Esquerda filoimperialista

Esquerdistas e seus malabarismos pró-EUA

Posições abertamente contra a Rússia e Cuba são, necessariamente, a favor do imperialismo e, portanto, contra a classe trabalhadora

A revista Movimento publicou texto de Samuel Faber, nascido em Cuba e hoje professor aposentado da City University of New York. A matéria intitulada “A nova presença russa em Cuba”, nada mais é que a repetição do discurso imperialista contra a Rússia.

Logo no primeiro parágrafo lemos a seguinte pérola: “No início deste ano, a Rússia assinou um acordo com o governo cubano, comprometendo-se a aumentar significativamente sua participação na economia cubana. Esse é, sem dúvida, outro esforço de Putin e seus associados para expandir o poder da Rússia, uma potência que perdeu a hegemonia no tabuleiro de xadrez internacional, em parte devido à ascensão da China como um grande rival dos Estados Unidos”

Aqui, nos pomos a pensar: quando a Rússia, um país atrasado, teria sido uma potência e qual hegemonia teria sido essa que perdeu?

O que há, mal disfarçada no parágrafo, é a ideia de que Rússia e China são países imperialistas. A Rússia é um país que vive da venda de commodities; a China até desenvolveu uma economia grande, uma vez que atraiu indústrias do mundo todo com mão de obra farta e barata, mas está há anos-luz de poder ser considerada uma potência hegemônica, tanto quanto o gigante eslavo. Não controlam a OTAN, não controlam os principais mercados, recursos minerais, e muito menos o mercado financeiro internacional.

O artigo de Faber diz que “nas últimas décadas, a Rússia procurou expandir seu poder e influência em países vizinhos, como Chechênia, Geórgia, Belarus, Cazaquistão e Moldávia, e em países mais distantes, como Síria e Líbia. Seus recentes acordos com Cuba talvez sejam um produto da forte resistência da Ucrânia à invasão russa que começou em 2022 e das sanções impostas contra ela pelos EUA e outras potências ocidentais que prejudicaram sua economia”.

Primeiro, temos que dizer que não é crime querer expandir influência por países vizinhos, especialmente quando se está ameaçado pelas verdadeiras potências hegemônicas. Muito diferente do que faz o imperialismo, que se aproxima para saquear as riquezas dos outros. Segundo, sim, as sanções impostas pelos EUA e questão da Ucrânia devem ter mesmo influenciado a decisão da Rússia de se aproximar de Cuba. Porém, há um detalhe, a constatação de que a Rússia sofre sanções, prova que não se trata de uma potência hegemônica. Apenas o imperialismo consegue impor sanções e bloqueios contra outros países.

Outra mostra de que a Rússia é um país atrasado que sofre assédio do imperialismo está logo no terceiro parágrafo: “a invasão da Ucrânia foi extremamente onerosa para a Rússia, com enormes baixas sofridas por suas tropas (…)”. Os russos foram obrigados a invadirem a Ucrânia para se defenderem da expansão da OTAN, que já chegava às suas fronteiras com mísseis que poderiam atingir Moscou em questão de minutos.

O “enfraquecimento” do regime

Samuel Faber também espanca a velha tecla de que Putin e o regime russo estão enfraquecidos, para isso cita o motim provocado por Prigozhin, ex-líder do Batalhão Wagner. Afirma que “ausência de resistência militar significativa ao golpe de Prigozhin pode ser vista como um sintoma do mal-estar entre os oficiais militares russos causado pelos problemas e falhas (…)”. Até onde a vista alcança, não se vê que haja algum tipo de crise na Rússia. Analistas mais sérios afirmam que Putin teria saído fortalecido após saber contornar o motim.

Além da questão militar, outro ponto que cansamos de ver na imprensa imperialista são as “as fraquezas e vulnerabilidades fundamentais de sua economia (da Rússia), mesmo antes da invasão da Ucrânia (…)”. Faber, além de fazer eco a essas concepções, também se ‘esquece’ de mencionar o enorme impacto que as sanções ao gás russo tem provocado na Europa, bem como o aumento de inflação de combustíveis e alimentos. A Alemanha e o Reino Unido estão passando por uma verdadeira turbulência, sem falar na França e países da União Europeia que já contam com inflação de dois dígitos.

É claro que a guerra produzirá efeitos negativos na economia russa. Porém, esconder que se trata de uma guerra por procuração da OTAN para agredir a Rússia é, para dizer o mínimo, uma grande desonestidade.

Se baseando em determinados estudos britânicos, Samuel Faber diz que a Rússia conseguiu driblar algumas dificuldades econômicas ‘à custa de grandes sacrifícios da população, especialmente dos aposentados, e por meio da prevenção de protestos em massa pelo sistema repressivo e autocrático da Rússia. É exatamente esse sistema autocrático”, diz a Chatham House [instituto britânico], “juntamente com a corrupção que o caracteriza e sua intromissão na economia e na sociedade, que é um verdadeiro obstáculo ao investimento privado e à concorrência”’.

No mesmo parágrafo, Faber a seguinte ressalva: “No entanto, a Chatham House tem razão ao afirmar que qualquer tentativa de estabelecer reformas na Rússia como um estado de direito corre o risco de desestabilizar o sistema social e político existente no país. Por essas razões, eles concluem, é improvável que se tente fazer isso”. É curioso que um sujeito que vivem nos Estados Unidos, que têm um decreto como o Ato Patriota, venha falar em estado de direito.

O “estado de direito”, Julian Assange que o diga, é apenas um mecanismo que o imperialismo e a esquerda filoimperialista utilizam para atacar países como Cuba, Venezuela, Nicarágua, Coreia do Norte etc.

Onde está a denúncia?

Faber, ao tratar da questão Rússia-Cuba diz que “não é de surpreender que Putin busque expandir o poder da Rússia no exterior por motivos políticos e econômicos. Cuba é um alvo lógico nesse sentido, dada a história e as relações anteriores da ilha com a URSS e sua proximidade geográfica com os Estados Unidos. Embora o governo cubano esteja passando por uma crise econômica muito séria e precise de qualquer ajuda econômica ou investimento do exterior, ele deve ter em mente que os inúmeros problemas e a instabilidade política que a Rússia potencialmente enfrenta colocam em dúvida a confiabilidade de qualquer programa que pretenda desenvolver em Cuba”.

Como ficou evidente, Faber fugiu de denunciar o bloqueio econômico criminoso que Cuba sofre há seis décadas dos Estados Unidos, país em que vive, e que deixou a economia da Ilha em frangalhos. É esse tipo de conivência, nesse texto que a Revista Movimento reproduz, o quanto vemos o que determinados setores da esquerda, que se dizem marxistas, estão comprometidos com o imperialismo.

O restante da matéria de Samuel Faber, para quem quiser ler na íntegra, e tiver paciência, trata de colocar empecilhos a um possível acordo entre Rússia e Cuba. O autor da matéria, covardemente, põe a culpa da penúria econômica cubana no governo, que acusa de incompetência e imperícia.

O texto de Samuel Faber publicado pela revista Movimento mostra o quão acertado é caracterizar esse tipo de esquerda como filoimperialista.

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