A greve dos estudantes da USP (Universidade de São Paulo) demonstrou um verdadeiro ânimo de revolta na juventude que não se via dentro do movimento estudantil há anos. Por isso, a pressão da burguesia para ela acabar e o movimento voltar a paralisia foi motivo de entusiasmo na imprensa.
Agora, mesmo com um retrocesso na mobilização e a reitoria prometendo atender a uma das reivindicações da greve, o Estado de São Paulo declarou que o movimento não só foi péssimo para os estudantes, como poderá ser ainda pior nos anos seguintes para toda a universidade. Para o grandessíssimo veículo de comunicação imparcial dos tucanos, o melhor seria que os estudantes nunca tivessem feito greve, e que de forma alguma voltem a fazer.
Em uma coluna de ontem, Renata Cafardo, jornalista de educação formada em nada mais nada menos do que em Nova Iorque e gabaritada nas imprensas dos EUA aqui no Brasil: Globo, Estadão, Record, etc, disse que a greve poderia trazer graves consequência para a USP.
“Depois de duas semanas tensas com greve de estudantes na Universidade de São Paulo (USP), há sinais de que os ânimos podem se arrefecer, o que culminaria com o fim do movimento iniciado no dia 20. Mas os efeitos das imagens de piquetes com carteiras empilhadas nas entradas de várias unidades da mais conceituada instituição da América Latina podem durar bem mais.”
“Às vésperas de completar 90 anos, com um quinto da pesquisa produzida no País, é triste constatar que o impacto da USP ainda precisa ser explicado. E que sua imagem e seu financiamento possam ser afetados por tempos turbulentos que não espelham o que é a instituição.”
Os sinais de que o movimento pode terminar por conta de um possível cumprimento de uma das reivindicações da greve é real. Infelizmente as direções do movimento podem acabar com toda a mobilização por conta da contratação de novos professores, entretanto, longe do que explica a jornalista, os piquetes e a greve espelham exatamente o que é a instituição.
A greve não apenas reivindicava a contratação de professores, mas os estudantes gritavam contra o governo de Tarcísio, contra as privatizações, contra o orçamento ridículo para a educação. Cursos estavam ameaçados de extinção na USP, estudantes não conseguem permanecer na universidade por conta do auxílio miserável, e para piorar, em conjunto com a destruição das universidades, o metrô de São Paulo corre risco de ser completamente privatizado e o mesmo acontece na SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Em todas as assembleias e atos organizados batia-se exatamente nesta tecla. Não se trata de uma mobilização simplesmente pela falta de docentes, mas um movimento contra o projeto de destruição do governo de Tarcísio e da direita contra os estudantes e os trabalhadores.
Ainda mais importante, ao contrário do que diz a premiada jornalista, a greve mostrou que a juventude está revoltada com a política da direita e dos golpistas que ainda impera desde o golpe de 2016. Se a situação é assim na USP, imagina-se para o resto da juventude que não consegue ao menos uma escola decente para estudar.
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, concorda com a jornalista e faz o mesmo apelo. Os estudantes não podem se manifestar, fazer greves, fazer piquetes. Isso justamente atrapalharia a universidade de conseguir um maior orçamento com o governador de direita.
Em entrevista para a revista Veja, o reitor, disse que o movimento pode causar prejuízos à imagem da instituição.
“O que nós temos feito nessa greve é explicar o que está acontecendo, reconhecer que a velocidade para a solução das demandas não é a que a gente gostaria, mas que não dá para acelerar muito porque temos que seguir os preceitos legais de contratação. Se as pessoas forem um pouco mais compreensivas e entenderem como o sistema funciona, vai ficar claro que essa greve não é totalmente justa. A greve prejudica muito a imagem da universidade e isso pode causar problemas no futuro quando formos discutir, por exemplo, o financiamento da USP. Acho que é tempo de suspendermos a greve e liberarmos as atividades para voltarmos à normalidade.”
Pelas declarações do reitor e da coluna do Estadão, até parece que os estudantes estão organizando um grande chilique, e que estão fora da realidade ao se mobilizarem. Um trouxa, ou ignorante completo com a história do movimento estudantil, pode até cair na argumentação de que “não é simples contratar professores”, ou de que “fazer greve pode atrapalhar o orçamento”. Entretanto, todas as principais conquistas dos estudantes foram conquistadas com a mobilização. Em outras épocas, uma greve em universidade era tão comum quanto em uma fábrica quando os operários se voltam contra o patrão. Os estudantes não têm poder de decisão algum e para vencer a burocracia precisam se dispor de métodos combativos.
O reitor, para o Estadão, disse ainda que:
“Formamos alunos para serem críticos, mas movimento que usa força não cabe na USP”
Todo aquele que é verdadeiramente crítico, entende que precisa defender suas posições na prática. É preciso sim usar a força contra a força imposta pela burguesia contra as universidades públicas, se não, é mais fácil desistir e criticar coisas abstratas e inúteis para a realidade.
Ao contrário das posições reacionárias apresentas aqui, a greve espelhou exatamente o que deve ser feito. Não, os estudantes e a juventude não podem aceitar que todo o dinheiro destinado à educação esteja na mão de banqueiros. Que apenas um número ínfimo de pessoas possa ingressar na universidade. Que os estudantes não possam decidir nada nas escolas e universidades.
Se alguém acreditar que os estudantes não devem fazer greve por conta de tais argumentos repugnantes do reitor e da imprensa burguesa, esta pessoa precisa de um bom banho de água fria. O que acontece é justamente uma pressão contra a mobilização, contra os estudantes, e finalmente contra toda a classe trabalhadora. A greve deve continuar, e o movimento estudantil deve voltar a ser combativo para enfrentar toda a direita, os golpistas e os infiltrados no governo Lula!