve investimentos internacionais direcionados por estados autoritários, tem um efeito prejudicial sobre as instituições dos países em desenvolvimento. Essas práticas não só distorcem a concorrência nos mercados financeiros, mas também têm impactos duradouros e negativos nos padrões de governança e nos direitos humanos. O governo dos Estados Unidos continuará a investigar como a corrupção é usada como uma “arma”, para entender seus efeitos nos EUA, em outras democracias e em países ao redor do mundo, e para desenvolver estratégias para combater essa ameaça crescente.”
Pois bem, citamos acima que o documento específico referente ao Paraguai, de julho de 2023, diz que países alvos da nova ofensiva golpista dos EUA já foram escolhidos.
Foi igualmente dito que os “meios” também já o foram. A esse respeito, o documento elabora um pouco:
“Apesar da falta de atenção internacional, o Paraguai é um Estado parte de inúmeros tratados internacionais, incluindo a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC) e a Convenção Interamericana contra a Corrupção (IACAC) e participou dos mecanismos de revisão por pares de ambos os tratados. O Paraguai também é membro da Força-Tarefa de Ação Financeira da América Latina (GAFILAT) e da Parceria para Governo Aberto (OGP).
A participação do Paraguai em convenções internacionais é reforçada pelo trabalho contínuo da Missão dos EUA com o governo paraguaio e a sociedade civil para combater a corrupção e fortalecer a transparência. O trabalho atual da Missão dos EUA e as relações estabelecidas com ministérios, universidades, judiciário, Ministério Público, faculdades de direito, associações de advogados do Paraguai fornecem pontos de entrada para linhas adicionais de esforço para promover o Estado de Direito e aumentar a responsabilização. A Missão dos EUA coordena regularmente os esforços anticorrupção. Há um Grupo de Trabalho Anticorrupção interagências do USG que se reúne regularmente para discutir as atividades anticorrupção da Embaixada no âmbito da Estratégia Integrada do País (ICS) e sua implementação. A USAID lidera a Mesa de Doadores para a Democracia e Governança e tem feito isso na última década.”
Judiciário, Ministério Público. Sergio Moro, Deltan Dallagnol.
Qualquer semelhança com a Lava – Jato não é mera coincidência
Ademais disto, o documento também lista o ex-presidente Mario Abdo Benítez como aliado dessa operação golpista. Não é a toa, afinal, durante o seu mandato, Benítez manteve a política de reconhecer Taiwan e não a China. No mesmo sentido, estão colocando esperanças no atual presidente, Santiago Peña, para manter intacta e aprofundar a dominação do imperialismo sobre o país.
E como inimigo interno, ficou o Partido Colorado e seu chefe (outrora também presidente do Paraguai:
“O ex-presidente e atual chefe do dominante Partido Colorado, Horacio Cartes, comanda o que é essencialmente uma máquina partidária, canalizando fundos públicos e apoio a candidatos que apoiarão o partido e garantirão sua capacidade de controlar as alavancas de poder do país”.
E voltamos, então, aos outros países alvos dessa nova Lava – Jato. Novamente, o documento não especifica. Mas alguém pode duvidar que o Brasil será um dos principais alvos? Afinal, o imperialismo por inúmeras vezes se mostrou “descontente” com a aproximação de Lula com Xi Jinping, do Brasil com a China.
Assim, para além da intervenção imperialista por meio das ONGs, a esquerda e os trabalhadores brasileiros, e todos aqueles que realmente defendem uma política nacionalista devem se preparar para mais essa frente através da qual os EUA irá agir para subjugar mais ainda o Brasil.
Os documentos citados podem ser acessados nos links abaixo, os quais foram disponibilizados pelo Cafezinho.
O documento original:
https://drive.google.com/file/d/1QpIT1wt1fGlu0taxkajwU7sNK657qNbU/view?usp=sharing
O documento traduzido (pela equipe do Cafezinho):
https://drive.google.com/file/d/1GBlAxAWagCuZzU7jdRhH5k_MxdjMMcCP/view?usp=sharing